No dia 12 de abril de 2017, a Fundação Liberato completou 50 anos. Para comemorar a data festiva, convidei minhas colegas, professoras de Língua Portuguesa e Literatura, para orientar a escrita de depoimentos das quartas séries. Em homenagem à escola onde estudam, as turmas escreveram mensagens carinhosas. Participaram da atividade as professoras: Lucrécia Raquel Fuhrmann, nos cursos técnicos de Química (turmas 1411, 1412 e 1423) e de Mecânica (turmas 3411 e 3412); Inaciane Teixeira da Silva, no curso técnico de Eletrotécnica (turma 2411); Márcia Bratkowski Kossmann, no curso técnico de Eletrotécnica (turma 2423); e eu, Carmem Bica Beltrame, nos cursos técnicos de Eletrotécnica (turma 2422) e Eletrônica (turmas 4411, 4422 e 4423).
A seguir, apresentamos os depoimentos das turmas.
Na fase mais conturbada da vida – a adolescência – a Liberato conseguiu nos dar um outro paradigma e novos estímulos. Convivemos com pessoas incríveis e de todos os jeitos. Conhecemos todas as religiões, sexualidades, rendas, lugares, visões políticas, culturas…, crescemos juntos, diferentes em alguns pontos, iguais em outros. Encontramos professores apaixonados pelo seu trabalho, que nos apresentaram uma outra forma de aprender. Obrigado por nos proporcionar um local tão especial, não só com um aprendizado técnico de qualidade, mas também com a oportunidade de crescermos como humanos. Nos apropriamos do Gramadão, onde pudemos, por alguns poucos e bons momentos, adiar as responsabilidades; tivemos espaço para desenvolvermos nossa criatividade, as artes e, também, o espaço para matérias humanas. Obrigado por nos incentivar a buscar, pesquisar e a querer aprender sempre mais e, apesar dos momentos de muita dificuldade e desesperanças, obrigado pelo ensino. Um ensino não apenas intelectual, mas também emocional e humano. Parabéns pelos 50 anos de existência àquela que modificou completamente as nossas vidas. À Liberato, pelos quatro anos vividos da melhor maneira possível: obrigado.
Emoções a mil
Desafios, liberdade e diversidade. Esses foram os termos escolhidos para explicar a escola perfeita. E assim surgiram os liberatianos, que têm dedicado sua sanidade, combatendo a falta de tempo e de organização. Além de atividades culturais e técnicas que nos garantem uma formação completa, a Liberato nos proporciona os melhores e os piores momentos de nossas vidas. Ela nos ensina a ter dedicação, foco e autonomia. E perseverança, MUITA perseverança. Mas, é claro, que não é só isso: maturidade, autoconhecimento, respeito e tolerância, prioridades, responsabilidade, caráter, união e personalidade também esboçam a imensa mudança que ocorre conosco nesses quatro anos (ou talvez um pouco mais). Nesta escola, aprendemos a estudar de verdade, a perseguir e como perseguir nossos objetivos. Aprendemos a nos relacionar. Enfrentamos uma grande simulação do mercado de trabalho e nos tornamos pesquisadores. Aqui, somos obrigados a aprender com os nossos erros (e com os dos outros, às vezes). Tudo isso é multiplicado pela grande quantidade de tempo que passamos aqui, e é isso que faz com que esta Fundação seja o nosso lar.
Vir para a Liberato nos impulsiona para o amadurecimento profissional, uma vez que nos gera maior senso de responsabilidade e muito conhecimento didático, além da visão profissional empregada nos trabalhos em grupo e o próprio contato com as empresas. Nos mostrou que nem sempre nós sairemos bem, mas que, independentemente das dificuldades, não devemos desistir. Proporcionou um novo ciclo de amizades, que, no decorrer dos anos, se tornou uma família. Pelo simples fato de possuir um grande número de alunos que não moram nas proximidades da Fundação, aprendemos um pouco sobre costumes e características de cada um. A Gincana nos mostra que a união faz a força e vira um ponto de conforto para todos que participam dela. Na Mostratec, aprendemos a resolver problemas, desenvolvendo soluções. Além disso, a mostra acaba sendo uma porta de entrada para visualizarmos o mundo lá fora. Mas, com certeza, o principal crescimento é o pessoal, a partir do qual, ao enfrentarmos novos desafios e distintas formas de viver a vida, buscamos encontrar o caminho que queremos seguir.
