Relato – Nelson Beuter Jr

Há onze anos, eu era aluno do 1º ano do Técnico em Química da Fundação Liberato, e tive meu interesse pela pesquisa aguçado quando participei da minha primeira MOSTRATEC, como espectador. Ao presenciar e interagir com pessoas dos mais diversos lugares da América Latina e alguns países europeus (na época, a MOSTRATEC não possuía as proporções que tem hoje), me identifiquei com todos aqueles jovens que ali estavam representando avidamente os projetos de pesquisa que desenvolveram. No ano seguinte, em 2003, fui introduzido na pesquisa científica, com o projeto que viria a levar a mim e a minha colega Priscila de Camargo Nunes à INTEL ISEF de 2005. O trabalho apresentado na ocasião foi o projeto Pesquisa-ação Ambiental, desenvolvido nos anos de 2003 e 2004 junto a Escola Municipal de Ensino Fundamental Paulo Beck e a comunidades ribeirinhas da Vila Paim e do Bairro São Miguel, na cidade de São Leopoldo/RS. A essência do trabalho foi o desenvolvimento de atividades de sensibilização ambiental com crianças, jovens e adultos, a fim de melhorar a saúde do ambiente em que elas estavam inseridas. No segundo ano, especificamente, foi desenvolvido um método de aplicação de atividades de educação ambiental em todas as disciplinas da grade curricular dos alunos de pré-escola até 3ª série do fundamental, da Escola Paulo Beck. Os conceitos pedagógicos de transversalidade, multidisciplinaridade e interdisciplinaridade foram os norteadores do projeto.

Foram dois anos de trabalho duro, mas extremamente recompensadores. Neste período, a pesquisa foi apresentada em duas edições da MOSTRATEC (18ª e 19ª) e na 28ª Feria Nacional de Ciencia y Tecnología Juvenil, na Argentina (2004). A “cereja do bolo” veio ao final de 2004, com o reconhecimento na 19ª MOSTRATEC onde a pesquisa obteve o 1º lugar geral e o convite para representar o Brasil na INTEL ISEF de 2005, em Phoenix, Arizona, EUA.

O deslumbre que eu e os demais colegas da delegação brasileira tivemos na ISEF em 2005, foi gigantesco. A grandiosidade, a organização e a mobilização de alunos, professores e voluntários da feira era algo completamente distinto daquilo que havíamos vivenciado até então na MOSTRATEC. Se em 2004, a MOSTRATEC contou com cerca de 250 trabalhos e pouco mais que dez países participantes, a ISEF de 2005 teve mais de 2000 projetos, e mais de 50 países representados!

O desafio de apresentarmos toda a pesquisa em inglês, e representarmos todo o esforço das crianças, jovens e adultos que fizeram parte do projeto, alimentava-nos um tremendo frio na barriga e, uma gratificação de igual magnitude!

O projeto Pesquisa-ação Ambiental não foi premiado na ISEF de 2005, no entanto, isto era o que menos importava a mim e a minha colega, Priscila. Estávamos muito satisfeitos pela oportunidade de participação da feira, interação com jovens de todo o planeta, experiência adquirida e, de levarmos um pouco de cada um que, de alguma forma, participou conosco dos dois anos de projeto.

Minha participação na INTEL ISEF permitiu aperfeiçoar e estimular o raciocínio científico. Desde então, participei de diferentes grupos acadêmicos de pesquisa nas áreas de biotecnologia, química orgânica e inorgânica, até criar raízes na química analítica ambiental.

Nos anos de 2008 e 2009, tive uma grata experiência profissional na Espanha, a partir de uma indicação da Fundação Liberato. Na ocasião, me dediquei à área de biotecnologia, com foco na produção de vacinas veterinárias. Em um projeto que desenvolvi neste período, tive o privilégio de apresentar minha pesquisa em congressos internacionais de química e biotecnologia. Destes, destaco a participação na 42ª Reunião da IUPAC (International Union of Pure and Apllied Chemistry), em 2009, que ocorreu em Glasgow, Escócia. Novamente, voltaram à flor da pele os mesmos sentimentos da ocasião da ISEF. Mas desta vez, não eram jovens cientistas que estavam apresentando no estande ao lado do meu, eram sim, pesquisadores com grande bagagem acadêmica. Talvez eu fosse um dos poucos jovens ali presentes. Assim como foi na ISEF, penso que “o viver a pesquisa pura e aplicada” me instigaram a continuar investindo no aperfeiçoamento de meu pensamento científico.

Hoje, Químico formado pela UFRGS, trabalho na equipe de Meio Ambiente, da Unidade de Insumos Básicos da Braskem, em Triunfo/RS, onde apoio o desenvolvimento de estratégias e tecnologias que garantam a qualidade ambiental do Polo Petroquímico do Sul. Participo ainda do núcleo de pesquisas acadêmicas do Laboratório de Química Analítica Ambiental, do Instituto de Química da UFRGS.

Pode se ver que, o gosto que adquiri dez anos atrás, quando eu era apenas um jovem cientista e idealista, pela pesquisa e o zelo com meio ambiente, continuam vivos.

Na verdade, acho que continuo sendo este “jovem cientista e idealista”. É este espírito que me mantém envolvido e interessado pela pesquisa até hoje.

Obrigado INTEL ISEF, MOSTRATEC e, principalmente, Fundação Liberato, por me apresentar este mundo fascinante da ciência.

* Relato integrante do Histórico – MOSTRATEC: Cruzando Fronteiras

Nelson Beuter Jr