Distopia virtual e contemporânea

Em 1989, em uma cidade brasileira, nasceu João, menino levado, deu muito trabalho para seus pais. Teve uma infância feliz, jogava futebol, subia em árvores e tomava banho de chuva, tudo o que realmente traduz a felicidade inocente em seu estado mais puro. Joãozinho, como era chamado, menino esperto, tinha capacidade de aprendizado tão veloz quanto o boom tecnológico que chegara ao país nos anos 2000. Logo seus brinquedos deixaram os aspectos físicos e assumiram formas virtuais: o taco foi substituído por um joystick e a bola estava nos pés dos maiores craques nos games.

Sem muita reflexão, percebeu que algo havia mudado sua essência, pois deixou de ser alegre e descontraído. Em 2015, já estava formado e trabalhando nos Estados Unidos, em uma grande empresa de desenvolvimento e gestão de softwares. Era bem-sucedido, mas algo lhe faltava. A tecnologia continuava em constante mudança; ao redor do mundo, cada vez mais surgiam debates éticos sobre uma inteligência artificial, a consciência humana em uma máquina, a realidade se entrelaçando com a virtualidade. Enquanto isso, João ficava cada vez mais inserido no mundo digital com a ajuda dos avançados simuladores de realidade. Passava o dia trabalhando em um ambiente virtual e à noite, quando estava em casa, continuava conectado às suas redes sociais. Sua vida se perdia em um lapso temporal repetitivo, sua felicidade já não estava na realidade palpável, estava no mundo virtual. E ele optou por ser como queria ser visto e não como quem ele realmente era.

Em uma manhã chuvosa de novembro de 2032, ele foi encontrado morto em seu quarto, conectado a seu simulador de realidade. Lentamente seu corpo foi retirado, seus aparelhos desligados. Ao anoitecer, o monitor do computador ligou sem aparente motivo, fez uma busca nos perfis de João nas redes sociais e encontrou fotos e vídeos de sua infância. Como se fossem memórias, repassou toda sua história, revelando, assim, que ele, agora como máquina, desejava apenas a felicidade puramente humana, encontrada nas coisas mais simples da vida. Essa felicidade está ao nosso redor, mas por algum motivo estamos deixando passar despercebida.

Marcos Lemos Aluno do Curso Técnico de  Informática para Internet Fundação Liberato

Marcos Lemos
Aluno do Curso Técnico de
Informática para Internet
Fundação Liberato

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