A tarefa de resumir a Liberato e seu impacto na vida de nós, alunos, é árdua: a complexidade permeia as relações e processos dessa escola. No entanto, ao tentar fazê-la, mergulhados na reflexão, percebemos o quão diversas, majestosas, profundas e múltiplas são nossas experiências oriundas deste lugar. A Liberato proporciona uma bagagem diferenciada: desde as olimpíadas, passando pelo projeto de pesquisa e, para alguns, chegando às feiras. Desde os primeiros passos nas matérias técnicas até os tão temidos professores do quarto ano – perpassando a transformação pessoal de cada um. Os amigos inigualáveis, o voluntariado, a cultura – que deve ser mais fortemente semeada -, as tardes no gramado, as semanas de provas enlouquecedoras, a fome e o frio, a tentação em desistir e a superação em não fazê-lo, o choque de realidade, o amadurecimento, o contato com a diversidade em infinitos aspectos, os exemplos, o GEM68 – que deve ser cada vez mais autônomo, e ao final, a perspectiva de vida e carreira. Afinal, algo nos espera lá fora. Esse apanhado de vivências nos fez, nos faz e nos fará quem somos. Nos levará pelos caminhos que construirmos a partir desta pequena trilha. A 1411 de 2017, imersa no universo da Liberato, observando o horizonte que nos espera, deseja que esse espaço continue marcando corações e mentes, formando seres críticos e solidários e expandindo o acesso a oportunidades.
A Liberato é uma reviravolta na vida de qualquer um que se aventura a incluí-la em suas vidas. Nunca imaginamos o que vai acontecer conosco e, sinceramente, seria impossível prever. De cara, nos deparamos com obstáculos de proporções gigantescas e o desespero é quase imediato. Nessa hora, temos que nos agarrar em um único pensamento: nenhuma barreira é insuperável. O caminho é árduo, prioridades precisam ser definidas e muita coisa será deixada para trás. Faz parte do amadurecimento tomar certas decisões dolorosas. A vida aqui se baseia no choro, mas também se apoia no riso: as amizades aqui construídas serão eternas e nos acompanharão em outras tantas jornadas ao longo da vida, em outras tantas batalhas. A vitória consiste em aproveitar tudo o que a escola oferece, em perceber que um mero 5,5 pode nos alegrar tanto quanto um 10 e em nunca, sob hipótese alguma, abrir mão da felicidade. Antes das notas, somos indivíduos. Sofremos, sorrimos, choramos. Mudamos, crescemos, amadurecemos. Assim continuaremos, talvez juntos, talvez não. O futuro é incerto. Mas, enquanto existirmos, nos recordaremos do tanto que tudo aqui nos edificou e de como deixou saudades.
A Liberato, o tempo e nós depois de 50 anos
O tempo é estranho na Liberato. São quatro anos longos e curtos. Lembrando o primeiro ano, vem à cabeça a ansiedade por se tornar veterano. As dificuldades, os inúmeros temas, as dificílimas e frequentes provas pareciam intermináveis. Quando o segundo ano chegou, um pequeno ar de “hum, somos veteranos” nos atingiu. A partir daí, o tempo passou de modo peculiar. A intensidade dos sentimentos que tivemos ao longo de nossa jornada pela escola bem como as inúmeras amizades feitas nos fazem olhar para trás e sentir a sensação de que uma vida já se passou aqui dentro. Mas, ao mesmo tempo, olhamos para o futuro próximo que nos aguarda e sentimos que o tempo passou rápido demais. Que é isso, já somos quase estagiários? E o ensino médio?! Já passou? Caramba, as contas nem existem e já estão esvaziando nossos bolsos só de pensar. Gerações vêm e vão debaixo do Sol durante esses 50 anos, mas o tempo continua estranho na Liberato.
A Liberato, mais do que uma escola de ensino médio técnico, é uma formadora de caráter, possibilitando que alunos de todas as classes sociais desenvolvam suas diversas habilidades no trilhar de seus caminhos dentro desta Fundação. A transformação durante os anos é imensurável, e a bagagem que levaremos conosco não cabe em lugar algum que não seja em nossos corações. Como o próprio slogan diz “Liberato: Uma escolha, Um caminho, Um futuro.”; e, por mais árduo que esse caminho tenha sido, seja qual for o futuro que nos aguarda, a Liberato sempre fará parte de cada um de nós.
