MOSTRATEC 30 ANOS

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Uma história marcada pelo sucesso e a importância do fazer feira de ciência

Chegamos aos 30 anos da MOSTRATEC e na 31ª edição da feira e chegar até este momento foi um caminhar de muitas pessoas desde que a feira iniciou lá em 1985. Na realidade, o começo se deu antes, quando a FUNDAÇÃO LIBERATO mostra, pela primeira vez, seu modo de ensinar na I EXPOMEQ LIBERATO, em 1974, no centro de Novo Hamburgo.

Então, como contar essa história?

Só posso contar através de alguns recortes e da minha história na coordenação da MOSTRATEC.

1985: Estabelecida a feira, tem caráter regional (RS) – 1ª MOSTRATEC.

1990: A MOSTRATEC recebe trabalhos de vários estados do país e torna-se uma feira nacional.

1994: A partir desse ano, ao receber trabalhos de outros países, passa a ser conhecida internacionalmente.

2009: Com o aumento do número de trabalhos, a feira acontece pela primeira vez nos pavilhões da FENAC, onde está até hoje.

Em 2012, aceitei a vice-coordenação e, em 2014, assumi a coordenação geral. Nesse tempo, conheci várias pessoas que deixaram suas marcas e que fizeram da MOSTRATEC um momento único.

Neste ano de 2015, ao completar 30 anos, já aconteceram várias atividades marcantes que mostram a grandiosidade da feira.
A MOSTRATEC sempre foi um espaço de trocas e aprendizagens, tanto para os alunos quanto para os professores. Fazer parte desse mundo de criatividade e pesquisa e, ainda por cima, coordenar esse evento por dois anos, me faz cada vez mais acreditar que a pesquisa é um caminho que pode e deve ser seguido pelas escolas, desde os anos iniciais.

As feiras de ciências têm um papel fundamental na formação dos alunos, e o significado de ensinar é provocar no outro a vontade e o desejo de aprender através de saberes já existentes. Como dizia Paulo Freire (1996), ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.

Nessa perspectiva, eventos como as feiras de ciências passam a desempenhar um relevante papel. Conforme Mancuso (OAIGEN, 2015), a feira de ciências é um empreendimento técnico-científico-cultural que se destina a estabelecer o inter-relacionamento entre a escola e a comunidade. Oportuniza aos alunos demonstrarem, através de projetos planejados e executados por eles, sua criatividade, seu raciocínio lógico, sua capacidade de pesquisa e seus conhecimentos científicos. A iniciação científica, um dos principais objetivos das feiras de ciências, concretiza-se pela exploração da curiosidade e do interesse dos alunos, pelo desenvolvimento do pensamento reflexivo e pela aquisição de uma formação de hábitos, habilidades e de atitudes científicas.

Feiras e mostras científicas destacam-se como eventos que propiciam uma conexão entre os conhecimentos científicos e os avanços tecnológicos de interesse da sociedade. Esses conhecimentos adquiridos pelos estudantes durante diferentes etapas que compõem uma feira podem ser identificados e relacionados como um caráter de educação não formal.

Os trabalhos desenvolvidos e apresentados nas feiras de ciências traduzem uma metodologia ativa, desenvolvida em sala de aula, com uma concepção interdisciplinar da pesquisa científica.

Pedro Demo (2003) coloca que a educação científica, como princípio educativo, deixa aos sujeitos envolvidos um apelo formativo, pois educa o estudante, enquanto se produz conhecimento. O autor afirma, ainda, que produzir conhecimento pode ser um exercício educativo, quando se conjugam método e cidadania.

