DE TORMENTA A NAVEGAÇÃO

CRÔNICA DE UMA FELICIDADE ANUNCIADA

Primeiro era vertigem/como em qualquer paixão. Querer mudar é entorpecer-se. Perder o sono ou ter a sensação de que não vai mais acordar. Sentir frio na barriga ao menor movimento de desconstrução sempre que o pensamento viajar lá longe, para os dias que ainda vêm. A urgência e o desejo de mudança se tornam cadência, refrão, batida. É o primeiro passo.

Depois o pior momento, sem dúvida. Do frio na barriga cresce o enorme iceberg levando você pra longe do mundo. Mesmo com todas as mãos para agarrar, com todos os ombros de apoio e ouvidos pacientes, apenas você pode alterar comandos e fazer a vida andar seguindo outro compasso. Era só fechar os olhos / E deixar o corpo ir. E coragem pra isso?

Um minuto de coragem e o que há muito se deseja vira palavra. Assim, sem volta, no espaço de uma inspiração. Coração a mil, cansado de tanto ensaio pra preparar a voz. Joga-se a âncora. Se navegar é preciso, parar e rever rotas é vital. Pode ser que o barco vire/Também pode ser que não. A verdade é que nunca se sabe o que vem depois da próxima onda. Quando os caminhos que a gente faz na vida, porém, não nos satisfazem mais, é preciso alterar roteiros. Mudar a tripulação se for necessário.

Então a tacada de mestre. O xeque-mate. Tomada a coragem, já não há como voltar. Se estou voltando pra casa? Não, nunca. A gente não é mais o mesmo depois de tudo. Depois do não. Depois do sim. E é deste jeito mesmo: com medo, com choro, com frio. E chega a hora de viver momentos sonhados, sem a inocência jovem, sem a pressa adolescente. Um amor maduro. De verdade. Pra navegar um oceano inteiro.

Iris Lisboa Professora de Língua Portuguesa e Literatura Fundação Liberato

Iris Lisboa
Professora de Língua Portuguesa e Literatura
Fundação Liberato

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