Conheci a Liberato pelos olhos dos alunos

Conheci a Liberato pelos olhos dos alunos. Isso mesmo! Há exatos dez anos, lecionava Língua Portuguesa em turmas de oitava série. Nesse trabalho, fizemos muitas leituras ao longo daquele ano letivo. Num determinado momento do ano, os alunos perguntaram se o livro daquele trimestre poderia ser o da prova de seleção da Liberato. “Liberato?” – eu perguntei – que é Liberato?” Eles me disseram que se tratava de uma escola técnica de ensino médio, muito boa, que fazia uma prova de seleção para quem desejasse nela ingressar. Esse era o sonho de vários deles. A leitura do livro solicitado foi feita, com todos os alunos. Vários fizeram a prova, alguns passaram.

Assim, a Liberato entrou na minha vida, muito de leve, pelo olhar e pelo desejo daqueles alunos, de fazerem parte dessa instituição. Esse foi o primeiro olhar.

Os anos passaram e eis que me deparei com a possibilidade de fazer o concurso para ter a possibilidade de entrar na Liberato, assim como meus ex-alunos. Fiz o concurso no dia dos pais, em 2010, um domingo chuvoso. Havia muita gente na escola! Daquele dia, lembro-me do imenso corredor, apinhado de pessoas, e da sala de aula em que fiz a prova, onde procurava por pessoas conhecidas.

Ao ser chamada e receber a notícia de que trabalharia com os quartos anos, procurei organizar o trabalho da melhor forma possível, visto que o ano letivo já estava em andamento. Um trabalho organizado a partir um texto de Martha Medeiros, permitiu que os alunos fizessem uma retrospectiva de sua entrada na Liberato, procurando apontar como iriam percorrer, na escola, esse último ano. Foi espetacular! Tive a oportunidade de ouvir e ver, pelos muitos depoimentos e fotografias que vieram, muitas lembranças: algumas bem doces, outras mais amargas, mas todas muito intensas.

Assim eu entrei na Liberato, igualmente pelo olhar e pelo desejo de alunos, mas que já faziam parte da instituição. Esse foi o segundo olhar.

Esse trabalho ocorreu nas primeiras semanas em que estive na escola, por isso, foi a partir dos alunos que eu soube da hipotenusa, que o novo estacionamento apagou. A hipotenusa era o apelido de uma linha, marcada no chão pelo constante ‘cortar caminho’ das idas e vindas dos alunos pelo antigo estacionamento. A partir do seu olhar, conheci a gincana, a Mostratec, o Liberarte. Eu soube, a partir daí, que havia um grupo de malabares na escola e que era possível os alunos atuarem, na Mostratec, como recepcionistas.

Quanta vontade senti, ao ouvi-los falar de suas experiências, de sentar no gramado, de jogar a gincana, de ver de perto a Mostratec! Pelos alunos, eu soube que seis é dez, que se aprende a estudar e que as oportunidades não devem ser desperdiçadas. A partir desse olhar – e relatar – percebi a grande oportunidade que estava à minha frente. No final da atividade com as turmas, fiquei com uma sensação parecida com a descrita pelo Legião Urbana: uma espécie de saudade de tudo o que eu ainda não vi, que aqui parafraseio como de tudo o que (ainda) não vivi.

Ver as coisas através do olhar dos alunos contribuiu, nas duas situações aqui relatadas, para que eu, ao considerar essa perspectiva, enriquecesse meus conhecimentos e minhas práticas. Não desmereço, de forma alguma, as reuniões de que participei, os diálogos com os colegas servidores e as leituras que fiz do Projeto Político Pedagógico, da agenda e de outros materiais que me apresentaram a escola. O que quero dizer é que esse contemplar a paisagem a partir da perspectiva dos alunos contribuiu para que eu pudesse ampliar o olhar e considerar outras possibilidades.

Lucrécia Raquel Fuhrmann Professora da Fundação Liberato

Lucrécia Raquel Fuhrmann
Professora da
Fundação Liberato

2 Comments

on “Conheci a Liberato pelos olhos dos alunos
2 Comments on “Conheci a Liberato pelos olhos dos alunos
  1. Muito bom. Não é o projeto político pedagógico, não são as reuniões que muitas vezes são apenas informativas, que fazem a Liberato. São eles, os alunos que em sua grande maioria se esforçam, levam a sério os estudos, que fazem a escola. Apesar de muitas políticas equivocadas adotadas por direções da escola ao longo dos anos.

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