Trabalhar com a metodologia científica e com projetos de pesquisa é um caminho para que a construção das aprendizagens seja efetiva. As feiras de ciências têm se mostrado um movimento na educação que interliga a metodologia científica ao conhecimento da sala de aula. A divulgação das descobertas constitui-se um caminho de integração e troca que se realizam nessas feiras, que mostram ser um lugar de construção de múltiplos conhecimentos e alternativas para os trabalhos e projetos desenvolvidos nas salas de aula, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio.
Ao participar desse processo, o aluno se apropria de inúmeros saberes e competências, fazendo da aprendizagem um processo muito mais significativo e prazeroso. Como diz Pedro Demo (2003), educar pela pesquisa é motivar o aluno a fazer as próprias interpretações.
Permito-me trazer o depoimento de um dos alunos que estiveram presentes na MOSTRATEC 2014 e que foi premiado para a Intel ISEF 2015 – International Science and Engineering Fair – Felipe Buniac:

Em maio de 2015, tive a satisfação e a honra de participar da maior feira de ciências do mundo, a Intel ISEF. Como descrever o sentimento de participar de uma feira internacional de ciências? Como explicar, para pessoas que não viveram esta experiência, esse pequeno universo de jovens cientistas e pesquisadores com paixão pela ciência e pela engenharia? Nossos principais objetivos eram potencializar a troca de ideias e aprendizados e gerar valor, motivando e estimulando pessoas interessadas em aprender e inovar. Participar de uma dessas competições possibilita ao pesquisador demonstrar quem ele é e do que ele é capaz. Ele pode mostrar suas habilidades, ambições e interesses através de seus projetos. O que um aluno conquista ou o que ele faz para ser um finalista é um grande diferencial no currículo. Sobre a minha experiência, é difícil contar em poucas palavras. Tudo iniciou-se na MOSTRATEC 2013. Imaginava que seriam jovens nerds expondo projetos. Definitivamente errei, me surpreendi e amei a experiência, a ponto de implorar para voltar no ano seguinte. Mesmo sem prêmios da primeira vez, ver todos aqueles jovens com excelentes projetos me incentivou e motivou a trabalhar muito duro no meu projeto para fazer o meu melhor. Esse trabalho duro foi recompensado com minha participação na MOSTRATEC 2014. Dessa vez, vieram os prêmios. Além de ser premiado pela ABRIC e pelo Instituto Weizmann de Pesquisa, em Israel, recebi uma vaga na maior feira de ciências do mundo (Intel ISEF). Foi uma emoção inexplicável subir ao palco da premiação e ser aplaudido pelo meu trabalho e pela minha dedicação. Realmente foi inacreditável; um dia que ficará marcado em minha vida para sempre. Depois de meses de ansiedade e muita preparação, finalmente chegou a tão esperada viagem para a Intel ISEF, em Pittsburgh, nos EUA. Mesmo não conhecendo os jovens que estavam comigo na nossa delegação, sabia que eles me entenderiam, pois faziam parte daquele pequeno universo de competições científicas. Como esperado, no primeiro dia, todos já haviam se tornado amigos, como se já se conhecessem há muito tempo. Conversas e discussões muito ricas aconteceram durante todo o workshop preparatório e eu aprendi muito: trabalho em equipe, técnicas de apresentação e preparo para um dia tenso de apresentações. Na feira, aprendi, também, a lidar com um avaliador, a me decepcionar e a não manter expectativas muito altas. A viagem teve uma série de contratempos desde o início. Ao chegarmos em Houston, após nove horas de voo, perdemos a conexão para Pittsburgh. A janela, que duraria duas horas, para alguns, durou nove e, para outros, foi até o dia seguinte. Após muita tensão, nos dividimos entre Chicago e Denver e, infelizmente, perdemos a festa do pin. Chegar a Pittsburgh foi um alívio. Chegamos esfomeados e já pudemos vivenciar o gostinho americano: comemos aquela pizza americanizada, grande e picante. E depois, finalmente, a feira! Os dias de feira foram cansativos. Apresentar um projeto centenas de vezes em um idioma diferente, tendo um curto tempo de apresentação, foi estressante, mas consegui superar o