Fundação Nossa Casa
Ainda me lembro do primeiro dia
De tinta jogada no rosto por ser o principiante
De rostos diversos, pintados pela miscigenação
Grandes barreiras e uma cidade escondida atrás de grandes muros
Muros que separam uma escolha, um caminho e um futuro
E é um choque, sim, saber que o céu é o limite
É um choque, sim, saber que tu que ditas os teus atos
A liberdade nos é entregue dentro de um livro aberto
E nesse livro de livre arbítrio, nas entrelinhas, estão os fatos
Fatos aqueles que nos cercam e nos ensinam
Nos dando o mundo na amplitude de uma Fundação
Temos esse PID pra te jogar na responsabilidade
O dia mágico fortalecendo a inclusão
A chance de conhecermos um novo caminho através do paralelo
E de não precisarmos tão cedo bater o nosso martelo
Surge a Mostratec nos provando a diferença
Caímos dentro dela como visita, recepção ou finalista
E durante uma semana desfrutamos de tudo que é mais diferente
E enriquece ainda mais saber que somos parte dessa comunidade tão mista
Nunca deixaremos passar a maravilhosa gincana
Estão todos juntos na mesma canção
E independentemente do resultado que vem
Temos uma pergunta com a resposta constante
O que a Meca é? Rei!!
E demoraram quatro anos para construirmos a turma ideal
Chegamos ao quarto ano em boa forma
Quase fomos impedidos mais uma vez
Maldito seja o BBB, perdurando até dentro da turma
E o que fica são momentos que nunca serão esquecidos
Dentro da cabeça de cada um existe uma lembrança que nunca se apagará
Quatro anos dentro da Liberato valem por quarenta lá fora
Todos saem daqui adultos e com a esperança de mudar o agora
A escola funciona muito mais do que técnica ou ensino médio
Nos botou em um abrigo e por muito tirou nosso tédio
Foi mais do que uma liberdade boba e um tempo em que curtição era a única forma de usufruir
Acima de tudo, nos trouxe um futuro em que cada um pode se construir
“Ao estarmos no 4º ano do Curso de Eletrotécnica, podemos ressaltar a capacidade que a Fundação possui em transformar a vida das pessoas, nos trazendo perspectivas para o mercado de trabalho e autonomia para tomar decisões sobre nossas vidas, tanto no âmbito pessoal quanto profissional. A diversidade nos temas abordados em aula, durante todos os anos letivos, nos faz adquirir conhecimento e crescimento ético, tornando os quatro anos vividos aqui, em uma etapa da vida muito maior, sendo responsável por transformar crianças em profissionais dedicados e competentes. Além disso, um aspecto da Fundação são as amizades transformadas em laços que iremos levar para a vida toda. A Liberato é muito mais que uma escolha, um caminho e um futuro, pois fazemos diversas escolhas para traçarmos vários caminhos e vivermos inúmeros futuros.”
Durante esses três anos que se passaram as coisas mudaram bastante. No primeiro ano, a maior preocupação era Sociologia e como se achar numa escola tão grande. Meu Deus, quanta gente?! Como eu vou lidar com tudo isso?
Mas logo os caminhos dos banheiros já se tornaram familiares e surgiram outros desafios. Como eu vou montar esse circuito enorme em digital? Como diabos surge tensão nesse indutor? A escola logo se tornou casa, tomando cada vez mais espaço em nossas vidas. As tardes cujas maiores preocupações eram subir no ranking no videogame agora foram tomadas por protoboards lotadas de fios emaranhados em maneiras incompreensíveis. “Mas como não funciona? Eu fiz tudo certo!” se tornou a frase mais comum.
Ao mesmo tempo, conhecíamos caminhos diferentes. Agora, veteraníssimos, nos aventurávamos em outros cursos, conhecendo novas pessoas e lugares cada vez mais longe da escola.
No terceiro ano, a emoção de ver o programa compilar direitinho, minutos antes do prazo de entrega. Ver o LED piscar no padrão certo depois de horas atrás do erro em dezenas de linhas de código. Sofrer com desgosto a famigerada Semana do TI, passando noites em claro. Completar/começar o caderno de campo no dia anterior à banca! E no final do ano, o aguardado descanso, seja por sucesso ou resignação.
E agora, no quarto ano, uma certa melancolia. Depois de anos tendo a escola como segunda casa, a sensação de que o fim está à porta não agrada. Nem todos gostam do curso, mas todos desenvolveram carinho pela escola. Com certeza, será o ano mais diferente, em que será necessária maior demonstração de independência e autossuficiência. Quem diria que os piás do primeiro ano virariam adultos tão rápido? Parece ontem que passávamos tardes maravilhados no gramado, apaixonados pelo verde da escola. A Liberato nos mudou, e muito, e deixá-la pra trás com certeza não será fácil.
Meio século de vida. Meio século de histórias vividas, contadas e escutadas. Meio século de música, teatro e dança. De destinos traçados, objetivos concluídos, sonhos realizados. De um passado glorioso e um futuro promissor. Meio século de escolhas feitas, caminhos cruzados e futuros auspiciosos. Parabéns por mim, por ti, por nós, Liberato.