A CULPA É DOS USUÁRIOS
As redes sociais representam uma ferramenta de expressão indubitavelmente inovadora, além de ser inquestionável a mudança por elas proporcionada no que diz respeito ao alcance que qualquer opinião, agora compartilhada, pode adquirir. Contudo, não apenas essas redes como a internet em geral oferecem riscos à democracia em amplitudes ainda maiores do que antes.
É adequado pressupor que a facilitação do acesso à informação tenha aumentado o interesse das pessoas por questões políticas e sociais, mas, na realidade, não é isso que observamos. Em muitos casos, a informação acessada é tendenciosa e duvidosa, mas ainda recebe tanta atenção quanto uma de fonte confiável receberia, levando milhares de indivíduos que se contentam com uma única fonte de informação a passarem conteúdo duvidoso adiante em conversas e debates.
Como meio de expressão, as redes sociais oferecem maravilhas que seriam difíceis de imaginar em décadas passadas. As informações expressadas, entretanto, podem não ser tão agradáveis assim. Como retratado na mídia, ao longo das últimas semanas, através do caso de uma menina que foi apedrejada por ser praticante do candomblé, as redes sociais podem ser um meio de compartilhamento de discursos de ódio e de organização de movimentos cujas intenções nem sempre dizem respeito à democracia, mas a oprimir minorias de modo impune.
Contudo a culpa por essas infelicidades não deve ser atribuída às próprias redes. Ela pertence a nós próprios, como indivíduos, por nem sempre buscarmos fontes de informação distintas das usuais e, principalmente, por permanecermos calados diante dos incontáveis gestos de opressão que observamos e negligenciamos em nossos cotidianos.
A INTERNET DEMOCRÁTICA
A internet, hoje, é um meio de troca de ideias e propagação de informações muito eficiente. Isso porque ela permite que, de casa ou pelo celular, a qualquer horário, pessoas do mundo todo se comuniquem sem restrições de conteúdo. Podem conversar chineses e brasileiros, russos e americanos, e, assim, quebrou um paradigma das relações pessoais.
A relação entre as pessoas é um pilar da política. Na Pólis, modo como se chamava a cidade grega onde surgiu a democracia, nosso atual sistema político, o poder de propagar informações, notícias e formar ideias ficava restrito aos sofistas. Podemos encará-los como a mídia e os atuais políticos. Sem voz, mesmo dentro de uma democracia (demo, no latim significa povo), ao povo restava escolher qual ideia, entre as apresentadas, mais lhe cabia. Às vezes, só havia uma ideia.
Num contexto de política democrática acessível a poucos, a internet surgiu. Decisões, opiniões, notícias. Agora, qualquer um com acesso à internet pode formar opinião, buscar pessoas cujo pensamento se assemelhe, ter acesso aos mais variados pontos de vista, pontos vitais para a manutenção de uma política do povo. A democracia tornou-se mais democrática.
Ao revolucionar a maneira com que temos acesso à informação e comunicamo-nos com as pessoas, a internet só poderia ter mudado a política. Tornou-se um ponto positivo para a construção da cidadania. Descentralizou o poder. A internet tornou-se uma ferramenta de libertação.
A DEMOCRACIA CIBERNÉTICA
Nas últimas décadas, o avanço tecnológico foi responsável por introduzir, na nossa sociedade, uma infinidade de novos recursos que, de modo geral, revolucionaram a maneira de como vivemos e nos relacionamos. Nesse contexto, as redes sociais protagonizaram uma revolução no modo como as pessoas interagem. Agregadora, ágil e dinâmica, a rede social extrapolou o mundo real e mergulhou no mundo virtual, permitindo que os indivíduos compartilhassem e trocassem informações mesmo sem estarem juntas fisicamente. Além disso, proporcionou um ambiente de debate e de exposição de ideias, fatores fundamentais para a construção da cidadania e o fortalecimento da democracia.
De acordo com o professor e jornalista, Juremir Machado, em uma entrevista concedida à Revista Expressão Digital, as redes sociais marcaram o término de uma época na qual a opinião era controlada pela mídia. Isso evidencia um dos principais atributos da rede social, que é o fomento ao debate. Quando realizado de maneira saudável e agregando um grande número de pessoas, o debate é capaz de evitar medidas autoritárias tomadas por determinados grupos políticos e/ou sociais. Tudo passa a ser discutido, e o espaço para a criação de opiniões impostas e manipuladas fica restrito.
