Falando o português bem claro!

Da série daqueles que querem o português falado corretamente.

Adoro cinema, chocolate, esporte, teatro, dança, música… Mas, sinceramente falando, amo o português. Pode parecer despropositado da minha parte amar uma língua. Amam-se lugares, pessoas, comidas, viagens… Porém, como Olavo Bilac, tenho verdadeiro e rude amor pela última herdeira do latim. É por meio dela que expressamos sentimentos, conhecimentos, trocamos informações, receitas, cantamos música… E é só com ela que expressamos o sentimento da dor, da distância, da melancolia e da solitude com a palavra SAUDADE. Em inglês, falaríamos “I miss you”; em espanhol, “Te extraño mucho”. Mas em nenhum idioma um “Eu sinto a sua falta” traduz o que é saudade. “É dor que arde sem ver, é tristeza que dói e não se sente?”. Não exatamente.. Nem Camões, nem Mário Quintana ou Chico Buarque saberiam definir o que é, literal e sentimentalmente falando, saudade. E esse que é o maior barato de saber falar uma língua que não é universal, porém que é peculiar e única.

O maior problema de se falar o português, ou melhor, de ser brasileiro e falar português é que a nossa língua parece estar degenerando para o fenecimento assim como o latim, que a originou. Não existe mais “Como você está?” e sim “Como cê tá?”. Daqui uns dias é “Como cê?” e depois ”Como” e depois nada.  É, Saramago tinha razão – estamos a caminho do grunhido. Do jeito que as coisas andam não será nada improvável voltarmos a nos comunicar como na época das cavernas. Essa era digital (para quem não sabe, não gosta ou não tem interesse de dela usufruir) está nos emburrecendo e nos tornando cada dia mais preguiçosos, acomodados e alienados. Poucos têm o hábito de ler o jornal da manhã ou um bom livro no fim da tarde. As desculpas são muitas e de todos os tipos: os afazeres diários, cansaço, falta de tempo. E aí, como dito, vai-se suprimindo o “es” de está ou o “vo” de você. E nossos ouvidos ainda são amiúde atacados com agressões verbais como “pobrema”, “flouxo”, “adevogado”…

Lulu Santos disse que “assaltaram a gramática e sequestraram a fonética”. De acordo. Mas quem são os verdadeiros responsáveis por esses “crimes”? Tudo bem que a educação, a falta de recursos e os regionalismos podem influenciar na maneira de falar, pensar e agir. No entanto, a falta de incentivo à leitura e ao ensino e de campanhas para reeducar a população faz com que fiquemos expostos à vulgarização do vernáculo. Contudo, se eu começar a enumerar os motivos do país ser como é e dos habitantes falarem como falam, corro o risco de descaracterizar o texto e ainda terminar com todas as páginas disponíveis em meu caderno de rascunho. A questão é que não importa se você faz engenharia, biologia, medicina ou cinema, o amor pela sua língua nativa tem que existir e é de cada um a obrigação de propagar e falar direito o português. O intuito desse escrito é conscientizar e driblar aqueles que acreditam que “dibre” só existe no futebol. Não deixemos que a bela “última flor do lacio” fique somente na saudade…

Maisa Silvestre Aluna da UERGS

Maisa Silvestre
Aluna da UERGS

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