O EUFEMISMO DE UM QUASE

Ela quase ganhara o concurso de fotografia, mas ficou em segundo lugar, o que não foi o suficiente para ganhar a tão sonhada viagem para Londres. Ah, e quase falara com ele. Até chegou a abrir suas mensagens anteriores e começou a digitar, mas faltou-lhe coragem. O arrependimento acabou por se fazer companhia mais uma noite. Da próxima vez, talvez mandasse um oi.

Será que gostava dela? Amava. Ele quase a beijara, mas o telefone tocou e isso soara como um impedimento. Duas semanas depois, ela estava namorando. E não era com ele.

Quase conseguira escrever um texto, mas nunca encontrara as palavras necessárias para colocar no papel aquilo que transbordava pelo coração. E o sonho de escrever um livro ia aos poucos por água abaixo. Assim como as metas do ano.

Um quase é um eufemismo. É um não disfarçado, que se esconde por baixo do prêmio de consolação que é a frase “mas foi quase!”. O quase é como um tapa na cara, que dói ao informar em alto e bom som que você conseguiu ir além do começo, mas não alcançou a linha de chegada. É a incompletude, a penúltima página. É o possuir asas e não poder voar. É chegar ao precipício e não conseguir pular. É chegar meia hora depois e perder a banda favorita. É chegar dois minutos antes e perder o – talvez – amor da sua vida.

Quem vive de quases, não vive por inteiro. Quem vive de quases vive de nãos. Vive de negações, de necessidades não satisfeitas, de desejos não realizados. De amores não amados. De metas não atingidas. Vive de expectativas, ilusões e sonhos. Vive de futuro do pretérito. Vive de seria, poderia, conseguiria. Quem vive de quase, não vive.

Um quase é um tropeço no meio do caminho, e não uma queda. Mas é preferível ter marcas daquilo que um dia foi do que carregar na mente apenas as idealizações daquilo que nunca pôde ser.

O quase é mais do que nada, mas também não é tudo. É metade cheio e metade vazio. O quase é um meio-termo, e de meio-termo ninguém se completa, tampouco consegue se suprir. Não sustenta, não basta e não pode se fazer suficiente.

Um quase é ter duas estradas, uma ao lado da outra, e optar pelo caminho da esquerda, quando a felicidade estava toda contida no caminho da direita. Infelizmente, você descobriu isso depois.

Mas foi um quase, dizem eles.

Acordara no meio do sonho, mas quase foram felizes para sempre. Quase.

Mariana Dick Menezes Aluna do Curso Técnico de Química Fundação Liberato   Primeiro lugar Categoria crônica Liberarte 2015

Mariana Dick Menezes
Aluna do Curso Técnico de Química
Fundação Liberato
Primeiro lugar
Categoria crônica
Liberarte 2015

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *