Memórias: Uma entrevista com o ex-professor Cezar Rodrigues da Silva

Banner-cezar-maior2

1) Qual foi o período em que trabalhaste na Fundação Liberato? Durante esse tempo, quais foram as funções exercidas, quais componentes curriculares lecionaste e em quais cursos atuaste como docente?

 Minha atuação profissional na Liberato ocorreu a partir do meu ingresso na Fundação, no dia 22 de março de 1968, e desenvolveu-se em dois períodos distintos, uma vez que, em 3 de junho de 1996, me desliguei da instituição.  Mais tarde, ao prestar novo concurso, em 2002, e ser aprovado, fui novamente admitido, no dia 23 de junho de 2006, e permaneci em atividade até 30 de novembro de 2011, quando fiz, então, meu desligamento definitivo.

Nesses quase 34 anos de atuação na Liberato – 33 anos e 8 meses, para ser mais exato –, sempre exerci minhas atividades na área do ensino. De início, em 1968, atuei na função de auxiliar de ensino no Curso Técnico de Química (CTQ), que é o cargo que tem como atribuições a preparação material das aulas práticas de Química que ocorrem nos laboratórios, na época situados onde hoje funciona o Curso Técnico de Eletrotécnica, e o assessoramento aos professores junto aos alunos nas aulas práticas nesses laboratórios.

Confraternização pelo sexto aniversário da Liberato.

Confraternização pelo sexto aniversário da Liberato.

Anos mais tarde, em 1975, por uma necessidade da escola, foi criado, no plano de carreira da instituição, o cargo de instrutor, que tinha como prerrogativa exercer a regência de classe sob acompanhamento, supervisão e responsabilidade de um professor concursado e para esse fim designado.  Na ocasião, juntamente com alguns colegas auxiliares, fiz o concurso interno para o cargo de instrutor, que me permitiu assumir turmas em aulas de Química nos três cursos já existentes – Química, Mecânica e Eletrotécnica –, e que foram conciliadas com as atividades de auxiliar de ensino que já desempenhava junto às turmas do CTQ.

Entre as várias vocações na área do ensino técnico da Liberato desde a sua criação, talvez a de maior relevância e que justifica a enorme importância que a Fundação adquiriu, ao longo dos anos e até hoje, está no trabalho de formação de técnicos nas áreas de maior demanda pelo mercado industrial e na prestação de serviços à região e ao estado.  Dentro desse espírito, em 1977, foi implantado, na Liberato, o Curso de Auxiliar de Laboratório Petroquímico, com o objetivo de atender às necessidades de mão de obra especializada para o Polo Petroquímico do Sul, situado em Triunfo.  O curso, organizado e conduzido pelo corpo docente do Curso Técnico de Química, ficou ativo até 1980, e as aulas ocorriam à noite e aos sábados pela manhã. Nele, na condição de instrutor, assumi a regência de classe nas disciplinas de Química Orgânica e de Análise Química.

Além de atuar como docente na escola, exerci também as tarefas inerentes às atividades de professor na supervisão do estágio obrigatório dos alunos, atuei como supervisor de estágios, avaliador dos estagiários e chefiei, por vários anos, a comissão de avaliação dos estagiários do CTQ.

Nos últimos cinco anos do meu primeiro período na Fundação (portanto, de 1991 até 1996), designado pela Direção Executiva, exerci a função de coordenador do Curso Técnico de Química, atividade que me deixou extremamente gratificado e que foi executada com a colaboração, empenho e dedicação constantes de todos os colegas da equipe do curso. Em especial, destaco, nesse período, os inestimáveis apoio, interesse e competência demonstrados pelo auxiliar de ensino Daniel Jacobus que, pela sua atuação, oportunizou comigo uma parceria brilhante e fundamental para que o curso pudesse, naquele período, cumprir o seu papel na plena formação dos técnicos e atender aos objetivos dos alunos e às necessidades do mercado de trabalho.

