A música sempre esteve presente na minha vida, em todos os momentos. Fui bailarina desde a infância, e minha mãe foi professora de música. A música está relacionada ao sentimento, a nossa memória. Todos temos a música em nós. Qual a sua música favorita? Eu teria problema para responder ao questionamento de Dan, pois tenho várias! Haja espaço neste Ipod…
O documentário premiado Alive inside, de 2014, mostra, em uma hora e dezoito minutos, sob o olhar do cineasta Michael Rosseto-Bennett, o trabalho voluntário do assistente social Dan Cohen, distribuindo Ipods aos idosos com suas músicas preferidas. Esse projeto, através de sua organização sem fins lucrativos ‘Música e Memória’, defendendo o uso da terapia com música para pacientes com demências foi defendido por alguns especialistas renomados, entre eles, o neurologista Oliver Sacks. A música vivifica a memória. Arte vivificante, como dizia o filósofo Kant. Ela transforma. Pode despertar nossas lembranças, combater a perda de memória e ajudar a minimizar essa perda que é significativa em pacientes com demências como o Alzheimer, em que, muitas vezes, os medicamentos não resolvem mais.
Existem, aproximadamente, quase dois milhões de pessoas vivendo em lares de idosos, chamados, de uma forma mais delicada, de casas de repouso. Um milhão de pessoas que residem nessas casas acabam perdendo sua conexão com a vida, que, muitas vezes, foi intensa e encantadora. Muitos desses idosos, metade deles ou mais, sequer recebem alguma visita. Há em torno de cinco milhões de pessoas com alguma demência nos EUA e dez milhões de pessoas passam grande parte da sua vida cuidando delas. Há 16 mil casas de repouso nos EUA e apenas seis mil geriatras. A música pode ser uma alternativa para a mente recuperar o que ficou para trás, capaz de atrair partes do cérebro que outros estímulos são incapazes de fazer.
O documentário viralizou no mesmo ano de sua criação, quando um dos personagens, o senhor Henry, de 94 anos, que passava seus dias muito desanimado, sem praticamente nenhuma expressão, ouviu uma música e a sua reação foi surpreendente. Sua expressão modificou para melhor de forma considerável. Os olhos brilharam, o olhar foi reativado, o sorriso ficou largo, passou a cantarolar e a dançar na própria cadeira. Henry voltou à vida. A música reconectou-o à sua vida. E, assim como ele, vários outros idosos afetados pelas demências encontraram o seu lugar no mundo novamente, pois essas doenças arrancam a vida, as lembranças, e sem receberem visitas, torna-se ainda mais difícil relembrar. Outra personagem no documentário que se destaca é a Denise, relativamente nova para ser moradora de uma casa de repouso, paciente esquizofrênica, bipolar e com câncer. Não largava o andador há dois anos, mas ouvindo sua música favorita começou a dançar, conseguindo se equilibrar sobre as próprias pernas, convidando o Dan para uma dança. Para esses pacientes com demências sempre é dito em sua rotina o que eles devem fazer. Eles perdem muitas coisas. Perdem o controle de suas vidas e, muitas vezes, a dignidade, inclusive. Quando eles começam a escutar músicas, eles ditam as regras, pois vão para onde a mente deles levar e pelo tempo que quiserem, aproveitando esse momento de libertação.
À medida que a estimativa de vida foi aumentando, em 1965, uma nova indústria nasceu com a ideia de cuidar de pessoas idosas em grande escala e como esperado, estava sujeita a ter problemas, como o uso excessivo de drogas antipsicóticas que não foram feitas para serem usadas por idosos. E, assim, já se passaram mais de cinco décadas. Todos temos medo de envelhecer, principalmente, sem saúde. O risco de ter Alzheimer, Parkinson e outras demências, está aumentando exponencialmente. Precisamos ajudá-los a envelhecer de forma saudável, com qualidade de vida. A terapia musical traz a vida de volta para eles através dessa simples experiência: ouvir música! Atualmente, 650 lares dos EUA oferecem essa terapia musical para os seus pacientes. No Brasil, ela ainda não é tão difundida, mas existe.