A Fundação Liberato tem como visão ser referência como instituição pública de excelência na educação profissional. A missão é promover a formação integral de profissionais comprometidos com as exigências do seu tempo. Os valores fundamentais da instituição são: ética, comprometimento, disciplina, busca da excelência, desenvolvimento sustentável, valorização do ser humano e responsabilidade.
O Projeto político pedagógico (PPP) da Fundação Liberato, revisado em 2022 (p. 13), traz, como abertura do capítulo destinado aos fundamentos da Educação, várias palavras-chaves que complementam os valores que, tradicionalmente, alicerçam a escola, entre elas empatia, cidadania planetária, justiça social, respeito, consciência crítica, protagonismo, saúde mental, que podem ter uma forte ligação ao trabalho voluntário no Programa Matilha Liberato.
O Programa Voluntariado Matilha Liberato alinha-se, perfeitamente, aos valores da escola que são contemplados no PPP, especialmente no que diz respeito à promoção da empatia, à cidadania planetária e à justiça social. Ao cuidar dos animais, os estudantes desenvolvem habilidades como responsabilidade, respeito e compaixão, as quais consideramos fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável, na qual o jovem exerce o seu protagonismo numa ação comunitária.
Até 2024, o trabalho com a matilha ocorreu por iniciativa da comunidade e servidores, com alguma mobilização de alunos e campanhas esporádicas de adoção. Em outubro desse ano, começamos a estruturar um projeto para ampliar o envolvimento da comunidade, uma vez que a iniciativa de casal formado por pais de ex-alunos da instituição já ocorre há 16 anos e há a possibilidade de aposentadoria e mudança de endereço dessa família, sendo necessária a participação mais efetiva da comunidade escolar no cuidado dos animais que vieram a se somar, ao longo dos anos, no entorno do espaço escolar.
Outro ponto que podemos salientar é a importância do papel dos cães no convívio com o pessoal da guarda da escola. Os cachorros acompanham os profissionais e, inclusive, auxiliam nas rondas em horário noturno, o que favorece questões de segurança, pois os animais dão alarme em caso de invasão do espaço da escola, porque cobrir uma área que chega a vinte hectares é um trabalho complexo, e os cães exercem papel fundamental nesse trabalho.
A manutenção de uma matilha com acompanhamento de veterinários, com vacinação em dia, castração e tratamento profilático de parasitas previne a transmissão de zoonoses na comunidade escolar. Uma matilha tratada controla o espaço e evita que, de maneira descontrolada, outros animais permaneçam em espaço escolar, uma vez que não temos um cercamento ideal. A matilha aceita alguns cães que são, em seguida, tratados e que podem, com o tempo, ser encaminhados para adoção. Há pelo menos dezesseis anos, tem um movimento de cuidado dos cães comunitários que vivem no espaço escolar; alguns cães, já idosos, foram, durante esse tempo, encaminhados para lares, uma vez que sua saúde não era a ideal para permanecerem em espaço aberto.
Ao considerar o aspecto da tragédia climática que assolou o estado em 2024, dois novos cães se somaram ao grupo, pois tinham sido resgatados por uma moradora das proximidades que acabou por abandoná-los. Ou seja, a realidade de abandono de animais amplificou-se com as enchentes, e a instituição não passou ilesa nesse aspecto. Ao considerar questões práticas as quais envolvem a logística do cuidado dos animais e os custos envolvidos, o ideal é que a matilha não ultrapasse a meta de seis cães, de maneira que as adoções sejam priorizadas ao ultrapassar esse número.
