Sempre gostei de mulheres que jogam sorrisos ao vento, que olham pro mundo com olhos brilhantes e deslumbrados como se vissem um mundo inteiro de magias em um único detalhe de uma calçada da rua. Essas mulheres cujos seios pulam quando caminham, como se o amor, abundante em seu peito, quisesse sair por aí. Essas mulheres que amam só olhando, que fazem voar com um toque leve de suas mãos macias. Essas mulheres que, com a suavidade de seus passos, dançam em vez de caminharem.
Eu segui Ana desde a primeira vez em que a vi. Consegui acompanhá-la, ofegante, admito, até pelos caminhos eufóricos que ela percorria correndo e pulando com uma alegria que transbordava, uma alegria quase de criança. Eu a segui pelos altos dos morros, pelas estradas, por entre as flores dos campos que ela amava… E tive todo o cuidado pra que ela não me visse. Eu, tão medroso desde pequeno, tinha medo de sua feminilidade estupidamente linda.
Naquele dia pela manhã, encontrei meu irmão escrevendo uma carta para ela. Ele, imbecil e estúpido, escrevia sobre seus desejos nojentos. Meu irmão via Ana como uma mulher sensual e sutil, dona de um corpo voluptuosamente provocante. E tinha, por ela, desejos carnais, músculos e cegos. Meu irmão era bom dos olhos, mas tinha a alma cega. Quando o encontrei rindo enquanto escrevia bobagens para a mulher mais linda que eu já havia visto na vida, sentei ao seu lado na mesa em que escrevia, peguei a faca que há poucos minutos eu havia usado para cortar a maçã de meu desjejum e cravei em sua mão. Era para ele aprender a dar valor para suas mãos e usá-las para atitudes nobres. Depois, me arrependi. Mas, ao menos assim, até hoje, se o vejo, ele não me olha mais nos olhos.
Desde seu primeiro passo naquele mesmo dia, eu percebi que Ana andava diferente. Como se seus passos quisessem provocar alguém que a via. Talvez eu. Mas eu não tinha certeza se ela sabia que eu estava ali. Ela foi indo em direção contrária é estrada que sempre pegava e onde havia campos, eu nunca tinha andado por ali. Chegamos a um bosque. Ana deitou-se no chão, admirando as árvores debaixo. E eu contemplava sua suavidade iluminada pelos raios solares que atravessavam as plantas emaranhadas de um bosque sombrio, atrás de alguns arbustos. Eu não a podia amar. Mas sentia aquilo se espalhando por meu peito como um calor puro, evasivo, dominante. Ana levantou-se enquanto eu estava mergulhado em sua beleza, dando-me um susto. Começou a falar com um sorriso doce, de menina quase indecente, que sabia que eu estava ali. Que me viu todas as vezes, desde a primeira vez em que a vi. E que, naquele momento, ela queria entregar-se para mim. Como quem se entrega ao prazer de tomar algo doce e quente em um inverno gelado. Meu coração, saltando do peito, perdia-se em uma arritmia saudável. Ela correu por entre as árvores com uma magia encantadora, e dançou com seu vestido leve a vibração que nos dominava. Pediu, com sua voz aconchegante, para que eu saÃsse de trás dos arbustos. Saí e me pus em pé a sua frente a uns dois metros de distância. Ela me olhou nos olhos. E vi, a inocência dominando-a por não haver pensamento algum em sua mente que sempre, até então, foi inquieta. Ela correu e mergulhou em um abraço profundo. Senti como se eu estivesse sendo dominado por algo puro, por algo que me deixava leve. Ela devagar começou a tirar seu vestido de menina mulher. Eu já havia percebido que toda mulher fica diferente quando está nua. Ana, sempre tão eufórica, mostrou seu lado mais encantador. Sutilmente, me olhava com os olhos de quem não percebe a realidade e mexia-se com movimentos calmos, de uma forma tão linda, inexplicavelmente sensível e quente. Seus lábios eram quase um crime contra mim, cortavam-me a lucidez, e eu entrava junto em sua dança instintiva. Eu não a podia amar. Eu me perderia em suas voltas, em suas visões fantasiosas, em suas palavras tão bem arranjadas, em sua alma tão cheia de caminhos, em seu ventre delirante. Eu, definitivamente, não a podia amar. Mas amei.