Por fim, e não menos importante, tenho a citar e a destacar a função que exerci na minha segunda passagem na Liberato.  Além da sala de aula, a partir de 2006, tive o prazer e a satisfação de trabalhar mais próximo da Direção Executiva, como diretor de ensino dos cursos noturnos, ao lado dos colegas Celestino Fritzen e Maria Gladionici Pedrazini (Nici), com os quais muito aprendi e que foram incansáveis em me auxiliar nas tarefas e nas responsabilidades demandadas pela complexidade do cargo.

2) Poderias relatar alguma situação muito curiosa ou engraçada vivida em tua vida profissional na Fundação Liberato?

Na época da constituição da Liberato, o Curso Técnico de Química, que foi o primeiro da escola, recebeu uma série de equipamentos para laboratórios – espectrofotômetros, condutivímetros, potenciômetros, polarógrafos, cromatógrafos e outros mais – vindos diretamente do Leste Europeu, principalmente da Polônia. Esses equipamentos foram provenientes de um convênio do Governo Federal, por meio do Ministério da Educação e Cultura, com o governo dos Estados Unidos (convênio MEC/USAID), e foram instalados por técnicos dos fabricantes que deram, na própria Liberato, um treinamento inicial para o uso dos novos instrumentos.

Fruto disso e já com previsão da necessidade futura de manutenção dos aparelhos em função do seu uso com os alunos, em 1972, fui selecionado pela escola para realizar um curso teórico-prático de Eletrônica promovido pelo Cenafor (Centro Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal para a Formação Profissional) em uma unidade do Serviço Social da Indústria (Sesi), em Campinas, São Paulo.

Nesse curso, intitulado Curso de Eletrônica Básica para Eletronometria Química, além de mim, pela Liberato, participaram o professor Roberto Swoboda Filho, professor de Análise Instrumental no CTQ, a quem eu auxiliava diretamente nas aulas práticas, e o auxiliar de ensino do Curso de Eletrotécnica Alexandre Ritzel, que na época, era o responsável pelo setor de manutenção da Fundação.

Bem, nosso deslocamento a Campinas, ida e volta, foi por via terrestre, a bordo do Opala duas portas de propriedade do professor Swoboda, e durou quase dois cansativos dias em cada deslocamento. Nessas viagens, com os três acomodados no “conforto do Opala”, desde o começo e rapidamente, o jeito pessoal de cada passou a se evidenciar de modo bem peculiar.

Desde jovem, eu gostava e ainda gosto muito de Música.  Aí, na viagem, quando faltava assunto e o rádio do carro não “pegava” nenhuma emissora para nos distrair um pouco, o silêncio e até um certo tédio nos envolviam, e eu, para passar o tempo e me distrair, ficava, mentalmente, a cantarolar alguma música (quase sempre Beatles, dos quais eu era e ainda sou fã) e acompanhava, sonoramente, o ritmo da música, a bater ou a batucar com as mãos em alguma coisa e a produzir som no ritmo da música que a minha mente “ouvia”.  Isso se manteve em praticamente todo o percurso que fizemos na ida e na volta, isto é, de Novo Hamburgo a Novo Hamburgo. (A propósito, esse hábito de batucar – ou seria mania? – me acompanha até hoje e, quando acontece, é motivo para aqueles que estão por perto “pegarem no meu pé”, pois não entendem que para mim aquilo é, meramente, um passatempo agradável e estimulante, ainda que possa, eventualmente, incomodar os outros).

Ao retornarmos à Liberato, depois de dez dias afastados para o curso, fomos nós três convidados pelo diretor da Fundação, professor Orlando Razzera, para uma reunião na qual faríamos um relatório verbal da nossa participação em São Paulo.  Tudo certo. No encontro, fizemos, individualmente, uma descrição de como transcorreu o curso e do aproveitamento que tivemos em função dos objetivos propostos pelo proponente, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), e das expectativas projetadas pela Fundação, mas aí… aí o diretor quis saber como transcorreu a nossa viagem. Cada um de nós, ao seu modo e de maneira descontraída, fez uma avaliação conforme o que sentiu e como se comportou durante os deslocamentos.

