A pérola que rompeu a concha

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HASHIMI, Nadia. A pérola que rompeu a concha. São Paulo: Editora Arqueiro, 2017.

O impactante livro A pérola que rompeu a concha foi escrito por Nadia Hashimi e publicado pela primeira vez em 2014, através da editora William Morrow, na cidade de Nova York (EUA). Filha de afegãos, Hashimi nasceu em 12 de dezembro de 1977, nos Estados Unidos, onde cresceu rodeada por uma numerosa família, ligada às suas origens e interessada em ciência. A escritora se formou em Estudos do Oriente Médio e Biologia pela Brandeis University, concluiu o curso de Medicina pela Suny Downstate University e se especializou em Pediatria na New York University e nos Bellevue Hospitals. Indo além de sua carreira médica, em 2003, Nadia começou a escrever sobre suas raízes, após visitar o Afeganistão pela primeira vez com os pais. Essa inspiração originou publicações traduzidas em 17 idiomas, como Lua no céu de Cabul (cuja primeira publicação foi feita em 2015) e A pérola que rompeu a concha.

Chegada ao Brasil pela Editora Arqueiro três anos após sua primeira publicação no exterior, a obra A pérola que rompeu a concha apresenta uma capa colorida, em tons de laranja, vermelho, verde e azul, com a imagem de uma mulher e uma menina de mãos dadas, ambas vestindo hijab e caminhando em uma paisagem a céu aberto. O livro tem 448 páginas divididas em 69 capítulos, que narram, de forma intercalada, sobre duas personagens: Rahima (ou Rahim) e Shekiba (ou Shekib).

Nadia Hashimi conta a história ficcional, mas baseada na realidade, de uma menina chamada Rahima, que mora no Afeganistão e passa por todas as dificuldades de uma família afegã simples vivendo no final do século XX sob o regime do Talibã. Com uma mãe exausta, um pai viciado em ópio e quatro irmãs, a melhor oportunidade para uma menina nessas circunstâncias seria se tornar bacha posh: uma garota que se veste e age como um garoto até chegar à puberdade. E é assim que Rahima passa a ser chamada de Rahim, para ajudar a família, frequentar a escola e ter o direito de ir e vir livremente.

Por motivos muito semelhantes a Rahima, muitos anos antes, sua trisavó Shekiba passou pelo processo de se tornar bacha posh também. Tendo sido a única sobrevivente entre seus pais e irmãos após uma epidemia de cólera, Shekiba, com seu corpo musculoso e curvado após anos de trabalho duro no campo, teve que buscar forças para fingir ser alguém que não era. Como mulher, foi tratada com nada mais do que desprezo e desrespeito, enquanto agir como homem abriu-lhe portas. No entanto, mesmo como Shekib, suas dificuldades em se encaixar, seu sofrimento interno e sua luta pela busca de quem ela realmente era a mantinham ligada à sua vida como mulher.

Ao longo dos capítulos, a brilhante autora escreve sobre a vida da trisavó e da trineta. Ao chegar à puberdade, Rahim passa a ter um corpo com formas indiscutivelmente femininas, volta a ser Rahima e é vendida a um homem com mais do que o triplo da sua idade para ser a quarta esposa dele. E, paralelamente a isso, o leitor acompanha todos os altos e baixos que existiram na vida de Shekiba, quatro gerações antes.

Conhecer a vida dessas duas mulheres, personagens tão bravas, é um presente. Nadia constrói uma narrativa muito envolvente, mostrando o sofrimento das vidas das personagens afegãs de maneira muito sensível. É impossível não se comover com suas histórias, vendo o caminho que Rahima tem que aprender a trilhar sozinha, ainda tão nova, e a árdua tentativa de se manter forte de Shekiba, guerreando contra o mundo e, também, contra seus pensamentos.

A leitura de A pérola que rompeu a concha aproxima o leitor de Rahima, de Shekiba e da cultura e história do Afeganistão de um modo único, fazendo-o viver o drama das vidas das duas parentes que, mesmo a quatro gerações de distância, compartilham de angústias muito semelhantes. O livro trata de temas muito sensíveis, como violência doméstica e casamento infantil, mas também é muito inspirador, conscientizador e impactante. Essa obra é indicada a todos que se interessarem pela linda escrita de Nadia Hashimi, que emociona ao mostrar, através das personagens, o fardo de viver sob um regime que viola diversos direitos, principalmente das mulheres.

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Júlia da Silva Colombo
Estudante do Curso Técnico de Eletrônica Fundação Liberato

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