Um ponto importante é que os cães guardam o espaço escolar e se reportam aos guardas. No final de 2024, houve a troca do serviço de vigilância da escola e, em março, saíram mais dois guardas já conhecidos pelos cães. Ou seja, de seis vigilantes mais próximos dos cães, restaram dois dos antigos. Os novos estão em socialização e ajudam no manejo dos cães; mesmo assim, os animais ficaram um bom tempo sem referência e mais preocupados em resguardar o espaço. Além disso, a equipe de funcionários da terceirizada teve o serviço interrompido, devido à empresa não cumprir condições contratuais, e os trabalhadores, que também interagiam com os cães, se tornaram escassos, apenas com alguns em serviços essenciais. Isso acarretou mais eventos de cães a investirem e a latirem em bando, para protegerem o espaço. O ideal é sempre os servidores procurarem conhecer e fazer amizade com os guardas e, se possível, com os cães. Os animais reportam-se aos vigilantes; se notarem que temos proximidade com os profissionais, os cachorros confiarão nas pessoas.
Atualmente, estamos com dez cães, o que não é o ideal, pois a matilha se fortalece no grupo, além de se tornar caro o cuidado básico com esses animais. A matilha cresceu muito, de 2023 para cá, com a adição de sete animais. Agora em maio, dois cães, que ainda não foram castrados, serão operados, o que vai ajudar a minimizar o instinto de defesa do território dos cães, segundo a opinião do veterinário André Meurer (CRMV 7223), que acompanha a saúde da matilha. Agora, o desafio é conquistar novos lares para, pelo menos, quatro cães que vivem no espaço da escola, com a ajuda da comunidade escolar. No dia 25 de abril, um novo cão se juntou à matilha e, no mesmo dia, um aluno que integra uma das equipes da gincana, com o apoio familiar, fez a adoção. Esse movimento é importante para conseguirmos diminuir a quantidade de cães que circulam no espaço escolar.
A Lei estadual nº 15.363/2019, do Rio Grande do Sul, representa um avanço significativo na proteção de cães e gatos. Essa legislação consolida e amplia as normas já existentes e estabelece regras mais claras e rígidas para guarda, tratamento e bem-estar desses animais. A presença de cães em instituições públicas no Rio Grande do Sul é uma realidade cada vez mais comum. A Lei estadual nº 15.363/2019 oferece um marco legal importante para garantir a convivência harmoniosa entre animais e pessoas. Ao seguir as normas estabelecidas, as instituições podem proporcionar um ambiente mais acolhedor e inclusivo para todos. A Lei 15.363/2019 prevê que em um abrigo, como espaço adequado aos animais, se obedeça às seguintes condições: manter um espaço limpo e higienizado regularmente; proporcionar alimentação adequada e água fresca; prover cuidados veterinários regulares; e tratá-los com respeito e compaixão. A lei incentiva a castração de animais como medida para controlar a população, evitar o abandono e priorizar a adoção dos animais sob os cuidados do abrigo, o qual estará sujeito à fiscalização por órgãos competentes, como a Vigilância Sanitária.
Ao pesquisar sobre iniciativas de voluntariado, encontramos o “Projeto Meu Pet na Escola”, com apoio do Sesi / Senai – SP, que prevê a adoção de cães para além de suas unidades e abrange a adoção de cães em todas as escolas do município de Araras. A iniciativa beneficia tanto os animais quanto as pessoas, pois a experiência de convivência com os pets nas escolas tem demonstrado diversos benefícios, como o aumento do engajamento dos estudantes e funcionários, a melhora do clima escolar e o desenvolvimento de habilidades como empatia e responsabilidade. Ao proporcionar a convivência com animais resgatados, o projeto contribui para a formação de cidadãos mais conscientes e responsáveis, promove o respeito aos animais e fortalece as relações interpessoais.
O grupo de empregados públicos que, hoje, faz parte do projeto Matilha Liberato é composto por Andreia Goldstein de Moraes, Benhur Foletto Bolzan, Denise Martins Bittencourt, Gertrudes Mentz, Giele Rocha Dorneles, Grêmio Estudantil Maio de 68, Inaciane Teixeira da Silva, Íris Vitória Pires Lisboa, Lucas Luís Gutkoski, Márcia Bratikowski Kossmann, Maria Emília Lubian, Paola Del Vecchio, Rita de Cássia Oliveira, Rosélia da Silva, Sérgio Souza Dias, Silvana Silva, Teresinha Mohr Winter e Vinícius André Uberti.