Quando ao final chegou a vez do Alexandre, ele, até um pouco sem jeito, mas percebi que com as melhores das intenções, falou que tinha me observado durante os deslocamentos e havia ficado preocupado comigo, pois lhe pareceu que eu teria algum tipo de “tique nervoso” em função dos movimentos repetitivos que eu executava com as mãos enquanto viajávamos, e completou, ainda, que achava que poderia ser, inclusive, caso para uma avaliação e para atendimento psicológico, ou até mesmo psiquiátrico, tal a gravidade que o meu comportamento denotava, segundo a interpretação dele. Então, eu, prontamente, esclareci a natureza daquele meu comportamento, disse que era o jeito que eu encontrava para me distrair, sem me dar por conta de que poderia incomodar ou causar preocupação aos meus companheiros de viagem.

No final da história, encerrada a reunião, ficou tudo bem esclarecido. Ainda rimos um pouco com o mal-entendido ocorrido, que não ocasionou qualquer prejuízo ao nosso relacionamento como colegas de trabalho.

O Alexandre, já falecido, era um excelente colega, tranquilo e sossegado; às vezes, até demais. Nunca se viu ele irritado, bravo ou agressivo com ninguém.  Tratava todos com urbanidade e camaradagem.  Inclusive, a calma dele era tanta que, especialmente entre os seus colegas do Curso de Eletrotécnica, lembro que recebeu o apelido carinhoso de Soneca, pois nas reuniões em que participava, quando o ambiente ficava muito pouco agitado e menos estimulante, ele, frequentemente, era flagrado sonolento e, às vezes, até mesmo a tirar um cochilo involuntário, na mais serena paz.

3) Poderias relatar alguma situação muito complicada ou tensa vivida no tempo em que trabalhaste na escola?

 Historicamente, desde a sua criação e até os dias de hoje, a Liberato tem propiciado um ambiente de ensino e de trabalho que privilegiava e privilegia a boa e equilibrada convivência entre todos os atores – funcionários, professores, alunos, pais e familiares dos alunos. Na minha trajetória como servidor – inicialmente, como funcionário e, mais tarde, como professor –, particularmente, não passei por situações delicadas que pudessem ser aqui destacadas, a não ser aquelas mais comuns que os professores enfrentam usualmente, em sala de aula, relativas a comportamentos inadequados de alunos no que diz respeito aos aspectos disciplinares, mas, pela minha memória, nada que seja digno de nota.

No entanto, ao longo da história da Liberato, houve um momento em que os ambientes interno e externo da Fundação foram tremendamente abalados por um fato externo, que fugia ao controle da instituição e que atingiu, indiscriminadamente, toda a comunidade escolar – funcionários, corpos docente e discente, familiares de alunos e todas as comunidades diretamente relacionadas com a Liberato.  Foi na década de 90, quando o Governo do Estado, dentro das ações de um conjunto de medidas que previam uma reforma administrativa de âmbito geral, incluiu, entre elas, a extinção da Fundação Liberato.

A proposta era eliminar a estrutura de fundação que caracteriza a Liberato e, com isso, fazer com que a Escola Liberato passasse a fazer parte da rede estadual de ensino de 2º grau.  Ou seja, a Liberato perderia toda a sua autonomia administrativa que, como fundação, garante as condições de manutenção da qualidade no padrão de ensino técnico conquistado ao longo de várias décadas de atividade.

Essa situação gerou uma vasta e crescente reação dentro da Liberato – alunos, professores, funcionários, Centro de Professores, Grêmio Estudantil, Associação de Pais e Mestres –, bem como em sindicatos, lideranças empresariais e comunitárias de várias regiões do estado.  Como resultado de todo esse forte e bem organizado movimento, simbolicamente, no dia 15 de outubro, data em que é comemorado, no Brasil, o Dia do Professor, a proposta foi votada na Assembleia Legislativa e rejeitada pela ampla maioria dos deputados.

