O logaritmo de zero

Causou grande “frisson”, na reunião geral da Escola, imagino que em qualquer escola também causaria, e por isso escrevo no geral, o fato de o professor de Eletrônica afirmar que seus alunos de quarto ano não sabiam qual seria o valor de logaritmo de zero. Porém, não causou espanto nem indignação o fato de uma tarde inteira ser usada, nesta mesma reunião, para uma inundação de dados que não seriam usados para nada, embora muitos deles interessantes, por exemplo, aqueles que indicam que as questões de Matemática com maior número de acertos são aquelas que apresentavam alguma aplicabilidade prática. O mesmo ocorre com a disciplina de português utilizada no exame de seleção. As questões ligadas ao uso do raciocínio e não as de memorização são as de maior acerto.

Já se sabe disso há muito tempo, basta verificar os exames de seleção, que são realizados nas escolas. Então, cabe o questionamento: por que perguntar aquilo que eles (os ingressantes) não sabem, em vez de perguntar aquilo que implica raciocínio que indicará, pelo número de acertos, os mais aptos a seguir seus estudos acadêmicos?

Quando o professor faz uma “sondagem de conteúdo”, hoje habilidades e competências, que os alunos ingressantes já deveriam ter, o resultado já é sabido: fracasso completo e total! O espanto denotado é pura hipocrisia. O professor de Eletrônica,este que escreve, já sabe que os alunos (em geral) não teriam a resposta para o valor do logaritmo de zero. Naturalmente, que não há somente problemas com os logaritmos, mas há sérios problemas com a capacitância, indutância, números complexos, História e Português. É interessante, quando o professor discorre sobre campos, elétrico e gravitacional, por exemplo, e há o espanto dos alunos quando é chamada a atenção para o fato de existir algo em comum, inclusive em seu equacionamento (P=m.g e F=q.E, P força peso, F força elétrica, m massa prova, q carga prova, g campo gravitacional, E campo elétrico). Há, também, certo desconforto pelo fato de o professor ousar desenhar a Terra de cabeça para baixo para exemplificar o campo gravitacional que atua nas marés e interage com a Lua, pois o “certo e corrente” é o primeiro mundo na parte “de cima”…

Todos, com raríssimas exceções, que concluíram o ensino secundário (médio), em algum ponto do mesmo já estudaram as funções logarítmicas e exponenciais, entre outras coisas. Façamos uma pequena pausa e, com sinceridade, tentemos nos lembrar do que ficou de útil de todos aqueles anos de estudo…É quase certo que aqueles que não seguiram a área científica não lembram mais nada dessas funções, o que não é lá muito grave; porém, há muitos que seguiram carreiras científicas e não sabem o que essas funções significam e, isso sim, é muito grave. Esqueceram, como se esquece um idioma, quando não é praticado ou, quando ele perde o significado. Esse é um problema comum e ocorre frequentemente em nossas escolas e, dificilmente, uma solução para tal é debatida com honestidade. Quando elas existem, não são aplicadas, por pura inércia e conservadorismo. Em vez disso, são discutidos os eternos planos de estudos que na realidade repetem sempre os mesmos vícios: uma listagem de conteúdos distribuídos ao longo dos anos, lá no primeiro ano, em algum lugar, tal qual em uma prateleira de armazém, encontra-se o produto “logaritmos”, paga-se para ele alguma questão em alguma prova: “qual é o valor do logaritmo de zero”? Você, momentaneamente, foi instruído a responder, mas, logo irá esquecer, pois o assunto não tem nenhum significado e, por isso, você não irá praticá-lo mais.

Certamente, o tema logaritmo chateia os professores de Matemática. Fique claro, que se considera o tema aleatório.   Poderíamos questionar o plano de ensino de Física, por exemplo: por que começar por vetores e não por força? Força é intuitivo da gurizada, é mais adequada à idade deles, etc. Ou ainda, não estará a Geografia, nos estudos de demografia, se desqualificando em não levar em conta que as populações podem variar em número de forma exponencial ou logarítmica? Ou a de que algumas regiões abastadas da Europa têm uma curva, quase uma reta, com inclinação negativa?

Precisamos discutir esses assuntos, pois, em minha visão, é o início do processo do tal falado “ensino integrado”. Não será fácil, pois significa trabalho árduo e mudanças de hábitos e atitudes, mas valerá a pena.

Prof. Irineu Alfredo Ronconi Junior Prof. do Curso Técnico de Eletrônica Fundação Liberato

Prof. Irineu Alfredo Ronconi Junior
Prof. do Curso Técnico de Eletrônica
Fundação Liberato

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