O FOTÓGRAFO DE MAUTHAUSEN

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A história de Francisco Boix e de seus companheiros de campo de concentração foi contada em um longa-metragem de 2018 com o título O fotógrafo de Mauthausen. A produção espanhola, chamada originalmente de El fotógrafo de Mauthausen, foi dirigida por Mar Targarona, que nasceu na Espanha, em 30 de março de 1953, e trabalhou como diretora, roteirista, produtora e atriz em uma dúzia de filmes e em uma série de TV. Grande parte de suas obras são filmes de suspense, terror e drama, sendo Dos (2021) e Secuestro (2016) dois de seus trabalhos mais recentes de suspense. O filme se encaixa em um dos gêneros preferidos de Targarona, drama, e também em biografia e história. O fotógrafo de Mauthausen está disponível na Netflix e conta com a presença de Mario Casas, que tem feito grande sucesso em uma série da mesma plataforma (El Inocente) e nas redes sociais, com 6,7 milhões de seguidores no Instagram. No elenco, predominantemente masculino, estão também Richard van Weyden, Eduard Buch e Adrià Salazar. O filme já foi bem criticado e recebeu quatro prêmios no Gaudi Award de 2019: Melhor Diretor de Produção, Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte e Melhor Maquiagem.

Assistindo à produção, acompanhamos Francisco Boix, um ex-soldado que lutou na Guerra Civil Espanhola e que acabou por ser preso no campo de Mauthausen durante a Segunda Guerra Mundial. Querendo sobreviver aos horrores, conseguimos ver Francisco trabalhar como fotógrafo do diretor do campo, realizando inúmeros registros das atrocidades ali cometidas. Vimos Boix traçar relações com os inúmeros prisioneiros presentes no local, o dia a dia que eram obrigados a enfrentar e sem ter nenhuma perspectiva de libertação. O rumo da história mudou quando, juntamente com seus companheiros, o fotógrafo descobriu que a batalha de Stalingrado havia sido ganha pelos soviéticos. A partir disso, ao invés de se livrar dos registros fotográficos nefastos como lhe fora ordenado, Francisco tomou a decisão de guardar e escondê-los. Sob a constante possibilidade de ser pego, ele e outros prisioneiros formaram uma grande organização, uma gama de planos a fim de não deixarem documentos tão valiosos se perderem e a perversidade de Mauthausen passar despercebida. No decorrer do filme, vimos suas batalhas, tanto internas quanto externas, e, por fim, vitória, ao serem finalmente libertos do campo por tropas americanas, com os filmes fotográficos intactos em seus esconderijos.

Logo nos primeiros minutos de filme, observamos a utilização de cores frias, deprimentes, ressaltando o ambiente de guerra, o cansaço e a tristeza dos prisioneiros. Já de imediato, percebemos que não se tratava de uma trama alegre ou romantizada. Assim como as cores, a trilha sonora reforçou a melancolia existente na história, tendo sido feito o uso, majoritariamente, de músicas clássicas e lentas. Sendo fiel aos fatos históricos, as cenas iniciais apresentaram os prisioneiros se desfazendo de seus pertences na chegada ao campo, deixando as suas antigas vidas para trás. Outros objetos que chamaram a atenção, sendo importantes para o desenvolvimento da história, foram a câmera e os filmes fotográficos (os chamados negativos). Não podemos deixar de mencionar a caracterização dos personagens: os prisioneiros, com sentimentos verídicos, foram representados com rostos cansados, olheiras, os dentes amarelados e vestindo roupas esfarrapadas, sempre estando visível em sua expressão corporal o medo constante em que viviam. Por outro lado, os oficiais estavam sempre em seus trajes pomposos, esbanjando superioridade. A mudança radical aconteceu nas cenas finais, quando, após estarem livres, os ex-prisioneiros apareceram muito mais leves e alegres, com cenas fazendo uso de cores quentes, representando a vivacidade do momento.

Como um bom filme baseado em fatos reais, O fotógrafo de Mauthausen é expositivo e não fantasioso. Ou seja, as vidas dos prisioneiros foram mostradas verdadeiramente, sem serem romantizadas simplesmente por ser uma produção cinematográfica. Então, para fazer jus aos fatos históricos, a obra foi produzida detalhadamente. Em relação a esses detalhes, percebemos que os prisioneiros – que do campo de Mauthausen, na Áustria, eram, em maioria, oponentes políticos dos nazistas – usavam roupas com triângulos azuis, que os identificavam como estrangeiros. Outro detalhe que chamou a nossa atenção foi a fidelidade às reproduções das fotografias do “verdadeiro” Francisco Boix, que foram mostradas antes dos créditos finais.  Também, conseguimos nos localizar no tempo e acompanhar os acontecimentos da trama, pois foram tecidos paralelos entre as cenas e os fatos históricos, como o momento em que os prisioneiros ouviram no seu rádio clandestino que os alemães haviam perdido a Batalha de Stalingrado.

Uma das coisas de que mais gostamos no filme foi a proximidade que a produção do longa-metragem conseguiu colocar entre nós e os personagens. O que chamou muito a nossa atenção foi o fato de os personagens terem sido separados por questões políticas e colocados em dois grupos extremos: os vilões e os heróis. A diferença entre eles se mostrou muito nítida e percebemos que os prisioneiros foram apresentados como heróis, e os oficiais nazistas, como vilões. Os apoiadores do nazismo não foram humanizados, nem provocaram pena/empatia por parte de nós, telespectadoras. O único personagem que não ficou entre esses extremos foi o fotógrafo alemão Paul Ricken, porque, ao mesmo tempo em que ele vestia a farda, não tentava mudar a situação e, portanto, compactuava com ela. Ele também foi mostrado como alguém sentimental cujo principal objetivo não era o extermínio dos prisioneiros, mas sim fazer a sua “arte”. Essa situação de Paul representou a postura de muitas pessoas que não eram perseguidas na época da Segunda Guerra Mundial.

E, no geral, gostamos do filme todo. O ambiente criado pela diretora foi melancólico e nos transportou para uma outra época, através do cenário e da caracterização dos personagens, principalmente. Assistir a O fotógrafo de Mauthausen foi uma oportunidade de nos sentirmos próximas da realidade de cada uma das pessoas daquele campo de concentração que passaram pelo Holocausto há mais de 75 anos, cujos nomes estão marcados na história por esse filme.

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Emilly Kennieli Pimentel da Silva e Júlia da Silva Colombo
Estudantes do Curso Técnico de Eletrônica
Fundação Liberato

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