FICHA TÉCNICA
Direção: Álex de la Iglesia
Gênero: Comédia dramática
Tipo de filme: longa-metragem
Fotografia: Ángel Amorós
Música: Víctor Reyes
Edição: Domingo González
Nacionalidade: Espanha, Itália
Ano de Produção: 2017
RESENHA
Perfeitos Desconhecidos (Perfectos Desconocidos) é uma adaptação da comédia italiana ‘Perfetti Sconosciuti’, que foi sucesso de público e de crítica. A versão espanhola foi, igualmente, considerada um êxito, e o filme levou seu diretor a concorrer ao Oscar do cinema latino. A adaptação manteve a sinopse do filme original, mas foi revestida com o tom de comédia, próprio do estilo marcante do Diretor espanhol. Esse trabalho autoral pode ser visto na Netflix.
O longa-metragem mostra sete amigos de longa data (três casais e um solteiro, cuja namorada está doente) que se reúnem para jantar em uma noite de raro eclipse lunar. Durante o jantar, após uma série de discussões sobre a existência ou não de conversas comprometedoras nos aparelhos celulares dos presentes, é feita a proposta que se torna o grande atrativo do filme. O grupo decide fazer um jogo arriscado em que todas as mensagens e ligações recebidas deveriam ser lidas em voz alta ou ouvidas no viva voz, mostrando assim que ninguém tem nada a esconder de seus parceiros. A partir desse momento, a tensão no filme é estabelecida. Todos colocam seus smartphones na mesa e, a cada novo toque do celular, as revelações e os conflitos se tornam inevitáveis. Não demora muito para as máscaras caírem, e os amigos descobrirem que não se conhecem tão bem quanto haviam imaginado. Os segredos começam a aparecer gerando um clima pesado, inusitado e desconfortável.
O enredo é atualíssimo, porque mostra a relação de dependência com o celular e discute como a tecnologia interfere nas relações amorosas. “Essas coisas se tornaram verdadeiras caixas pretas” como um dos personagens define o celular, uma vez que ali se mantém conversas, relações, contatos e imagens, que, mesmo representando interações apenas virtuais, possivelmente, causariam constrangimentos se expostas, de forma descuidada.
Durante todo o filme, o diretor constrói um clima ao mesmo tempo cômico e tenso, mostrando comportamentos extremos, exagerados, em que os risos são de nervoso e a tensão gerada por situações absurdas e disparatadas. O longa joga com a tensão do público, curioso para saber qual será o próximo telefone a tocar, quem será o próximo amigo exposto e qual segredo será revelado.
O filme, no seu início, aparenta simplicidade, mas vai apresentando, pouco a pouco, temas complexos, ótimos diálogos e profundas reflexões sobre a sociedade nos dias de hoje. O enredo e as interpretações são primorosos, bem como a habilidade de desenvolver toda a narrativa em praticamente um único espaço cênico.
Perfectos Desconocidos faz uma crítica inteligente sobre as relações tão socialmente mascaradas, trazendo boas reflexões sobre preconceitos velados de uma classe média hipócrita, relações pessoais e tecnologia.
Maria Inês Utzig Zulke
Psicóloga
Fundação Liberato