Podemos observar, recentemente, uma série de manifestações ocorridas ao redor do mundo que foram convocadas pelos usuários das redes sociais. Primavera Árabe, Jornada de Junho e atos contra a corrupção são alguns dos exemplos. O grande poder de mobilização e sensibilização provocado pelas redes sociais demonstra, novamente, a sua eficácia no combate às ações antidemocráticas.
A partir dessas constatações, pode-se concluir que as redes sociais são fundamentais para a preservação da democracia e para a construção da cidadania. Essa ferramenta permite que todos os indivíduos da sociedade expressem as suas ideias, mantendo, desse modo, um dos mais importantes pilares da democracia: a liberdade de expressão. Basta relembrarmos o passado recente do Brasil, quando estava mergulhado em uma ditadura militar, cuja principal característica era a retenção da opinião.
OS PERIGOS DAS REDES SOCIAIS
As redes sociais influenciam profundamente o dia a dia das pessoas. Se, por um lado, em tempos de outrora, toda disseminação de informações se dava pela televisão, pelo rádio ou por documentos impressos – isto é, o poder da emissão de notícias era restrito a poucos –, hoje, Facebook, YouTube e Twitter mudaram totalmente esse panorama, visto que, por meio deles, as opiniões de diversos indivíduos podem ser compartilhadas. Todavia, a ascensão das redes sociais trouxe consigo alguns problemas como informações equivocadas e o seu “caráter viral”.
Em um mundo no qual todas as pessoas podem manifestar suas opiniões livremente, independente da veracidade das referidas, não são raros os casos em que são espalhados rumores – como, por exemplo, o falecimento de um famoso que, na verdade, não aconteceu. Nesse contexto, é imprescindível que os internautas saibam filtrar as notícias surgidas nas redes sociais para que não haja difusão de informações de conteúdo enganoso.
Além disso, a rápida propagação de notícias, uma das grandes inovações trazidas pelas redes sociais, acaba sendo justamente um dos seus maiores perigos. Recentemente, uma torcedora do Grêmio, após xingar um dos jogadores do time adversário, foi linchada no Facebook. Como consequência disso, perdeu o emprego, teve sua casa apedrejada e foi alvo de ameaças de morte. A questão aqui não é julgar a atitude dessa mulher, mas, sim, perceber como as redes sociais disseminam rapidamente uma informação, e que as consequências disso podem ser trágicas.
Por fim, é inegável que o uso dos espaços virtuais é positivo para a construção da cidadania e para o fortalecimento da democracia, uma vez que eles se configuram como notáveis veículos para divulgação e manifestação das mais diversas opiniões. Não obstante, é necessário não só cautela – dada a velocidade com que as notícias são difundidas –, como também certa capacidade de discernimento, para saber em quais informações acreditar.
Um grande avanço
Com o passar dos anos, as pessoas se desenvolvem, e as manchetes apresentam as novas tendências, isso não muda, porém a revolução atual está justamente na forma de divulgação dos acontecimentos. A tecnologia evoluiu rapidamente e, com ela, o acesso aos direitos dos cidadãos e sua participação na sociedade.
O Brasil possui uma marca obscura em sua História, uma época de censura absoluta, iniciada nos anos 60, na qual qualquer maneira de expressão era punida, uma ditadura fria e cruel. As pessoas que viveram esses momentos de pânico e podem observar os espaços abertos para debates e organização de manifestações e passeatas viveram mudança, viveram democracia, viveram a evolução do Brasil.
A internet proporciona a divulgação de verdades e mentiras, cada usuário é livre para divulgar seu material e deve ser crítico para filtrar as informações. O exercício de cidadania presente nesse espaço apresenta um pequeno passo para a máquina, mas gigante para o homem. Obtivemos igualdade, liberdade e voz no meio virtual.
O cotidiano está cada vez mais agitado, e a informação rápida se torna vital. O direito de expressão conquistado representa um futuro longe de ditaduras e censuras, pois o livre acesso à informação inibe a alienação e o conformismo. Isso é a evolução, é a liberdade.