estresse. Durante todo o processo, vivenciei fortes emoções. A minha primeira apresentação foi um susto, pois recebi a ilustre presença de John C. Mather, simplesmente o prêmio Nobel de Física de 2006. O dia da avaliação foi muito tenso. Na noite anterior, foi difícil dormir, mas, ao final, o que deveria ser mais assustador, foi tranquilo. Os numerosos avaliadores, no meu caso, vinte, elogiaram muito o projeto, deram muitas dicas e foram muito simpáticos. A viagem passou em um piscar de olhos, e o grupo de pessoas que, no início, eu chamava de delegação passei a chamar de família. Essa família unida se divertiu, apoiou uns aos outros em todos os momentos e torceu para o Brasil como um todo. Cada prêmio conquistado foi comemorado como se fosse de todos. A viagem chegou ao fim e aconteceu algo que nunca havia passado pela minha cabeça. O que eu imaginava serem as coisas mais importantes, ou seja, prêmios e a participação na ISEF, não foi o que me mudou e marcou para sempre. No final, o que fez toda a diferença do mundo foram as pessoas incríveis que eu conheci, que, desde o primeiro dia no workshop, mostraram-se tão superiores a qualquer expectativa que eu poderia ter. Pessoas que, inacreditavelmente, eram tão parecidas comigo, em certos pontos, e tão magnificamente diferentes em outros. A experiência internacional também foi muito boa. Dividimo-nos entre MOSTRATEC e FEBRACE para pegarmos o voo de volta. No grupo da MOSTRATEC, o que mais se escutavam eram piadas do tipo: “imagina se a gente perde outro voo” ou “se a gente perdesse mais um voo, seria até legal, pois passaríamos mais tempo juntos”. Acho que de tanto falar, aconteceu. Ao chegar ao aeroporto Helyson, um dos integrantes da delegação brasileira esqueceu seu passaporte no ônibus e a dor de cabeça começou.Recuperamos o passaporte e quando achávamos que, finalmente, o problema havia sido resolvido, nosso voo atrasou três horas, o suficiente para perdemos a conexão de Washington para o Brasil. Dormimos no terminal do aeroporto e nos dividimos novamente. Incrivelmente, fui parar em Chicago mais uma vez. Após mais um dia de passeio em Chicago, chegou a hora de voltar para casa. Percebi que tudo aquilo havia terminado somente quando encontrei minha família ao chegar ao Brasil. Percebi que não iria acordar cedo com meus colegas de quarto e descer para tomar café e ir para o Centro de Convenções; percebi que não veria mais o pessoal com aqueles chamativos uniformes amarelos ou com elegantes ternos; não iria mais falar inglês; não escutaria o maravilhoso sotaque gaúcho (“bah”, “tchê”) ou ficar tenso para apresentar. No dia seguinte, quando acordasse, seria uma pessoa normal, vivendo um dia normal. Naquele momento, caiu a ficha de que todo aquele grupo definido como uma família iria demorar muito para se reencontrar. Um enorme aperto no coração e uma imensa vontade de chorar mostraram o quão importante a Delegação Brasileira da ISEF 2015 foi para mim como pessoa e o quanto a experiência marcou a minha vida. Posso dizer que a missão foi cumprida. Não tenho como agradecer à MOSTRATEC por essa oportunidade. Mesmo com todos os contratempos em aeroportos, posso dizer que foi a melhor viagem da minha vida. Se pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo, sem mudar nada. Com essas palavras, tento passar um pouco do meu sentimento sobre esta experiência de vida. Posso garantir que este sentimento não termina aqui, que vou levar vocês no meu coração e que essas histórias serão contadas para meus filhos. Só me resta dizer, obrigado!

Depois disso, o que mais precisa ser dito da MOSTRATEC?

REFERÊNCIAS

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Campinas: Autores Associados, 2003, 6ª ed.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 25ª ed.

OAIGEN, Edson Roberto; BERNARD, Tania; SOUZA, Claudia Alves Avaliação do Evento Feiras de Ciências: Aspectos Científicos, Educacionais, Socioculturais e Ambientais http://www.univates.br/revistas/index.php/destaques/article/viewFile/617/411

 

Ereci Teresinha Vianna Druzzian
Coordenadora da 30ª MOSTRATEC
Fundação Liberato

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