Foi uma vitória da Fundação, mas que provocou grande desgaste interno, muita instabilidade emocional e insegurança pelas consequências que traria na qualidade do trabalho desenvolvido na Liberato e no ensino técnico de excelência prestado pela instituição.

4) Poderias relatar qual foi o momento mais emocionante e marcante em tua trajetória como professor na instituição?

 Antes de responder a isso, como justificativa para a resposta que vem mais adiante, quero destacar que a Liberato faz parte da minha vida desde muito tempo, que remonta a minha adolescência e que a maioria das pessoas que me conhece pode nem imaginar. Vejam que bem antes da escola existir concretamente, entre 1960 e 1963, em plena adolescência, eu já circulava, volta e meia, naquele morro afastado da cidade, no local onde estavam sendo construídas as primeiras estruturas dos prédios da futura escola.  Meus avós maternos moravam no bairro situado atrás do “morro da Liberato” e, na época das férias escolares, eu e meus primos, que aí aproveitávamos as férias, juntamente com alguns amigos, circulávamos pelo local, a brincarmos, nos “esqueletos de concreto” dos futuros prédios, e a nos divertirmos com atividades típicas da época e próprias da nossa idade. Em conversas, meus avós diziam, frequentemente, que “ali vai ser um grande colégio, o maior de Novo Hamburgo”, segundo o entendimento deles, em função dos comentários que circulavam pelo bairro. Eu, na época, nem por longe pensava que, um dia, poderia estar lá dentro, a trabalhar e a construir grande parte da minha vida, como de fato ocorreu.

Além disso, anos mais tarde, em 1966, meus pais souberam pela imprensa que, na Liberato, seria oferecido um curso especial – o Curso Extraordinário de Auxiliar de Laboratório –, entre agosto e dezembro daquele ano, originado de um convênio entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e a Secretaria de Educação da época.

O objetivo desse curso foi o de preparar mão de obra especializada para atuação como auxiliar de laboratório, visando a suprir indústrias de couro e componentes para calçados, borrachas, metalúrgicas e de alimentos, entre outras, que estavam em franco desenvolvimento e necessitavam de profissionais habilitados e capacitados para trabalhar em laboratórios nessas áreas. Ao mesmo tempo, foi também propósito desse curso aproveitar as instalações iniciais dos laboratórios da Liberato que já estavam prontos para o início do Curso Técnico de Química no ano seguinte.

Fui inscrito para o curso, participei integralmente das aulas e conclui com aprovação, fato esse que oportunizou o convite, por parte do diretor da escola, professor Razzera, para que eu fosse lá trabalhar como auxiliar de ensino no ano seguinte, 1967, quando seriam iniciadas as aulas regulares do Curso Técnico de Química, mas como naquele ano eu estaria no cumprimento do serviço militar obrigatório, no meu caso, no quartel do 19° Batalhão de Infantaria Motorizado (Bimtz), em São Leopoldo, o diretor julgou por bem “segurar” a minha vaga de auxiliar para o ingresso em 1968, o que, de fato, ocorreu e desencadeou a minha história dentro da Liberato.

História que inclui a constituição da minha atual família, pois em 1971, constitui matrimônio com a Claudete, que havia sido admitida como funcionária no setor administrativo da Fundação, em 10 de junho daquele mesmo ano em que iniciei por lá minhas atividades.

Assim, depois de todo esse preâmbulo, vem o fato que quero destacar, para atender ao questionamento inicial desse item da entrevista.

Em 1992, nosso filho mais velho, Rafael, tendo cursado a Liberato, formava-se como técnico em Mecânica, título que muito nos orgulha, nos dá muita alegria e satisfação e nos deixa enormemente gratificados, ainda mais ao ver que profissionalmente, desde o início após formado e até hoje, com muita competência e dedicação, ele atua na sua área de formação adquirida na Liberato. Somado a isso, algo que nos gratifica, ainda mais, é poder ver e acompanhar que o seu filho mais novo e nosso neto, João Vítor, ingressou neste ano, na Liberato, para buscar a formação como técnico em Eletrônica.

