Desde pequena, eu tinha certeza de que gostaria de estudar fora do país. Cresci assistindo a filmes e séries que relatam a vida universitária lá fora e, quando conversava com estudantes do Brasil, percebia que havia uma grande diferença na experiência, especialmente quanto à integração da vida do estudante e a universidade, seja nas residências universitárias, nos numerosos clubes dos estudantes ou até nas festas. Também me incomodava a falta de diversidade de escolhas em relação aos cursos. Na época, eu não sabia o que eu queria estudar e, ao me deparar com as opções das universidades próximas, não me enxergava nessas possíveis profissões.
Quanto à minha escolha, eu sempre amei ler. Livros como Jogos Vorazes e Divergente apresentavam jovens, especialmente meninas, incitando revoluções, pois achavam que a forma como os líderes governavam não era justa para todos. Eu queria ser como essas personagens, lutando para levar o mundo a um lugar melhor. Acho que a Geração Z, à qual pertenço, preocupa-se muito mais com o que está por vir e com as grandes injustiças que as gerações passadas deixaram como legado. A Ciência Política me abre esse caminho, uma possibilidade de mudar as coisas de dentro para fora.
Em 2017, fui a uma feira que reunia universidades estrangeiras, onde elas apresentavam propostas e seu método de estudo para estudantes estrangeiros. Ali encontrei a Campus France, que é a agência governamental francesa responsável pela promoção do ensino superior, o acolhimento e a mobilidade internacional. Após participar dessa palestra, na qual eles expuseram os benefícios de estudar em uma universidade francesa, como diploma válido em múltiplos países, anuidade baixa, entrada certa no mercado de trabalho etc., e pesquisar sobre a tradição de centenas de anos da França com a Ciência Política, eu decidi que era lá que eu gostaria de estudar.
O processo de inscrição com a Campus France é bem simples. Eles possuem um site no qual citam tudo que é necessário para a formação do seu dossiê, além de oferecer consultoria gratuita via Skype durante esse período. Apesar de o processo ser simples, a documentação é extensa e deve ser feita com cuidado e antecedência, pois os prazos são curtos. Para entrar no L1, que seria o primeiro ano da graduação de uma universidade, o primeiro passo é definir seu projeto de estudos. Pode-se escolher três universidades, na mesma área de estudos. Para aplicar, deve-se escrever cartas de motivação, em francês, para essas universidades e também enviar cartas de recomendação de professores, demonstrando o porquê de o estudante ser uma boa adição à universidade. Outra necessidade é um teste de proficiência na língua francesa. A maioria das universidades exige no mínimo o intermediário avançado (B2) na prova, que pode ser o DELF, Diplôme d’Études en Langue Française (Diploma de Estudos em Língua Francesa), ou o TCF, Test de Connaissance du Français (Teste de Conhecimento do Francês).
Além disso, é preciso obter aprovação em um vestibular aprovado pelo MEC aqui no Brasil, e eu passei em Políticas Públicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Também é necessário enviar diversos documentos, como passaporte, certificado de conclusão de curso e histórico escolar do Ensino Médio, currículo, diplomas e certificados relevantes para o processo seletivo. Todos os documentos devem acompanhar tradução juramentada para o francês.
Eu escolhi essa universidade pelo currículo interdisciplinar e pela vida dos estudantes no campus. Avignon é uma cidade medieval no sul da França, a aproximadamente 700 km de Paris, que oferece alta qualidade de vida, assim como educação de qualidade e integração aos estudantes estrangeiros. A Universidade de Avignon é uma das universidades mais antigas da França. Criada em 1303, durante a instalação dos Papas em Avignon pelo Papa Bonifácio VIII, estudantes se reuniam ali para estudar Direito. Durante a Revolução Francesa, a universidade foi abolida e renasceu apenas em 1964. Hoje possui dois campi, o Hannah Arendt e o Jean-Henri Fabre. Com o lema “Não espere pelo futuro, faça-o”, a universidade oferece uma formação sólida e adaptável com o objetivo de forjar talentos, apoiar os graduandos e formar profissionais completos.
Apesar de a Liberato ser uma escola técnica e ter me oferecido uma formação em química, foi ali dentro que as oportunidades surgiram: desde os professores das matérias gerais, que sempre me apoiaram nessa jornada, até as olimpíadas, os cursos e os certificados que eram incentivados. Também as participações na Mostratec, conhecendo estudantes e projetos de fora do país, experiências com voluntariado e atividades extracurriculares. Foi uma formação global, em que percebi uma vocação diferente que a de química. Deixo como recado para os estudantes que aproveitem essas oportunidades e participem de tudo o que der, pois experiências assim são difíceis de encontrar.
Jade Garcia Lanius, ex-aluna do Curso Técnico de Químia da Fundação Liberato