ESTES JOVENS INCRÍVEIS E SUAS IDEIAS MARAVILHOSAS

Vivemos numa sociedade marcada pela revolução tecnocientífica informacional em que a onda crescente da evolução e utilização de novas tecnologias têm provocado transformações na sociedade, nas nossas formas de relacionamento e de comunicação com o que ocorrer ao nosso redor e no mundo. Estamos cada vez mais nos tornando uma sociedade baseada na informação e no conhecimento. O advento dessa sociedade está materializado no meio escolar, mais como um reflexo dessa transformação do que uma ferramenta no processo pedagógico do fazer diário do docente.

Essa transformação implica novas ideias de conhecimento e de aprendizagem, da função da escola e do papel do professor e do aluno. É nesse contexto que a pesquisa pode e deve assumir um papel fundamental nessa nova etapa da educação.

Desse modo, a pesquisa em sala de aula constitui-se um fazer didático que contempla essa nova realidade social assumida pelo educando, que, fatalmente, leva a superar a educação guiada pela reprodução do conhecimento, estruturada na aula repassada pelo professor e copiada pelo aluno. Nesse sentido, podemos questionar o poder transformador desse modelo de educação, que, se mantido nessa perspectiva, não contribui para que o aluno seja construtor e autor da sua própria história. Assim, a educação não é só ensino, instrução, treino, mas, sobretudo, formação da autonomia crítica e criativa do sujeito histórico competente.

Nesse sentido, Pedro Demo apresenta uma abordagem educacional, em que a prática cognitiva está baseada no educar pela pesquisa, que tem como base o questionamento reconstrutivo no qual a construção do conhecimento se dá através de uma reformulação de teorias e conhecimentos existentes. O questionamento reconstrutivo encaminha um novo tipo de construtivismo em que se retira a ênfase da construção e a direciona para uma reconstrução do conhecimento.

A reconstrução do conhecimento é considerada o critério diferencial da pesquisa, englobando teoria e prática, filosofia base da pesquisa. Dessa maneira, educar, tendo como ferramenta pedagógica a pesquisa, requer que o professor e o aluno a manejem como princípio científico e educativo e a tenham como atitude cotidiana.

Tal prática requer, também, estimular o aluno à curiosidade pelo desconhecido, incitá-lo a procurar respostas, a buscar soluções para um mundo em constante mudança, que, a cada dia, nos lança novos desafios a serem superados; a ter iniciativa, a compreender e a iniciar a elaboração de suas próprias ideias. Nesse sentido, é também um desafio ao professor para transformar suas estratégias didáticas, (re)construir um projeto pedagógico próprio, (re)construir seus próprios textos científicos, (re)fazer material didático e revisar constantemente seus objetivos acadêmicos.

Nesta sociedade em que as formas de comunicação são instantâneas, em que as distâncias são suprimidas pelas mídias eletrônicas, em que o real e o virtual cada vez mais se confundem, a educação novamente tem um papel relevante ao priorizar a construção dos saberes como algo fundamental para o desenvolvimento de um cidadão crítico, reflexivo, transformador, que interage socialmente; conectado também à realidade a sua volta e ao mundo real que clama por justiça social, tolerância, paz, atitudes sustentáveis e responsáveis. Para isso, deve-se conceber o educando como sujeito do seu processo de aprendizagem, em que haja respeito aos saberes que cada um traz consigo, em que se construam o hoje e o amanhã, a escola e a sociedade pelo diálogo, o qual é, de acordo com Paulo Freire, o encontro dos homens mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu.

A MOSTRATEC está há três décadas acompanhando essa evolução e se reinventando a cada edição tanto por sua condição como mostra de trabalhos científicos de jovens pesquisadores, como por demanda da popularização do método científico como ferramenta cotidiana no processo de aprendizagem em um número cada vez maior de salas de aulas.

Hoje, a MOSTRATEC orgulha-se em ser a maior e a única feira de jovens cientistas do Brasil e uma das maiores do mundo. Tal grandiosidade se deve exatamente pela demanda de trabalhos de pesquisa desenvolvidos por alunos com o apoio e o incentivo de professores, direção, prefeituras e governos de estados comprometidos em desenvolver nos seus alunos a criticidade e a capacidade de ler o mundo ao seu redor, desafiá-lo a buscar soluções inovadoras que remetem ao sujeito aluno um aprendizado em que ele apreende, formula e comunica os seus conhecimentos.

A qualidade e a relevância dessa prática educativa se materializa através dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos em seus diversos níveis de ensino que, após processo de seleção na escola ou em feiras regionais, chegam à MOSTRATEC, que abre espaço para exposição de trabalhos que vão da Educação Infantil ao Ensino Médio e Técnico. Ao reunir esses jovens pesquisadores e suas ideias inovadoras em um único e grande lugar como é o Centro de Eventos da FENAC, em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, atrai, também a atenção de mais de uma dezena de universidades e de diversas empresas que enxergam nesses alunos um grande potencial criativo, pois são dotados de disciplina metodológica e com uma incrível capacidade de reinventar soluções e inovação para novos e antigos desafios que a sociedade e o planeta nos defrontam a todo momento.

Quando, como professor, se tem a oportunidade e a honra de estar à frente de tal evento, com tamanha magnitude e repercussão, que o meio acadêmico, o meio produtivo, a esfera da administração pública e a sociedade em geral prestigiam, dando o merecido destaque e incentivo a esses jovens cientistas, passa-se a ter uma melhor noção do papel importantíssimo que o educador desenvolve no cotidiano da sala de aula; motivando, estimulando e desafiando os alunos a serem protagonistas do seu tempo e lugar, não tem como não brilhar os nossos olhos, mesmo que sejam ofuscados pelo brilho dos olhos de milhares de jovens que ali estão olhando para um futuro melhor para todos.

REFERÊNCIAS
DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 6. ed. Campinas: Autores Associados, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

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