Trabalho com crônicas de Lui­s Fernando Verí­ssimo no 1º ano do Ensino Médio: um relato de experiência

Daiana Campani de Castilhos¹
Liane Filomena Müller²

Neste texto, faremos um relato de um trabalho realizado com seis turmas de primeiros anos dos cursos de Quí­mica e Eletrônica da Fundação Liberato (4111, 4123, 4124, 1111, 1112 e 1123). Durante o primeiro trimestre deste ano, os alunos leram crônicas narrativas do autor Luis Fernando Verí­ssimo, todas elas com personagens e fatos humorí­sticos. Após a leitura, em sala de aula, os alunos precisaram criar uma nova crônica, agrupando, no mí­nimo, trás personagens de crônicas diferentes, preservando as características dadas a eles por Veríssimo.

Trazemos, para nosso leitor, dois textos que foram resultado desse trabalho. O primeiro é do aluno Augusto Diesel Griebler, do curso de Eletrônica, turma 4111; o segundo, de Eduarda Diefenbach, do curso de Quí­mica, turma 1111. Os textos mostram que nossos alunos tiveram um ótimo desempenho nessa tarefa, que proporcionou-nos, além do contato com crônicas desse importante autor gaúcho, oportunidades de desenvolver as habilidades de leitura, interpretação e produção textual de nossos alunos. Eles também demonstraram apropriar-se muito bem das características de uma crônica de humor, articulando bem os personagens escolhidos.

Mulher por engano

Augusto Diesel Griebler

Lírio¹ é um homem de muito azar; sua vida toda foi um engano, a começar pelo seu nome, que era para ser Lauro. Recentemente, ele passou por cirurgia, que era para a retirada do apêndice, mas que foi uma cirurgia de troca de sexo.

” Mas, doutor, como isso aconteceu?

” Bom, isso foi um erro nosso; sua ficha foi trocada com a de outro paciente.

” E agora?

” Se você não se adaptar ao novo estilo de vida, posso fazer uma cirurgia de reversão, mas terá que esperar um tempo até poder fazer outra cirurgia desse tipo.

” Está bem, mas, até lá, o que eu faço?

” Posso te arranjar um lugar na corrida de ouro, no Sí­tio do Ferreirinha², e talvez tu até consigas pegar alguma mulher, o que vai levantar tua moral!

” Pode ser, então!

O sábado, dia da corrida, chegou rápido. Lí­rio já estava em posição para começar a correr, só faltava o sinal da largada. Quando Ferreirinha deu o sinal, a macharada começou a correr, como lobos famintos atrás da presa.

Lí­rio foi vendo, pouco a pouco, as mulheres sendo pegas, sobrando apenas poucas, todas feias, mas não importava: ele focou numa e correu o mais rápido possí­vel. Chegando perto dela, deu um salto, caindo em cima da mulher, que saiu rolando.

” Mas o que é isso, tchê?

Para sua surpresa, a mulher tinha bigodes. Ela chegou muito perto e deu um soco muito forte na cara de Lírio, que caiu no chão e apagou. Mais tarde, já em casa, sentia uma dor insuportável e só lembrava de ter escutado o nome Compadre Clarindo[1] sendo chamado antes de ficar tudo escuro.

Cansado de tudo, foi procurar um analista:

” Senta no pelego, Í­ndio velho e desembucha.

” Sabe o que é, analista, minha vida é um engano, tudo é trocado. Será que o problema é comigo?

” Não te preocupes, o problema não é contigo, é o destino. Volta para casa sossegado.

Em casa, só conseguia pensar na cirurgia de reversão. Ele estava muito ansioso para voltar a ser homem por completo.

No dia esperado, na sala de cirurgia, foi sedado e dormiu. Quando acordou, começou a falar com a enfermeira. Ela disse que a cirurgia tinha sido um sucesso; agora ele também tinha seios.

 

Sí­tio do Ferreirinha

Eduarda Diefenbach

No sí­tio do Ferreirinha, estavam o tio Dedé, que mentia que tinha feito um filme em Hollywood, Paulo, que acabara de se divorciar, uma donzela[2] e João, um homem sedentário e que não fazia nada pela sua saúde.

Os três homens estavam lá para arranjar uma mulher. A donzela, que havia perdido seu anel num riacho, seria a disputada entre eles, que fariam de tudo para conquistar o coração da moça.

Durante três dias, a donzela avaliaria, por meio de provas, a coragem, a beleza e o romantismo de cada um deles. Na prova de coragem, os três marmanjos teriam que capturar uma cobra e trazê-la com vida para ela. O único que cumpriu o objetivo foi João, que levou 2 pontos. Na segunda prova, a jovem faria apenas uma avaliação no fí­sico dos homens, e quem levou 1 ponto foi Paulo.

Já na última prova, a que valia 4 pontos, a donzela ordenou que eles fizessem uma declaração a ela. Apesar de gaguejar e do nervosismo, Dedé acabou ganhando a competição e, como prometido, ganhou também o coração da donzela.

Ao sair do sí­tio com sua nova esposa, Dedé se deparou com Paulo e a ex-mulher. Sem entender o que estava acontecendo, perguntou ao amigo. Descobriu, então, que quem ficasse em terceiro lugar ficaria com a antiga esposa de Paulo. Apesar de tudo, Paulo nunca ficara tão feliz por perder uma competição, pois só assim ficaria com a sua verdadeira donzela


[1] Da crônica “O homem trocado”.
[2] Da crônica “Sí­tio do Ferreirinha”, em que um médico, tentando fazer com que os seus pacientes emagreçam, mente sobre a existência do sí­tio, em que homens correm atrás de mulheres e só os mais atléticos conseguem alcançá-las.
[3] Da obra “Todas as histórias do Analista de Bagé”. Compadre Clarindo passa a se vestir de prenda e usar tranças.
Da cônica “A verdade”. A donzela é mentirosa e, após perder um anel, inventa uma história de que havia sido agredida por bandidos.

 

1.Daiana Campani de Castilhos - 2.Liane Filomena Müller Professoras de Lí­ngua Portuguesa da Fundação Liberato

1.Daiana Campani de Castilhos – 2.Liane Filomena Müller
Professoras de Lí­ngua Portuguesa da Fundação Liberato

 

Augusto Diesel Griebler e Eduarda Giefenbach Alunos dos Cursos Técnicos Eletrotécnica e Quí­mica da Fundação Liberato

Augusto Diesel Griebler e Eduarda Giefenbach
Alunos dos Cursos Técnicos Eletrotécnica e Quí­mica da Fundação Liberato

 

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