Meio curvada. Dedos trêmulos aproximam-se da bacia, deslizando na água fria refletida por um raio de luz. Suaves em movimentos. Circulares. Ondulares. Suaves. Trêmulas rugas. Curva. Turva. Disforme. Como quem procura uma clareira, suspira por liberdade. Desce. Evoca o lado mais sutil da sua inocência. Atravessa a névoa. Leve e solta. Mas precisa. É norte, leste, sul, oeste… que importa. Direção? Gira. Avança. Rumo ao núcleo.
Neurose. Fazer muito por todos. Culpada por não fazer mais, culpada por menos fazer. Culpada. Culpa. Assim ela aprendeu. Mãos calejadas do trabalho duro, impacientava-se. Algo sempre estava por fazer. Felicidade seria alcançada um dia? Pura. Mal sabia ela que não dependia das culpas que carregava, porém dos outros que circulavam. Como poderia ser feliz. Nada tinha limite, desde o momento que levantava até o brilho da lua. Solitária. Não podia abandoná-los. Girar. Ainda havia meio, a liberdade alcançar. Rumo ao núcleo.
Desejos. Circularmente oprimida. Sonhos de qualquer menina. Mais opaca se tornava, mais cansada ficava. Família, casa, comida. Derretida pelo tempo. Coração arrancado, dilacerado. Circularmente vermelho, atinge o seu cérebro. Não há como negar, nasceu uma opressão. Deprimida. Era muito. Muito menina moça, para procriar. Sempre ouviu dizer que precisava se casar. Ser diferente não a permitiram. Rumo ao núcleo.
Singular. Esquálida criatura de beleza rara. Retas. Curvas. Subida. Descida. Distância. Uma silhueta. Apaixonada pela vida, tardes inesquecíveis aquelas de domingos, com suas bonecas. Um céu azul iluminava os passos da juventude. Quando de repente, serenamente. Deslizava. Dançava. Rodopiava. Desceu, o mais sublime de todos os amores. Livre para amar. Conhecera ninguém como ele. Estranho que entranha e toma forma. Forma. Respira como que sem limite para extrair todas as potências. Não resiste. É imenso. Seus braços são curtos para suportar tanta distância. Perto, prende a essência. Agarra. Possui. Parece escorregadio, mas é isso que quer. Sentimentos. Nostalgia. Profundeza. As mãos rodopiam, giram, circulam. Rumo ao núcleo.
Nômade. A ganância do pai nunca foi compreendida. Mas livre, andar pelos campos. Brincar. Circular. Não tinha hora, minutos eternos organismos vivos, que arrebentam no silêncio. Primavera. Pueril. Pressa, para quê? O calendário marca os dias em movimentos espirais. Ruptura da inocência. Que brota, que gira. Uma boneca. Sonho de ir à escola. E aprender, a chutar pedras no meio do caminho. Distante. Muito distante. Cruzava campos, matagais. Livre serelepe. Rodopiava, Circulava.
Profundo suspiro. Inclina levemente a cabeça e sorve. Lá, do núcleo da alma…
– O café está pronto!
Elizabete Kuczynski Nunes
Profª da Fundação Liberato