Esporte escolar de rendimento: sonho ou realidade?

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O esporte escolar no Brasil é sonho e realidade: sonho, porque vislumbramos o seu desenvolvimento em nível competitivo e de representação institucional; e realidade, porque muito ainda temos que fazer para que esta área realmente cumpra a sua tarefa nas escolas da rede pública. O principal objetivo deste texto é refletir sobre o que vem sendo desenvolvido no esporte escolar de rendimento e o que poderia ser aprimorado. Apresento, também, alguns dilemas que os professores de Educação Física vivenciam diariamente em suas escolas.

O esporte precisa assumir a sua devida importância nas escolas públicas, sendo tratado de forma competente, com espaços adequados, professores qualificados, apoio e investimento dos órgãos responsáveis. Vários são os exemplos de boas ações praticadas por escolas do mundo inteiro nesta área. Em uma série de reportagens especiais sobre as olimpíadas escolares, apresentada no mês de maio de 2012, no Jornal Nacional da Rede Globo TV, os gestores de escolas de Nova Jersey, nos Estados Unidos, afirmam que os alunos atletas têm melhor desempenho escolar do que os alunos não atletas, e não pagam mensalidade, como uma forma de incentivo para os mesmos.

Verificamos, atualmente, ausência de políticas que estimulem o esporte nas escolas. Muitas vezes, o desporto escolar não possui objetivos específicos e as escolas estão despreparadas para o seu desenvolvimento. Não há materiais esportivos em muitas escolas, que também carecem de espaços, instalações e recursos humanos qualificados.

Todos ganham com o investimento no esporte escolar: os alunos, devido aos benefícios físicos, cognitivos e sociais que já conhecemos; e a escola, devido à repercussão que essa pode ganhar na comunidade, como exemplo de qualidade e compromisso com o aluno.

Com a proximidade da Copa do Mundo e da Olimpíada no Brasil, a sociedade vem percebendo o quanto o esporte de base é importante para o êxito do país nessas competições. Dessa forma, o foco das preocupações do poder público, mídia e de todos nós não pode se restringir às obras dos palcos destes eventos, tendo em vista as dificuldades que o esporte de rendimento de base vem sofrendo para se desenvolver.

Quem serão os atletas futuros que representarão o Brasil na Olimpíada? Teoricamente, os adolescentes de hoje, com idades entre 12 e 14 anos, que já deveriam estar selecionados para um programa de treinamento de médio e longo prazo, selecionados principalmente nas escolas. A realidade, porém, é outra. De acordo com o Censo Escolar 2008 do Ministério da Educação, muitas escolas públicas no Estado não possuem quadra de esportes ou possuem quadras em estado precário, sem material esportivo. Talvez, se a Olimpíada tivesse categoria improviso, esses professores seriam medalhistas.

Podemos considerar ainda como um sonho dos profissionais de Educação Física a garantia de condições mínimas de trabalho, como ginásios apropriados, materiais de qualidade e carga horária adequada, para desenvolver a iniciação desportiva e o trabalho de base dos atletas que, no futuro, representarão o Brasil nestes eventos esportivos.

Embora não seja esse o único objetivo da educação física escolar, é uma das oportunidades de os alunos terem contato com o esporte e de se descobrirem novos talentos. Na situação atual, milhares de alunos nunca saberão seu valor esportivo. Muitos deles até mostram interesse pela prática de algum esporte, mas acabam desistindo por diversas razões, como a falta de condições financeiras e o pouco incentivo dos pais, que também não foram educados para isso.

Os raros talentos esportivos do Brasil foram descobertos por acaso, com muita sorte, abnegação dos pais, patrocínio privado e não fruto de um programa sistemático, como nos países desenvolvidos. Sabemos que não basta ter talento, se o fator genético é fundamental. É preciso que, já na infância, ao ser descoberta e selecionada, a criança seja incentivada a frequentar um programa de desenvolvimento das valências físicas dentro de uma progressão pedagógica.

O baixo índice das receitas gaúchas direcionadas para melhorar a educação tem reflexo negativo na qualidade das escolas públicas. A realidade vista no esporte escolar de rendimento do Rio Grande do Sul é precária e a falta de incentivos coloca o nosso estado nas últimas posições em âmbito nacional, comparado aos outros estados da federação. Reverter este cenário é missão de todos nós.

Têm-se diagnosticado vários problemas na educação, como os altos índices de repetência e evasão, o baixo rendimento dos alunos e a violência. Mesmo assim, não se conseguem encaminhar soluções consistentes. A educação e, consequentemente, o esporte têm sido relegados a segundo plano.

Atualmente, os professores de Educação Física encontram diferentes entraves para desenvolver o esporte de rendimento em suas escolas. A falta de organização e planejamento institucionais com ações que pensem no desenvolvimento do esporte, faz com que as diferentes modalidades sejam praticadas de qualquer forma, muitas vezes, sem o mínimo de preparação.

Todos concordam com a ideia de que as equipes esportivas de representação são importantes para o desenvolvimento dos alunos e da própria escola. Mas, na prática, os empecilhos são muitos, desde a falta de um horário e local adequado para o treinamento destas equipes, apoio financeiro para custear transporte, inscrições, alimentação, entre outros.

Outra realidade vivida nas escolas é o desinteresse dos próprios alunos de participarem das equipes. A falta de investimento e apoio está fazendo com que os alunos procurem outros meios que não seja a escola para treinarem e competirem nas diferentes modalidades, como, por exemplo, clubes e federações, firmando contratos que impedem a sua participação nos jogos estudantis.

Por fim, a falta de recursos humanos diminuiu sensivelmente as possibilidades de as escolas formarem as suas equipes e participarem dos jogos escolares. Principalmente porque os professores têm que dar conta das aulas regulares de educação física e treinar as equipes, conforme a sua disponibilidade de carga horária.

Participaram dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul de 2012, em Novo Hamburgo, em torno de 12 escolas, sendo que o município tem mais de 60 escolas públicas. Verificamos com esta limitada participação das escolas no JERGS o quanto os professores estão desinteressados e desanimados com o esporte de rendimento em suas instituições.

Mudar esta realidade é missão de todos nós, professores, direções e poder público. A sociedade perde com o retrocesso que o esporte escolar vem sofrendo. Precisamos valorizar a atividade curricular da Educação Física e massificar o desporto escolar. Estabelecer diretrizes e ações para que as escolas sejam importantes formadoras de atletas e cidadãos, além de criar condições e exigir investimentos em espaço, equipamentos e materiais necessários.

Esta mudança é percebida sensivelmente na Fundação Liberato, primeiramente com a construção do novo Ginásio de Esportes, oferecendo condições adequadas de trabalho; aquisição de material qualificado para as práticas desportivas; adequação no número de profissionais de Educação Física, possibilitando horários para os treinos; patrocínio para cursos de atualização; e, principalmente, apoio e incentivo à participação das equipes da escola nas competições. Dessa forma, acredito que estamos no caminho certo para revertermos este processo de falência do esporte escolar no Rio Grande do Sul.

A educação, e por consequência o esporte, em um país que cresce econômica e politicamente, precisa ser tema de discussão no país. Além de investir, são necessários um plano de gestão e a aplicação de verba, em que é preciso, com estratégias, concretizar mudanças e virar o jogo.

Marlon Lucchini Professor de Educação Física da Fundação Liberato

Marlon Lucchini
Professor de Educação Física da Fundação Liberato

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