São duas situações que destaco e que não tem a ver, diretamente, com a minha atuação como professor, mas que valorizo demais, porque ambos, tanto o Rafael quanto o João Vítor, viram, de alguma forma, como uma referência para o seu futuro, a trajetória de trabalho e de vida que eu, juntamente com a Claudete, vivencio, por mais de três décadas, na Liberato.

Equipe da Liberato na reinauguração do campo de futebol da escola, em 20 de setembro de 1980.

Equipe da Liberato na reinauguração do campo de futebol da escola, em 20 de setembro de 1980.

5) Algum colega de trabalho veio a se tornar também um grande amigo? Gostaria de lhe homenagear nesta entrevista, com algumas palavras de reconhecimento e carinho?

Pelas características das atividades desenvolvidas nas instituições de ensino em geral, desde aquelas dos níveis básicos até as de níveis superior, pós-graduação e doutorado, os ambientes de trabalho e de convivência ali existentes, habitualmente, se mostram francamente favoráveis e estimulantes a um relacionamento humano mais próximo, e essa característica é diferente daquilo que ocorre em grande parte das demais instituições e empresas em outros ramos de atuação. Essa é uma percepção pessoal que tenho a partir das vivências profissionais que tive, simultaneamente, na área de ensino de outras instituições e em empresas de cunho industrial, comercial e de serviços durante meu período ativo de trabalho.

Na Liberato, o meu tempo de atividades como servidor foi riquíssimo e vasto em termos de relacionamento humano, e isso diz respeito ao contato direto que tive com colegas professores de diversas áreas do conhecimento, funcionários da área de ensino e de setores burocráticos, alunos, ex-alunos, pais de alunos e familiares, empresários, pessoas das comunidades e líderes comunitários dos municípios com os quais a Liberato mantinha relacionamento próximo.

Levo, de todas essas experiências, e permanecem comigo agradáveis e edificantes lembranças, que ficaram marcadas pelas vivências e ensinamentos que incorporei, à medida em que esses contatos ocorriam dentro e fora dos ambientes de trabalho e de convivência na escola. Agora, já afastado das atividades profissionais, mas, ao mesmo tempo, agradavelmente ligado a elas por meio das lembranças, uma das ocorrências que mais me gratificam e me emocionam hoje em dia é, volta e meia, nas “andanças por aí”, encontrar e reencontrar pessoas daqueles tempos de Liberato que há muito tempo não via.  Quando isso acontece, a alegria em nos reconhecermos traz uma satisfação e uma felicidade indescritíveis e que, conforme o jargão popular, podem ser caracterizadas pela expressão “não tem dinheiro que pague”, mas que se revestem de um valor inestimável. Muitas vezes, e cada vez com mais frequência, esses encontros vêm acompanhados de uma certa demora no reconhecimento de parte a parte, quase sempre porque o anterior e último ocorreu em um tempo que se faz distante, mas aí, com paciência, persistência e perseverança de parte a parte, palavras vão, palavras vêm, a memória começa a desanuviar e a nitidez do reconhecimento passa, pouco a pouco, a se estabelecer e imperar, até completar-se.  Para nossa alegria!

Isso acontece nos encontros eventuais com ex-colegas, ex-funcionários, pais de alunos e ex-alunos, e estes últimos que me trazem, em geral, maior prazer, sem desmerecer em nada a beleza e o valor dos encontros com os demais ex-colegas.

Bem, tudo isso foram voltas e mais voltas para chegar ao cerne do que propõe esse item do questionário da entrevista.  Então, vamos lá!

Muitos ex-colegas, e incluo aqui os ex-alunos, foram para mim importantes no meu longo tempo de Liberato, aos quais e a cada um, em particular, desde já muito agradeço, mas aí, por conta de ter de destacar um em particular, corro um grande risco de cometer alguma injustiça ao omitir, de forma não intencional, um ou outro nome.

Mas, enfim, como a vida é farta em riscos… vamos lá para mais um, embora já adiante que o meu desejo é não decepcionar nem melindrar ninguém!

