Quando o velho e o novo se encontram

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Forças da natureza vencendo a mais alta tecnologia. Imediatamente, o cérebro racional já faz um comentário bovino: huuuuuuuuum. Foi isso o que aconteceu comigo quando decidi assistir ao filme, escrito e dirigido por James Cameron, Avatar (2009). Dono do maior orçamento já feito para uma única produção, é também o dono da maior bilheteria, batendo o recorde que era de Titanic (1997), do próprio Cameron. Desde seu lançamento, em dezembro de 2009, vem levando milhões de pessoas do mundo inteiro ao cinema, em busca do mundo mágico, selvagem e desconhecido de Pandora, cheio de efeitos especiais, criaturas digitais e ambientes virtuais que encantam nossos olhos, cansados das tragédias reais. O título refere-se aos corpos humano-Na’vo, usados pelos personagens humanos para que possam interagir com os nativos. Foram criados através de modificação genética e são controlados remotamente, configurando-se em um projeto científico arrojado – o Programa Avatar.
Mas enganam-se aqueles que pensam que ficarão livres de situações trágicas. A ficção científica, que alia aventura e ação, tem também um componente dramático, velho conhecido nosso desde os tempos em que os enganados eram os índios.

Como explicar, então, o sucesso de Avatar? Se o argumento é tradicional, isso não importa, pois vem revestido da mais alta produção humana, uma verdadeira transformação – o formato 3D – a grande novidade da tecnologia cinematográfica, que potencializa a ilusão do cinema.  Como se não bastasse isso, ainda apresenta uma moderna temática ecológica, que vem muito ao encontro do pensamento do momento em que vivemos em que a busca da sustentabilidade parece se impor.

A trilha de áudio é assinada por James Horner, o mesmo de “Aliens” e “Titanic”. No elenco, destacam-se Sam Worthington, vivendo o ex-fuzileiro paraplégico, Jake Sully, que entra para o Programa Avatar em busca de recursos para voltar a andar; Sigourney Weaver, na pele da Drª  Grace Augustine, coordenadora dos pesquisadores que criaram o Programa Avatar; Zoë Saldaña como a doce selvagem, Neytiri, uma nativa do clã Omaticaya, par romântico de Jake;  Stephen Lang, interpretando o intrépido e cruel coronel Miles Quaritch, e Giovanni Ribisi no papel de Parker Selfridge, chefe da operação que explora minério em Pandora.

A história, que se passa em 2154, mostra um conflito épico entre os colonizadores humanos e os nativos humanóides, os Na’vi, que habitam o fictício mundo de Pandora. Eles entram em disputa pelos recursos do planeta, já que os humanos pertencem a uma corporativa (RDA) que explora um minério precioso – o Unobtainium – cuja maior reserva encontra-se sob a Casa da Árvore, justamente onde mora o clã Omaticaya, uma das tribos de Pandora. A idéia é dissuadir os nativos a sair do local e, para isso, Jake (Sam Worthigton) é mandado lá para conhecê-los, entrosar-se com eles, fazer com que todos dali confiassem nele, para, depois, como sempre acontece em toda história de qualquer tipo de imperialismo, traí-los. Jake não consegue cumprir sua missão, pois, ao entrar em contato com os Na’vi, através do seu Avatar, entende o quanto aqueles seres de quase 3m de altura, considerados primitivos pelos humanos, estão corretos na condução de suas vidas, pois vivem em harmonia com a natureza, de forma equilibrada e racional. Não bastasse o despertar da consciência, algo mais capturou o enviado – o amor por Neytiri (Zoë Saldaña), a escolhida para lhe servir de guia e condutora no conhecimento da flora, da fauna, dos costumes, das crenças, da língua, da cultura, enfim, do seu planeta.

Resultado: sucumbi. Não tem como não nos sensibilizarmos e nos posicionarmos a favor dos explorados, cujos valores gostaríamos de ver preservados, já que eles têm aquilo que já perdemos – o elo vital que une todos num mesmo espaço, que deve ser democrático e oferecer condições de igualdade para todos.

Se a ficção apresentada for utópica demais, pregando a interconexão com a natureza, estágio que jamais recuperaremos, se é que um dia alcançamos, imperativo é que saibamos criar tecnologia para o bem, para que não precisemos lutar contra ela. Avatar não levou o Oscar de melhor filme da Academia de Hollywood, mas recebeu o prêmio maior: o reconhecimento do público frente a uma produção que veio para ser um marco na história da telona.

Carmem Maria Bica Beltrame Profª. Língua Portuguesa e Literatura da Fundação Liberato

Carmem Maria Bica Beltrame
Profª. Língua Portuguesa e Literatura da Fundação Liberato

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