Uma vez que o autor deste intrigante livro, Yuval Noah Harari, é o mesmo que escreveu o estrondoso best-seller Sapiens: uma história da humanidade, publicado em mais de 35 países, não se pode esperar nada menos do que uma estimulante e esclarecedora leitura acerca de um possível futuro da humanidade. O livro foi inicialmente publicado em hebraico, em 2015, pela editora Dvir. Yuval nasceu em 1976, em Israel. Em 2002, recebeu seu título de ph.D. em História pela Universidade de Oxford e, atualmente, leciona no Departamento de História da Universidade Hebraica de Jerusalém. Além de professor, historiador e escritor, o autor é filósofo e apresenta muito interesse na relação entre história e biologia e na existência da justiça na história. Harari se especializou em história mundial, militar e medieval, mas sua afinidade com assuntos macro-históricos o levou a escrever livros como Sapiens: uma breve história da humanidade, Homo Deus: uma breve história do amanhã, 21 lições para o século XXI e, no contexto atual, escreveu o livro Notas sobre a pandemia.
O livro Homo Deus: uma breve história do amanhã apresenta uma capa brochura na cor preta com o título em branco e uma ilustração na cor verde. A leitura conta com 443 páginas, divididas em três partes, cada uma dividida em alguns capítulos. No Brasil, a primeira edição foi lançada em novembro de 2016 pela editora Companhia das Letras. O livro inicia com um capítulo introdutório e intrigante e, a partir dele, a obra é realmente dividida em partes. A Parte I do livro é chamada “O Homo sapiens conquista o mundo”; a Parte II, “o Homo sapiens dá um significado ao mundo”; e a última, Parte III, “O Homo sapiens perde o controle”, num total de 11 capítulos.
O primeiro capítulo, “A nova agenda humana”, retoma algumas características da humanidade que serão decisivas para o nosso futuro, apontando os problemas que já foram superados pelo gênero humano — a fome, as pestes e as guerras — e agora abrem espaço para novas metas: a imortalidade, a felicidade e a divindade. Esses serão os objetivos determinantes para a construção de um futuro incerto descrito por Yuval, baseado em seus estudos e ideias desenvolvidos com muita clareza ao longo do livro.
Nas outras três partes do livro, o autor parte das ideias descritas no primeiro capítulo, relacionando-as com conceitos, fatos históricos e análises críticas, e elabora diversas possibilidades muito plausíveis de um futuro para a espécie humana. Como afirma o autor, as diversas mudanças descritas não serão percebidas em um dia ou um mês e sim daqui a muitos anos; entretanto, já existem, no presente, diversos fatores que acarretarão tais mudanças, corroborando as hipóteses de Harari. Nesta etapa, segundo o autor, a superação de seus antigos problemas e a sede por felicidade, saúde e poder levarão o ser humano a uma modificação de suas características, elevando o Homo sapiens a Homo Deus. Mas tal mudança não ocorrerá de forma homogênea e pacífica, porque, com o avanço da tecnologia, os benefícios da felicidade, do poder e do controle sobre a morte serão totalmente elitizados, uma vez que os únicos com o acesso a esse tipo de tecnologia serão os indivíduos com capital financeiro suficiente para investir. Ainda nesse tópico, Harari destaca as incertezas quanto a essa nova espécie, Homo Deus, já que ela pode ser a destruição do seu próprio criador, o Homo sapiens. Para justificar seu pensamento, o escritor compara esse possível acontecimento com um fato histórico muito marcante, a contribuição da nossa própria espécie para a extinção de espécies do gênero Homo, como o Homo erectus e o Homo neanderthalensis.
Yuval Noah Harari também apresenta suas ideias de forma muito bem escrita e explicativa em relação a muitos outros assuntos que serão determinantes para o futuro dos seres humanos. No decorrer do livro, o autor explica como o conhecimento torna-se a principal fonte de riqueza, e a morte, só um problema técnico que, no futuro, será passível de resolver. Ao tocar nos assuntos de superação da morte e conquista da felicidade, o livro relaciona esses temas — de maneira eficaz e inteligente — com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, explicitando a razão da incansável luta do homem contra a morte. Além disso, há a discussão da forma com que as novas tecnologias de controle e manipulação da própria mente e dos circuitos neurais impactam no livre-arbítrio humano e se esse realmente existe.
Em síntese, a obra Homo Deus: uma breve história do amanhã transmite, muitas vezes, as teorias e as ideias do autor de forma clara e objetiva, mas, ainda sim, faz com que o leitor tenha noção da complexidade dos temas desenvolvidos. Esse livro apresenta grande importância para entendermos os futuros resultados de muitos acontecimentos atuais, como o desenvolvimento de novas biotecnologias, sempre comparando os fatos com acontecimentos históricos do desenvolvimento humano. Ainda, a obra apresenta um caráter de extrema relevância para as discussões acerca do entendimento do presente e do futuro da nossa própria espécie. Mesmo sendo de fácil entendimento, a leitura é densa e requer concentração, visto que muitos dos capítulos são longos e sempre retomam ideias abordadas anteriormente, o que não considero algo ruim, mas, para leitores iniciantes, pode dificultar um pouco a ampla compreensão do livro.
Em acréscimo, seria interessante a leitura prévia do livro Sapiens: uma breve história da humanidade, já que esse apresenta a história do desenvolvimento de nossa espécie até o presente, e o Homo Deus parte do presente e analisa o futuro dos seres humanos. No entanto, é plenamente possível o completo entendimento do livro sem tal leitura prévia. Essa grande obra é indicada a todos aqueles que gostariam de uma compreensão do possível futuro para a espécie humana sob uma leitura que questiona diversos conceitos de nossa atual sociedade, abordando-os de forma crítica e explicativa, na visão de um renomado autor, historiador e filósofo.
Rafael Cardoso de Castro
Estudante do Curso Técnico de Química
da Fundação Liberato
Turma 1423
HARARI, Yuval Noah. Homo Deus: uma breve história do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. 443 p.