O impactante livro A guerra não tem rosto de mulher foi escrito pela vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2015, Svetlana Aleksiévitch, e publicado pela primeira vez em 1985. Escrito em russo, foi traduzido para o português e publicado pela Companhia das Letras em 2016. Svetlana nasceu em 1948, em uma família de professores na Ucrânia abalada pela Segunda Guerra Mundial, cresceu na Bielorrússia e se formou em jornalismo. Após anos atuando como jornalista e repórter, a bielorrussa uniu suas duas paixões – o jornalismo e a literatura – e passou a se dedicar à produção de livros de testemunhos. Ligada à realidade da sociedade soviética e pós-soviética, a autora teve dezenas de publicações desde o início de sua carreira, entre elas As últimas testemunhas e Vozes de Tchernóbil: a história oral do desastre nuclear.
A guerra não tem rosto de mulher possui uma capa vermelha, com uma imagem de uma mulher fardada, e o título, o nome da autora e o nome da editora escritos em branco. O livro contém 390 páginas divididas em 17 capítulos, formados por depoimentos com temas em comum.
É muito recorrente ler histórias de guerra escritas por homens sobre homens e para homens, enquanto a luta sofrida de mais de um milhão de mulheres do front é apagada. Então, nessa obra, a autora reúne relatos de centenas de mulheres que lutaram na Segunda Guerra Mundial no Exército Vermelho, com a intenção de dar ouvidos a essas sobreviventes, que tiveram sua história silenciada durante décadas. Svetlana Aleksiévitch ouve, com compaixão, os medos, os traumas e as lembranças de mulheres que eram franco-atiradoras, fuzileiras, telegrafistas, médicas, enfermeiras, operadoras, cozinheiras, lavadeiras, cabeleireiras, partisans e membros da resistência.
A escritora tem uma incrível sensibilidade para entrelaçar as palavras das guerreiras, carregadas de dor, com as suas – que refletem não só seus anos de estudo, como também o impacto que as histórias de superação, violência, abuso, perda e resistência de cada uma tem nela. Centenas de mulheres mostraram suas vulnerabilidades ao longo dos capítulos e, com elas, tornaram-se ainda mais fortes. Nessa obra atemporal, o(a) leitor(a) se vê integrado(a) no cenário que a jornalista reconstrói junto com as sobreviventes. Ler sobre suas perdas causa angústia, sobre suas superações causa alegria e sobre sua força, muita emoção! Contemplar esse livro significa se permitir ficar desconfortável e revoltado(a) com os horrores da guerra vivida por quem, além de tudo, tinha que enfrentar o machismo. Assim, por todas que ficaram, que não sobreviveram e que ainda entrarão para a história, devemos conhecer a vida das mulheres na guerra. E não há maneira melhor de fazê-lo do que lendo o que elas têm a dizer em A guerra não tem rosto de mulher.
ALEKSIÉVITCH, Svetlana. A guerra não tem rosto de mulher. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. 390p.