Os dois tordilhos

Gabriel Chies

Narrativas elaboradas pelos alunos da disciplina de Língua Portuguesa, das turmas 1311 e 1324, do Curso de Química, da Fundação Liberato, com o conteúdo Pré-Modernista e selecionadas pela professora Elíria Maria Poersch.

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Campeiro bueno, com uns vinte e tantos anos, caçava os perigos, ora nas coxilhas, ora no planalto dos pampas. Vivia atirando-se à vida, mas, certa feita, um causo interessante lhe ocorreu.

O minuano soprava forte na coxilha e o campeiro, amigo de longa data, marchava tranquilo no lombo de seu tordilho negro. Após horas de cavalgada sob a intensidade escura e sobre arbustos e gramíneas, ouviu um zumbido aragano, como se as folhas verdes dos arbustos anunciassem o fato que ali ocorreria.

Mais desconfiado que maragato em jogo do osso, apeou. Abriu com os braços vigorosos, tratados pela lida campeira, alguns galhos de arbusto. Para a sua surpresa, um outro tordilho, de pelagem tão clara que se assemelhava ao sereno das madrugadas de julho, o qual, com certeza, não viera daquelas bandas. Percebeu que o zumbido que outrora ouvira aumentou e vinha junto com o barulho do córrego que mais abaixo passava. Decidiu descer e conferir.

Caindo pela encosta, deparou-se com bela prenda, despida, a banhar-se nas águas e que, percebendo sua presença, fugiu de sobressalto. Vestiu-se e partiu no lombo daquele belo tordilho de pelagem alva. Deixou para trás, porém, uma corrente de prata, que, por certo, valia algumas boas onças.

O campeiro partiu de pronto para o outro lado, mas, por impulso, retornou. Apanhou a bela corrente e vendo o seu valor, por um instante, hesitou. Pensou em vendê-la, pois passava por dificuldades para tratar seus cuscos. No entanto, seu espírito valoroso logo venceu. Vendo o tordilho se distanciar, lançou-se atrás da bela moça.

Ao encontro dos dois tordilhos, a corrente foi devolvida e em troca, o campeiro ganhou não só a admiração da moça, mas também seu coração. Sendo assim, os dois tordilhos presenciaram o que aqui não me cabe descrever.

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