Antes de sentir saudade

crianca

Tenho certa dificuldade de lembrar do meu passado. Sendo mais específico, tenho pouquíssimas lembranças de antes da minha chegada aos sete anos. Mas, por outro lado, a partir dessa idade, vivi tempos que para sempre estarão guardados em minha memória, em minha pele e em meu coração.

Meus passos marcavam aquele mesmo caminho até a escola, dia após dia, durante nove anos da minha vida. Naquela época, eu ainda não havia percebido o quão gostoso era morar perto da escola da gente…. Chegava sempre com a visão de um grande pátio, com bancos de concreto coloridos como o arco-íris, que cercavam, na forma de um quadrado, um canteirinho com algumas plantas, junto também de um lugar onde, por um tempo, havia uma pracinha com diversos brinquedos e uma casinha suspensa no ar, com escadas e escorregadores. Tive momentos incríveis lá.

Boas aulas, professores bons, mas de todas as quatro horas que naquele lugar eu ficava, o momento mais importante eram aqueles quinze minutos, quando uma guerra se iniciava, e da qual apenas o mais perspicaz, ágil e inteligente conseguia sair vivo, onde o tempo e o espaço se desdobravam, tornando minutos, dias, e uma pequena escola, uma floresta de possibilidades.

Para qualquer um no mundo que não era da minha turma, pega-pega seria mais uma brincadeirinha, mas para nós… era ‒ e para mim até hoje é ‒ algo muito, mas MUITO maior. Tinha cada estratégia, esconderijo, até modos diferentes de jogar. Havia o pessoal mais rápido (esses quase ninguém conseguia pegar), e todos corriam de medo quando eram eles os que pegavam (eu era o mais lento dos mais rápidos); também havia os espertinhos, que tentavam se safar usando estratégias suspeitas. Eles até tentavam, cada um com o seu jeito de jogar, sua forma de pegar e não ser pego. Mas, no fim, eu era o melhor de todos, hehehe…

Lembro-me até hoje do meu esconderijo preferido: atrás de uma árvore num canto da parede. Não era um bom esconderijo só por me deixar invisível, mas sim por ser um lugar para onde ninguém olhava, ninguém reparava, sempre debaixo do narizinho deles o tempo todo.

Bons tempos. Uma pena que eu já tenha “crescido”, o que faz com que agora seja meio difícil achar alguém para brincar…

Eram tempos mais ingênuos, tempos mais despreocupados, tempos mais simples. Um dia, espero que, quando o fim coincidir com o começo no ciclo dessa humilde existência, eu possa encontrar aquele veloz fugitivo mais uma vez.

Pedro Henrique Pereira Ramos

Pedro Henrique Pereira Ramos 
Estudante do Curso Técnico de Eletrônica
Fundação Liberato

6 Comments

on “Antes de sentir saudade
6 Comments on “Antes de sentir saudade
  1. Parabéns pelo texto meu filho…
    Feliz aquele que pode brincar e viver sua infância decforma plena… são tempos que não voltam…
    Mas o desafio da vida é sim… buscar a alegria e ser feliz em cada fase da vida! Se conseguir, terás uma vida maravilhosa!
    Segue firme e busca teu “pega pega” nesta nova fase!

    Te amo!

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  2. Parabéns meu filho!
    Texto lindo e especial, assim como és tu! Um presente lindo e especial na vida de tua família!
    Parabéns pela sensibilidade, pela coragem e honestidade em olhar para trás e reconhecer o quanto aquele “veloz fugitivo” é importante na tua vida e o quanto ele deixa saudade!
    E é por isso que ele sempre estará presente, por conta do espaço que tu sabiamente dá a ele.
    Parabéns pela tua força e beleza de ser!
    Viva à tua sensibilidade e talento em escrever!
    Te amo.

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