Uma desgraça proclamada: a humanidade é uma causa perdida. Realmente, sem fim, inútil e sem saída. Diferente? Por que uma vida faria questão de ajudar algo que não é nem uma vida? É como lutar pelo que não é, é como lutar pelo nada. As próximas gerações já nascem condenadas. Realidade infeliz, constatação deprimente, que sentimento mais decadente. Essa declaração nada mais é que um critério infeliz de importância, que impõe a essa instância uma forma substancial de se viver.
Se a causa valesse por si só — mas não vale — a realidade material bateria na porta como quem cobra o aluguel: vivendo ou existindo? Não importa, o preço é o mesmo para ambos. E, se mesmo assim a possibilidade do impossível fosse possível, a materialidade ainda reclamaria da impossibilidade de não ser. Credo, que nojo, que desprezível viver em um mundo onde a esperança não é crível.
Fazer diferente? Isso é humanamente necessário, mas será possível? A diferença é percebida somente na multiplicidade da realidade — e odiamos a multiplicidade e, por consequência, a diferença. Queremos o uno, perfeito e belo. As pessoas se dividem, as guerras acontecem e a humanidade padece. Tudo porque não existe uma unidade, porque a irmandade é uma mentira e o bem é a consequência dela. E ainda perguntam: a vida é bela?