Emília não entende muito bem como o amor funciona. Ela só quer alguém que chegue e fique. Emília sonha em receber um convidado no seu minúsculo, simples e bagunçado apartamento do prédio amarelo da esquina, no qual ainda há caixas da mudança acumuladas pelos cômodos, mesmo que ela tenha se mudado há três anos. Emília só quer alguém para passar a noite, acordar e passar o dia. E, depois, para ficar por mais uma noite e repetir esse ciclo por vários meses — talvez, até, por anos. A moça quer alguém com quem possa acordar cedo e se sentar na mesinha da cozinha pra comer um pão francês murcho do dia anterior. Emília quer alguém que a avise que ela está usando uma meia azul e outra preta. A guria quer alguém pra abraçar no meio da rua e não dizer nada, mas também quer alguém com quem possa falar por horas a fio sobre tudo e qualquer coisa. Ela quer alguém que a leve na carona da bicicleta até a livraria para comprar mais livros e empilhá-los no canto da sala, ao lado de uma caixa da mudança (que ainda está lá). Emília quer alguém com quem possa dividir risos e angústias. Ela quer alguém que tenha um abraço para chamar de “casa” e quer poder fazer economias com esse alguém para, enfim, comprar um fusca amarelo e viajar até o interior. Essa menina-mulher quer alguém que seja capaz de colocar um pinguinho de tinta de alegria nela, para transformar seus dias cinza numa linda aquarela. Mas, enquanto seu amor não aparece, a garota continua escrevendo sobre seus sonhos e seu fantasioso querer nas folhas daquele caderno verde que ela guarda em cima de uma caixa da mudança, que ainda está lá.
Júlia da Silva Colombo
Aluna do Curso Técnico de Eletrônica
Fundação Liberato
Primeiro lugar
Categoria Crônica
Liberarte 2019