BRINCAR É UMA PRIORIDADE!

 

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Para aquela mãe, a brincadeira sempre foi uma prioridade! A casa vivia cheia de amiguinhos. Sobrava uma pia lotada com montanhas de copos de Nescau, pratos e farelo de bolo para limpar. Mas a mãe resolvia tudo rapidinho e feliz, ouvindo as combinações de quem seria a princesa, o papai, a mamãe ou o monstro.

A casa arrumada em demasia lhe era algo perturbador. Todos os objetos sagrados da infância trancafiados em uma caixa, sufocados, querendo se libertar… Nãããão! Como estaria aquela criança? Isso não seria um bom sinal!

Gostava mesmo era quando os passaportes da fantasia cumpriam seu destino e passavam a deixar seu rastro espalhado pelo chão da casa. Ela respeitava a deriva do navio de caixa de papelão, em que sua filha navegava longe. Sentia o sopro do vento do alazão da menina, feito de cabo de vassoura, cavalgando pelas montanhas da sala e do quarto. Era assim que a doce certeza de que o faz-de-conta morava ali, e que tudo estava no seu caótico e devido lugar.

Mas, às vezes, quando um certo pandemônio tomava conta de tudo excessivamente, e a amazona não conseguia mais fazer suas cruzadas livremente pelos campos e vales, era necessário sinalizar alguma ordem. Como o título do livro “Ordenar para Desordenar” (Luiz Milanesi), a função daquela cobrança era garantir que, a partir de uma nova ordem, o caos pudesse voltar a se exercer e brilhar novamente, nas suas novas e inúmeras significações.

Após a travessia de todos aqueles universos paralelos – quando o sol que esquentou o dia das crianças já se preparava para ir deitar-se – o desafio era a arte de fazer desacelerar aquela algazarra toda. Pinturinhas deitada no chão ao som de caixinha de música e uma mamadeira deliciosa iniciavam o ritual. Um banho bem gostoso e, por fim, ver o desenho favorito na TV.

À hora de deitar, quando tudo parecia ter recobrado sua sosseguidão, a menina tentava reeditar o rebuliço, resistindo ao apagar das luzes para o sono que lhe parecia muito longo e desnecessário. A paciência de uma mãe aos pedaços no fim de uma jornada intensa com essa usina de energia requer suplementação potente. Mas tudo era uma questão de fé, que decerto em algum momento, a criança “desmaiaria” seu corpinho cansado, embalado em um sono feliz. E a mãe também!

Carla Casagrande Bibliotecária Fundação Liberato

Carla Casagrande
Bibliotecária
Fundação Liberato

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