Fui professor de Física durante um bom tempo, talvez uns vinte anos.
Nossa bibliotecária foi minha aluna de Física no Colégio Batista, e um professor (agora doutor) de Matemática, se não foi meu aluno, passou pelo Laboratório de Física que pus em funcionamento no Colégio Farroupilha. Foi lá, nessa escola, que aconteceu.
Foi assim:
A mantenedora do Colégio Farroupilha chama-se ABE (Associação Beneficente Educacional), de 1858, anteriormente chamada de Deutscher Hilfsverein (Sociedade Beneficente Alemã), criada em 1824. Seu objetivo era o de dar assistência em saúde e educação aos imigrantes alemães. Dela surgiram o Hospital Moinhos de Vento e o Colégio Farroupilha. Essa ligação com a República Federal da Alemanha foi de longa duração (talvez ainda continue), e os equipamentos do Laboratório de Física vieram, naturalmente, da Alemanha (creio que por doação).
Os excelentes equipamentos da marca PHYWE (https://www.phywe.de/physik/) estavam lá, praticamente intactos.
Comecei a organizar. Verifiquei que tinha um relógio eletromecânico para a determinação da aceleração da gravidade local. Ele funcionava da seguinte forma: um eletroímã segurava, a uma altura de um metro, uma pequena esfera de aço. No momento em que o relógio era acionado, o eletroímã era desligado, e a esfera era solta, iniciando uma queda livre de um metro. Ao chegar nessa posição, a esfera batia em uma chave, desligando então o relógio. A aceleração “g” poderia ser calculada pela equação:
É a equação de Galileu, supondo que a velocidade e a posição inicial são zero. A altura h = 1m, o tempo era dado pelo relógio. Fazia uma tabela com várias medições para ver o erro, o desvio e fazer a média. Era tudo muito preciso. Mas tinha um problema: o relógio era alemão! Era eletromecânico, portanto, tinha um motor cuja frequência da rede elétrica determinava o “tamanho” dos segundos, minutos e etc. Na Alemanha, essa frequência é de 50Hz; aqui no Brasil, 60Hz. Isso significa “tamanhos diferentes”!
Não poderia desprezar aquele relógio e muito menos o experimento para a determinação de “g”. Ao mesmo tempo, não poderia entrar em confusões “didático-pedagógicas” fazendo as devidas relações matemáticas para a correção do tempo!
Foi então que tive a ideia de FALSIFICAR O METRO, isto é, criei uma régua adequada para dar os resultados esperados (os tamanhos são bem próximos, tente determinar o comprimento de uma e outra), para as medições de tempo, por um relógio construído para funcionar em 50Hz, mas usado em 60Hz.
Não contava aos alunos e alunas a “trapaça pedagógica” feita. O resultado médio ficava em 9,8m/s2, com cálculo de erro, desvio e etc e tal.
Todos acreditavam em “g”…..