Entediada naquele fim de tarde, depois do desastroso almoço em família e a bagunça para arrumar- afinal, se tem primos na casa, tem bagunça na casa, já dizia minha avó-, resolvi entrar em uma dessas salas de bate-bato. Eu precisava praticar o meu inglês e também acabar com o meu tédio, então por que não?
Entrei em uma sala que anunciava: “Inglês – 18 a 25 anos” e já tive que ir falando tudo sobre mim: idade, nome, e-mail, cidade, fluência no idioma- não sei por que perguntam tantas coisas; tem ficha de bate-papo que já sabe mais de mim do que os meus pais -. A sala parecia legal, com nomes normais e pessoas normais – não sei exatamente o porquê, mas minha mãe sempre conseguiu me fazer acreditar que em salas de bate-papo todas as pessoas que eu encontrasse lá seriam maníacas, querendo me sequestrar; então, confesso que fiquei até um pouco surpresa em encontrar pessoas normais como eu – e não demorou muito para que alguém me enviasse “hello”. No perfil, constava: 22 anos, inglês fluente.
Em pouco tempo, eu tive certeza: tinha encontrado o garoto perfeito. Ele gostava de ler, de jogar xadrez e de ficar em casa – quando que eu encontraria um cara assim? Só podia ser o destino. Trocamos contatos e no outro dia quando entrei em meu e-mail, lá estava uma mensagem dele. Passou-se uma semana e eu sentia como se ele fosse exatamente o que eu estava procurando.
Um dia, então, já não podendo mais conter a curiosidade e para ter a certeza de que eu estava certa quanto a minhas suspeitas, pedi a ele que ligasse a webcam. Ele relutou um pouco, alegando que estava muito cansado e que não havia necessidade, afinal, nos conhecemos sem webcam, por que esses modismos agora? Mas depois de tanta insistência, ele se rendeu.
Tamanha foi minha surpresa quando ele ficou visível para mim. O encantador príncipe de vinte e dois anos não era mais que um velho barrigudo com uma barba nojenta e com um óculos horrível. Eu não sabia o que fazer nem o que dizer – nessas horas, o melhor é não dizer nada e melhor ainda não pensar em nada, afinal, nunca se sabe quanta emoção o coração pode suportar de uma vez só -. Eu estava em choque. Puxei o fio do computador da tomada e corri para a cama.
Não é preciso dizer que não voltei mais lá, afinal, não é todo mundo que gosta de descobrir que seu príncipe encantado não é mais que um lindo sapo barrigudo – e fique sabendo que beijar sapos só é encantador em contos de fadas – nem que “meet new people”, pode ser uma furada no sábado à tarde. Fique ligado, arrumar a bagunça dos seus primos pode ser, em muitos casos, o melhor programa.
Gabriele Caroline Barbosa
Aluna do Curso Técnico de Química,
Fundação Liberato