Maurits Cornelis Escher (1898-1972) foi artista gráfico holandês, mundialmente famoso por desenvolver trabalhos com efeitos de ilusões de ótica e geometrizações de formas da natureza. O uso da perspectiva, em suas obras, na maioria das vezes, era para representar construções impossíveis, como na figura 01. Entretanto, o tipo de trabalho mais recorrente do artista foram os desenhos esquematizados de animais em forma de mosaicos, figuras 02 e 03. Tinham o propósito de gerar planos simétricos cuja clareza entre figura e fundo se perdia em função do alto contraste das formas nos elementos representados. Os traços das bordas do primeiro elemento completavam o segundo, se encaixavam perfeitamente, constituindo um aspecto de dualidade das formas. Através dessa linguagem, Escher ilustrou livros, tapeçarias, selos e murais.
Então, no verão de 2018, nas minhas férias, eu tive a chance de realizar uma visita à Casa de Escher. Um museu dedicado ao artista na cidade de Haia, na Holanda. Durante a visita, eu fiquei impressionado, não apenas por conhecer a extensão de sua obra e sua história, mas pelo contato com as estratégias de geometrização do artista – o conceito da divisão regular do plano, chamado de ‘ladrilhamento’ ou, mais precisamente, de ladrilho isoédrico, figura 04. Ao ter acesso aos esquemas de construção daquelas fascinantes texturas reproduzidas em litografias e xilogravuras, voltei de viagem decidido em aplicar isso tudo para o contexto da sala de aula.
Na Fundação Liberato, eu ministro uma disciplina de Composição e Estudo da Forma para o Curso Técnico de Design de Interiores. Uma aula de caráter essencialmente prático, em que o foco é desenvolver com os alunos texturas para superfícies voltadas à decoração e construção civil. No caso, artes personalizadas para serem aplicadas em papéis de parede, tecidos para sofás ou cortinas, bem como desenhos para azulejos e ladrilhos hidráulicos. Nesse aspecto, a ementa segue conceitos típicos do Design de Superfície. Ou seja, o esquema de trabalho de Escher se encaixa muito bem à ementa da disciplina.
Para atingir os objetivos, o cronograma do semestre foi dividido em três etapas de seis aulas. Na primeira, são exploradas as estratégias de composição mais tradicionais do Design de Superfície, para instrumentalizar os alunos. Com o uso de lápis, réguas e softwares de ilustração, são desenvolvidas texturas simétricas enquadradas em módulos geométricos voltados às repetições. São abordados encaixes em formas simples, como círculos, retângulos, triângulos e hexágonos. Já a segunda etapa consiste na criação e desenvolvimento de uma textura geométrica e contínua para tecido, na intenção de empregar os conhecimentos anteriores.
Somente no final do semestre, na terceira etapa, quando os alunos estão mais experimentados com a metodologia do Design de Superfície, que é apresentada a tarefa de produzir uma textura nos conceitos de ‘ladrilhamento’ propostos por Escher. Os alunos definem suas temáticas através de um sorteio que define o tipo de figura a ser esquematizada: aves, mamíferos, peixes, répteis, vegetais ou insetos. Nas primeiras aulas, os alunos simplificam a forma do animal a fim de buscar um modelo geométrico que possibilite transformá-lo em textura. Reproduzir os esquemas usando triângulos, pentágonos, hexágonos, quadrados, retângulos e losangos são as soluções de trabalho mais frequentes, conforme as figuras 05 a 07. Nas aulas finais, os alunos redesenham seus trabalhos no computador, a fim de facilitar a reprodução das texturas.
Figuras 05, 06 e 07: Trabalho desenvolvido pela aluna Milena Fontes Koziol.
Curso Técnico de Design de Interiores, 2019/1.
Em 2019/2, esta experiência deve ocorrer pela terceira vez no curso de Design de Interiores. Geralmente, no início do semestre, ao propor os trabalhos, os alunos se sentem bastante desafiados com a proposta, que muitos consideram um resultado ‘impossível de atingir’. Entretanto, a jornada das aulas práticas acaba proporcionando resultados que são motivo de orgulho tanto para o aluno quanto para o professor. Um trabalho que envolve desafio e superação. Um verdadeiro exercício de observação e criatividade. Obrigado pelo presente, Escher!
Bom dia, professor Dennis
Sou professor de um Instituto Federal aqui no Rio de Janeiro chamado Colégio Pedro II. Sempre me interessei pelas obras e construções de Escher e até já propus um curso de extensão sobre o artista. Agora tenho interesse em tentar viabilizar uma discussão de quais ladrilhamentos são factíveis para o plano e gostei bastante de seu relato. Se houver como conversarmos sobre o seu trabalho acredito que nos acrescentaria demais.
Parabéns pela iniciativa de trazer este genial trabalho para suas aulas.
Um abraço,
Diego Nicodemos
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