Existem alguns personagens no Brasil que podemos chamar de super-heróis brasileiros. Quando nos referimos aos super-heróis dos quadrinhos, estamos falando de seres fictícios que usam seus superpoderes em prol do interesse da humanidade. Acredito que, no Brasil, existem super-heróis reais, que possuem superpoderes para realizar verdadeiras façanhas, a fim de trazer benefícios, tanto para suas famílias quanto para suas comunidades. Nesta oportunidade, gostaria de lembrar em especial uma categoria de super-heróis brasileiros, personagens da educação que considero de grande importância para o desenvolvimento da ciência e da educação neste país, mas que muitas vezes não são lembrados ou mesmo citados. São eles, os professores orientadores de alunos que realizam projetos de pesquisa no ensino básico. Professores estes, que têm a responsabilidade de realizar a alfabetização científica, apresentando “o fazer ciência”, por meio da metodologia da pesquisa social e científica aos alunos da educação infantil, fundamental e do ensino médio.
A bióloga Carolina Brandão, em seu artigo sobre a importância da alfabetização científica, conclui que as pessoas alfabetizadas cientificamente aprendem a questionar, e o aprendizado se dá pelo questionamento e pela investigação, formando cidadãos conscientes, pessoas críticas com pensamento lógico e que desenvolvem a habilidade de argumentar. Considero que o desenvolvimento de uma pesquisa científica no ensino básico oportunize um aprimoramento e aumento da qualidade na educação como um todo, merecendo destacar o caráter interdisciplinar do processo científico que ocasiona interações entre orientadores e orientandos com outros profissionais de diversas áreas do conhecimento.
No decorrer dos últimos vinte anos, tenho acompanhado grupos de professores orientadores de projetos de alunos do ensino médio e técnico na Fundação Liberato e mais recentemente de professores orientadores de ensino médio, do ensino fundamental e infantil na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia – MOSTRATEC. São professores oriundos de diferentes regiões do Brasil, que vêm desenvolvendo inúmeras ações pedagógicas em suas salas de aula, ou fora delas, trazendo contribuições e inovações, tanto na área científica como educacional. Muitas dessas ações estão associadas às iniciativas desenvolvidas junto aos seus alunos em suas escolas e comunidades e que proporcionam aprendizado, tanto para os estudantes como para eles próprios, professores orientadores- pesquisadores.
Um projeto social ou científico pode ser realizado por um aluno, um grupo de alunos ou até mesmo uma turma. Independentemente do número de componentes ou número de projetos orientados, o papel do professor é essencial no desenvolvimento da pesquisa e no desenvolvimento pessoal do estudante. O professor passará a segurança necessária para seus orientandos durante a realização do projeto científico, assegurando o aprendizado esperado de ciência e pesquisa.
O orientador auxilia na delimitação do tema, estabelece objetivos e prazos o que fará com que os estudantes administrem melhor o tempo, aprendam a dividir tarefas, otimizem os esforços e se utilizem de dados fidedignos, suficientes e adequados para atingir os objetivos e comprovar suas hipóteses.
No processo de metodologias e desenvolvimento de uma pesquisa científica, o aluno, ao constatar um problema a ser pesquisado, poderá apresentar propostas de solução simples ou complexa a serem testadas, que possam vir a ser um desafio tanto para o aluno, como para o professor orientador.
Mesmo assim, o orientador-incentivador não se intimida com a complexidade do tema, não desanima, incentiva o aluno e se une ao pesquisador para procurarem juntos, caminhos para a resolução do problema. O orientador pode vir a deparar-se com temas diferentes de sua realidade profissional e formativa e questionar sobre a viabilidade da execução do projeto, mas esse professor pesquisador terá a humildade de reconhecer que ele não sabe tudo, que ainda é um estudante, e que quer aprender sempre, podendo dividir suas dúvidas com outros, mesmo que seja com seus alunos, sem medo de dizer: “eu também não sei a resposta para essa questão. Vamos descobrir juntos”. Essa atitude mostra que, mesmo em níveis diferentes, ambos ainda estão em formação, e para o professor passa a ser uma oportunidade para aprender, conhecer novas tecnologias, aprimorar seus conhecimentos e técnicas, dando continuidade à sua formação.
Desde o início de todo processo do uso da metodologia científica, desde a escolha do tema até a conclusão do trabalho científico, a figura do professor orientador, pesquisador e incentivador vai possibilitar a vivência de novas experiências pedagógicas, mediada por novos materiais e novas tecnologias e produzindo ambientes propícios ao ensino.
Os alunos e os professores, ao desenvolver pesquisas sociais e científicas, encontram uma ampla possibilidade de auxílio e iniciativas além dos muros escolares, como centros de pesquisa, laboratórios de universidades e empresas. Ao cederem seus espaços, podem também qualificar tanto o nível da pesquisa como produzir o aperfeiçoamento acadêmico, sendo um ganho para a ciência e a educação científica no processo de resolução de problemas que podem ser demandados pelas necessidades locais visando à melhoria da qualidade de vida.
Cabe à escola e à comunidade escolar, seja ela do ensino público ou privado, reverenciar estes profissionais da área de Educação e propiciar a liberdade e as condições que eles necessitam para serem bons orientadores e incentivadores da ciência, e dessa maneira usar a alfabetização científica para qualificar o ensino na educação básica e possibilitar a formação de cidadãos conscientes que poderão futuramente promover mudanças significativas e positivas na realidade em que vivem.
Solange Bianco Borges Romeiro
Coordenadora da 34ª MOSTRATEC
Fundação Liberato