Então, foi com um desses “ex”, que identificarei logo adiante, com quem o primeiro contato se deu quando era aluno do CTQ e eu estava ainda na função de auxiliar de ensino. O que ocorreu nessa condição foram contatos sem maior aproximação, a não ser aqueles encontros nas aulas práticas de laboratório, nas circunstâncias do processo de ensino-aprendizagem, cada um do seu lado, nada mais próximo, e assim foi até ter concluído o seu curso técnico e deixado a escola.

Anos mais tarde, quando eu já havia, há alguns anos, concluído minha graduação em Farmácia e Bioquímica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e já atuava na Liberato como professor, ele, então, já na condição de ex-aluno, havia obtido a graduação no mesmo curso que o meu e na mesma universidade.  A partir daí, ambos já colegas de profissão, num certo ano em que a memória esconde, para minha agradável surpresa, ele veio a ingressar na Liberato como professor; portanto, passava da condição de ex-aluno para a de colega de trabalho. Na época, assumira na Liberato duas disciplinas da área técnica do curso, mais especificamente Físico-Química e Operações Unitárias, sempre com atuação eficiente, brilhante, muito destacada e de grande relevância para a formação técnica e humana dos alunos do curso.

Nessa nova fase do nosso relacionamento, a aproximação tornou-se maior, evoluiu da condição de colega para uma relação de amizade, tanto no aspecto pessoal quanto familiar, a tal ponto de nos tornarmos compadres, pois, mais adiante, eu e a Claudete fomos escolhidos como padrinhos de batismo de uma das suas quatro filhas, a Carolina.

Bem, a essa altura, com tantas evidências e detalhes, já dá para revelar a quem me refiro, não é mesmo?  Lembro que, desde quando ele era aluno, e eu, auxiliar, nos relatórios dos trabalhos práticos, ele identificava-se como “ARD”, ou seja, a abreviatura para Alceu Renato Dannenhauer, meu dileto amigo e com o qual, há longa data, “trocamos muitas figurinhas”, especialmente no terreno profissional, quando ainda não aposentados e em franca atividade. Dele, Alceu, guardo belas e agradáveis lembranças, sempre dinâmico, empreendedor, muito alegre e bem-disposto.

Nas festas de confraternização na Liberato, assim como nos encontros familiares, com o seu inseparável violão, alegrava a todos com a sua inconfundível voz e o repertório escolhido “a dedo”.

Nossa amizade, surgida, inicialmente, no ambiente escolar da Liberato, um pouco mais tarde ampliou-se ainda mais, quando recomendei o seu nome para atuar como professor de Química no Colégio Marista Pio XII, em Novo Hamburgo, quando eu ainda atuava lá como professor. Mais adiante, em 1996, ficamos ainda mais próximos, quando ele me indicou para atuar, na condição de farmacêutico, como gerente do controle de qualidade do Sibrás Laboratórios, de Novo Hamburgo, onde atuava como gerente industrial.

Na atualidade, por circunstâncias do dinamismo que a vida nos impõe, a aproximação física entre nós não tem sido como na realidade passada. Contudo, a amizade entre nós, que é um laço bonito que não prende, mas embeleza a alma da gente, permanece inabalada, e isso se manifesta, de forma concreta, quando nos reencontramos. Por isso, guardo, na memória, lembranças agradáveis, gratificantes, carinhosas e edificantes, particularmente dos encontros familiares que sempre rendiam uma profusão de emoções e alegres momentos de descontração, quando nós e nossos filhos, em conjunto com a sua família, confraternizávamos na mesma e saudável alegria.

A amizade sincera que, ao longo dos anos, construímos e compartilhamos, eu e o Alceu, está fundada em valores de afeto, de lealdade, de confiança e de respeito que são abençoados por Deus e se constituem naquilo que tem de mais importante no relacionamento humano.

Registro com alunas do CTQ durante apresentação de projeto na Feicit Liberato, em 2007.

