Olhos verdes

Narrativas elaboradas pelos alunos da disciplina de Língua Portuguesa, das turmas 1311 e 1324, do Curso de Química, da Fundação Liberato, com o conteúdo Pré-Modernista e selecionadas pela professora Elíria Maria Poersch.

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Um baita minuano soprava pelas terras de São Francisco de Paula. Um que outro sabiá se atrevia a cantar, e com o sol baixo já era hora do guri ir buscar pão fresco no armazém da esquina. Ele sempre se oferecia para ir ao mercadinho. Nunca havia dito a ninguém, mas a mãe já sabia o motivo da solicitude de Gonçalo em ir buscar pão. A moça que atendia no balcão dos pães tinha uns olhos verdes que explicavam tudo. Sete horas no seu relógio de bolso, hora do café, hora de ir buscar pão.

– Boas tardes, meu anjo.

– Oi, uma dúzia, né?

Enquanto trocavam umas poucas palavras, porque a moça não dava muito assunto, ela ia colocando na sacola uma dúzia de cacetinhos que sabia que ele ia buscar como fazia todos os dias.

Não era um jovem feio, nem mal educado, mas a moça já era comprometida com um grandão que tinha bigode e andava sempre de bombacha e com o chimarrão na mão. Era um caminhoneiro que passava longas temporadas longe de casa. Justamente quando o guri estava lá, o noivo havia chegado e ido ver sua menina. Escutou pela metade uma frase que julgou denunciar um suposto caso entre a jovem e Gonçalo.

O esquentado nem pensou duas vezes, jogou no chão o chimarrão e pulou de soco em cima do pobre Gonçalo. A moça primeiro ficou pálida, sem saber o que fazer, depois tentou apartar a briga. O noivo irritou-se com a moça, imaginando que ela estava defendendo o amante, saiu de cima do garoto e sentou a mão com força na bochecha dela. Assustada com a brutalidade do homem, ela se deixou cair por cima do balcão.

O sangue de Gonçalo ferveu com a atitude do homem. Ele percebeu na cintura do homem que partia novamente para cima da moça uma arma. Não pensou, apenas levantou-se correndo, agarrou a arma e disparou um tiro no peito do homem, que havia virado para sua direção ao sentir um puxão na cintura.

Depois desse ocorrido, Gonçalo não mais viu a moça dos olhos verdes. Só via agora o sol nascer quadrado.

Francieli Machado da Silva

Francieli Machado da Silva

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