Convidamos toda a comunidade escolar a conhecer e fazer parte do Programa Matilha Liberato.
Algumas histórias do programa…
Jorginho, cãozinho adotado no dia 25 / 04 / 25.
Sabe aquela sorte de quem ganha na loteria? Eu ganhei não um amigo, mas dois. Olha só o colchãozinho no qual eu dormi já na primeira noite…
Fininho
Meu nome é Fininho. Estou na Liberato há mais de dois anos. Apesar de gostar daqui, não tem sido um espaço seguro para mim. Já sofri três acidentes graves: fiquei preso na biblioteca e pulei da janela (sim, do andar superior); depois, um cachorro bravo me bateu muito e fiquei internado no hospital; e no ano passado, fiquei preso no Módulo e fui resgatado quase morrendo, enforcado nas redes. Agora, tenho medo e dor na patinha, tento proteger a escola e saio a latir por aí. Seria bom viver num espaço menor, sou bonzinho e leal. Vou cuidar do meu lar.
Snoopy
Sou muito tímido, tenho muito medo das pessoas, fui aceito na matilha, mas fico afastado da maioria das pessoas. Já fui adotado por uma pessoa da comunidade escolar, mas, por ser muito jovem, estraguei o jardim e fui devolvido. Tenho muito medo de mulheres, e meus amigos humanos preferidos são os guardas Gilberto e Adão.
Nina
Sou muito carinhosa e charmosa. Gosto de estar entre as pessoas; principalmente, gosto de seguir meu amigo humano preferido: Benhur.
Pelé e Joaquim
Somos Pelé e Joaquim; uma ex-funcionária da terceirizada deixou-nos aqui, após termos sido resgatados da enchente. Somos muito apegados aos alunos, ainda mais que ganhamos petiscos no almoço (sabemos que não faz bem, mas quem resiste a um salsichão e batatas fritas?).
Nosso amigo
Sou Filé, estou há 12 anos na Liberato; além dos meus amigos da matilha, considero muito esse rapaz, o Gilberto. Quando ele chega, é uma festa, porque sabemos que teremos uma ótima companhia durante o dia. Além disso, na hora do café, ganhamos sachê. Esse cara é muito legal.
Referências
FUNDAÇÃO ESCOLA TÉCNICA LIBERATO SALZANO VIEIRA DA CUNHA. Projeto político pedagógico 2022. Novo Hamburgo, 2023. Disponível em: <https://www.liberato.com.br/projetos-institucionais/>. Acesso em: 10 jan. 2025.
RIO GRANDE DO SUL. Direitos dos animais: a responsabilidade dos municípios gaúchos. Porto Alegre: Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Comissão de Assuntos Municipais. Filipe Madsen Etges (Org.). Porto Alegre: Corag, 2014. Disponível em: <https://www.al.rs.gov.br/filerepository/repdcp_m505/cam/direitos%20dos%20animais%2015×21.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2025.
RIO GRANDE DO SUL. Lei nº 15.363, de 5 de novembro de 2019. Porto Alegre: Palácio Piratini, 2019. Disponível em: <https://leisestaduais.com.br/rs/lei-ordinaria-n-15363-2019-rio-grande-do-sul-consolida-a-legislacao-relativa-a-protecao-aos-animais-no-estado-do-rio-grande-do-sul>. Acesso em: 10 jan. 2025.
SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA DE SÃO PAULO. Projeto meu pet na escola: projeto meu cão no Sesi / Senai. São Paulo, 2021. Disponível em: <https://sempreaseulado.org.br/projeto.asp?categoria=MEU%20PET%20NA%20ESCOLA>. Acesso em: 13 jan. 2025.