O despertar da vida

BORBO2

E mais uma manhã eu despertava, estava tudo quieto no andar de baixo de minha casa, tudo normal, exatamente como era todos os dias da semana. Era para ser só mais um dia como qualquer outro, um dia simples, era só eu acordar, levantar, ir trabalhar, voltar para casa, discutir com minha esposa e ir dormir bravo novamente pelas discussões sem nexo que tínhamos a cada dia que se passava.

Quando finalmente abri os olhos e me situei um pouco, notei que os pássaros que gorjeavam todas as manhãs e que eu amava ouvir, já não estavam mais em minhas árvores como de costume, também notei que minha esposa não estava ao meu lado como sempre fazia. Tudo continuava quieto, em um silêncio mortífero, não se ouvia nada, nem mesmo passos na gigantesca casa.

Levantei-me como de costume, mas algo parecia diferente, algo me parecia errado, era algo forte que golpeava meu peito, mas, com a confusão do recém acordar, não me lembrava do porquê dessa dor enorme que quase me matava. Fui ao banheiro, lavei meu rosto e me olhei no espelho, vendo meu rosto que outrora parecia muito mais vivo, mas já agora parecia meio morto. Voltei ao quarto e, então, pude notar que ao lado de onde eu dormia, onde minha mulher sempre ficara, nada fora mexido, aquele lado estava ainda completamente arrumado.

Desci as escadas e ainda tentando entender o que havia acontecido ontem à noite, pois não me lembrava de nada após o trabalho, nem das discussões e ainda menos das inúteis brigas diárias e, então, me deparo com a sala, novamente um cômodo sem alma, sem ninguém, sem o meu amor. Mas onde será que ela estaria tão cedo da manhã, se eram apenas 6 horas?

Continuei indo de cômodo a cômodo, cozinha, sala de jantar, quarto de hóspedes, mas não a encontrei em nenhum lugar, fui ao quarto das crianças e, para minha surpresa, elas também não estavam lá. Para onde minha mulher e meus filhos teriam ido tão cedo, a ponto de suas camas estarem arrumadas?

Minha preocupação aumentava, meu coração acelerava a cada cômodo que eu passava. Em direção ao jardim, eu tentava imaginar o que eu teria feito de tão ruim para tudo isso estar acontecendo, mas não conseguia. Quando cheguei lá, me deparei com as ruas vazias e uma leve neblina que deixava o ar com uma solidão eterna. Então gritei o nome de minha mulher e de meus filhos, baixo no início, mas depois a minha voz podia ser ouvida a quarteirões de distância e, mesmo assim, os meus bens mais preciosos não davam retorno algum e nem os vizinhos acordavam.

Ninguém respondia. Com um forte desespero, invadi as casas dos meus vizinhos e, a cada casa, notava a semelhança da casa deles com a minha, ninguém nos cômodos, casa toda arrumada e um ar sinistro dentro de cada uma. Quando dei por mim, notei que estava sozinho e sem ninguém, e nada adiantaria ficar ali parado. Voltei a minha casa, peguei meu carro e fui em direção ao centro da cidade.

No caminho, nada se alterava, era neblina e mais neblina, cada vez mais densa, e as casas, mesmo com o passar do tempo, continuavam sem demonstrar qualquer sinal de vida, eram casas mortas, nada mudava. No centro, o cenário era igual, prédios, escolas, hotéis, bares, baladas, todos os lugares sem ninguém, nenhuma pessoa, nenhuma alma sequer, tudo praticamente morto.

Continuei minha procura durante horas e nada avistei, já começava a acreditar que todos haviam morrido e me deixaram para sofrer a sós, na solidão e a pagar meus pecados cometidos por aqui. Eu já estava quase desistindo de viver, pois não achava as joias mais preciosas de minha vida em lugar algum.

Pensei em olhar, por último, o maior prédio da cidade, se nada achasse ali, me jogaria do alto, pois já estava morto por dentro, sem minha mulher e filhos não sou nada a não ser pele e osso. Como constatava a cada andar, mais e mais inércia, sem ninguém, sem nada vivo, a não ser eu que vagava por ali.

Cheguei ao terraço e nada, não encontrei ninguém. Subi vinte andares e dali o que me restava era a vista da qual se podia ver a cidade inteira, uma cidade sem ninguém, uma cidade morta, onde o que tinha era neblina e casas vazias.

Parei à beira do abismo que estava a minha frente, a queda seria feia, seria algo que não sentiria e eu, finalmente, poderia sumir, assim como todos fizeram, e não ficaria mais sozinho. Eu enfim iria ficar ao lado dos meus preciosos tesouros, seja lá onde eles estivessem.

Então, subi a mureta e, de uma forma como se meu corpo já não aguentasse mais tanto sofrimento, me joguei os vinte andares abaixo. Tudo foi tão rápido para qualquer observador, mas para mim passou como horas e horas, me vendo e revivendo tudo que eu já tinha passado até aquele momento e, então, cheguei ao chão. Nesse instante, acordo de súbito, em minha cama novamente, tenso, suado e com uma respiração ofegante.

Olho em volta do meu quarto e vejo minha mulher ao meu lado, ela ainda dorme tranquila. Então, me levanto e vou até o quarto dos meus anjos para ver se isso não é uma ilusão de minha mente. A casa e os móveis continuavam os mesmos, mas a vida havia voltado à casa. Chegando ao quarto, vejo que eles dormem como anjos e, então, solto um suspiro de alívio, ao notar que recebi mais uma chance de poder ser feliz. Volto ao meu quarto, minha mulher acorda e me pergunta meio manhosa – O que aconteceu, amor? – eu só sorri para ela e disse – Nada, minha vida, só que finalmente abri meus olhos para os meus verdadeiros motivos de viver: você e nossos bebês.

 

Luis Henrique Kolba Aluno do Curso Técnico em Eletrotécnica

Luis Henrique Kolba
Aluno do Curso Técnico em Eletrotécnica – Fundação Liberato

 

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