Certa vez, ouvi três velhos irmãos conversarem, lembravam dos seus tempos de glória e sempre terminavam suas histórias com a frase “Ô, tempo bom que não volta mais!”. Os três velhos irmãos, que um dia já foram quatro, recordavam da infância difícil, mas alegre, “Ô, tempo bom que não volta mais!”. O mais novo relembrava as festas e os problemas em que se metiam, sempre com medo da reação dos pais ao retornarem, “Ô, tempo bom que não volta mais!”. Porém, chegou a vida adulta, com a necessidade de trabalhar para se sustentar, para criar os filhos, sem tempo pra nada, até que veio a notícia: um dos irmãos do meio morreu após um pico de estresse no trabalho. Reuniram-se os irmãos, e pairava no ar o sentimento de “Queria ter mais tempo”; porém, aquele tempo bom não volta mais, e os três irmãos seguiram sua rotina. “Não posso parar”, dizia um; “A culpa não foi minha”, retrucava outro. Passaram mais dez anos de afastamento até outra notícia cair: os seus pais haviam falecido, e era necessário fazer a divisão da herança, o que causou brigas entre os irmãos. O mais velho esbravejava: “Nunca mais sequer pensem em mim!”; porém, no fundo, a única coisa que ele pensava era “Ô, tempo bom que não volta mais!”.
Após muitos anos, os netos dos três velhos irmãos realizaram seu reencontro. Os três sentaram juntos e contaram um mar de histórias, regadas a muito riso. Dessa vez, a frase proferida deixou de ser “Ô, tempo bom que não volta mais!”, e a pergunta feita foi “Onde foi parar o nosso tempo?”.