Registro com alunas do CTQ durante apresentação de projeto na Feicit Liberato, em 2007.

6) Como se deu seu afastamento da escola? A quais atividades te dedicaste e/ou tens te dedicado na fase pós-Liberato?

 Tal como citei anteriormente, os meus dois afastamentos da Liberato foram provocados por minha iniciativa e interesse, mas os dois casos foram perfeitamente consensuais e administrados harmoniosamente com as direções da época.

Naqueles dois períodos de Liberato, eu já desenvolvia, em outras instituições, trabalhos paralelos.

No meu primeiro período na Liberato, fui professor no Colégio Marista Pio XII, de 1974 a 1987, e exercia também a função de coordenador do Curso de Auxiliar de Laboratório de Análises Químicas.

Naquele ano de 1987, assumi, como farmacêutico, a responsabilidade técnica de unidades da Rede de Farmácias Hamburguesa, e aí permaneci até 2010.

No período de 1979 a 1993, desenvolvi atividades docentes na Universidade Feevale, como professor no Curso de Tecnólogo do Couro e do Calçado e no Curso de Fisioterapia, e atuei como farmacêutico responsável pela qualidade da água das piscinas mantidas pela universidade.

A partir de 1988, passei a trabalhar como professor em cursos de graduação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), e ali permaneci até 2017.

De 1991 a 1999, atuei como farmacêutico e responsável técnico da empresa Rochelle Cosméticos, de São Leopoldo.

Também na função de farmacêutico, trabalhei como gerente do controle de qualidade na empresa Sibrás Laboratórios, em Novo Hamburgo, de 1996 a 1999.

Após meu segundo desligamento da Liberato, em 2011, retornei ao trabalho na Rede de Farmácias Hamburguesa, em 2013, e atuei como farmacêutico até 2022, quando a rede de farmácias teve encerradas as suas atividades. Além disso, por oito anos consecutivos, a partir de 2012, atuei como avaliador externo em bancas de avaliação de projetos da Mostratec, atividade pela qual fiquei extremamente gratificado por participar, ativamente, dessa feira  que fez com que o nome da Liberato  alcançasse projeção internacional.

Na atualidade, na condição de cem por cento aposentado, juntamente com a Claudete, também aposentada, colho os muitos bônus e administro os poucos ônus dessa nova etapa da vida, com a satisfação e a consciência do dever cumprido, embora sabedor de que teria ainda mais a realizar, mas, acima de tudo, grato a Deus por todas as oportunidades que tive para o meu crescimento pessoal, familiar e profissional.

Assim, dentro dessa nova realidade, as questões de ordem familiar e pessoal absorvem a maior parte do meu e do nosso tempo, e incluo aqui as participações como palestrantes em retiros do Movimento de Cursilhos de Cristandade da Diocese de Novo Hamburgo, movimento ao qual estamos vinculados e atuamos desde 1991.

7) Tens alguma mensagem especial para a comunidade escolar Liberato de hoje?

Desde a sua criação até os dias de hoje, a Liberato tem, ao longo do tempo – e lá se vão mais de 57 anos de existência –, consolidado, de maneira crescente, a sua posição como referência no ensino técnico profissionalizante de qualidade, que é oferecido aos jovens dos municípios da região e do estado e é reconhecido em todo o Brasil.

Com um corpo técnico de professores e funcionários altamente qualificados, a escola possui uma estrutura educacional voltada para os desafios do futuro e para a inovação e promove, nos jovens estudantes, um estímulo à pesquisa e ao empreendedorismo, sem deixar de lado a forte formação cultural, os valores humanos e a cidadania, aliados à formação técnica em cada curso específico.

Assim, cabe àqueles que usufruem do ambiente de ensino e de relacionamento humano disponibilizados pela escola aproveitarem, ao máximo, as condições de aprendizado oferecidas para a realização pessoal e profissional e contribuírem, uma vez técnicos formados, para o desenvolvimento social e econômico da região, para uma sociedade mais justa e, enfim, para um mundo melhor.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *