Sobre o cotidiano

Certas vezes, fico pensando que as coisas que fazemos são sempre visando finalizar a linha, cortar a faixa para poder dizer “cheguei!”. A alusão a uma corrida é legítima: o que não fazemos sempre, durante a rotina diária, é correr, para todos os lados. Acordar, sair para estudar ou trabalhar, trabalhar, trabalhar, estudar, estudar, voltar para casa, nem lembrar o que almoçamos nesse dia veja que o almoço nem mesmo foi citado nessa breve lista de atividades cotidianas. Pois é, é isso, mas a intenção não é criticar a vida lida, é um mal necessário esse de nos tomarmos pelos nossos afazeres e erguermos as mangas para enfrentar com garra “e às vezes com preguiça de acordar antes das 6 “aquilo que nos sustenta, que é a nossa responsabilidade e nos dá um lugar neste mundo em sociedade. Só que, às vezes “sim, às vezes é eufemismo“ nos passam tão despercebidas certas coisas que a banalidade chega a virar sinônimo de cansaço.

Falta sensibilidade, percepção para buscar um ponto de equilíbrio, eu diria. Deverí­amos nos dar um tempo para observar “ o rio pode estar bem em frente a um balcão de atendimento e o pôr-do-sol, quem sabe, seja mais excepcional da janela de um escritório. Eu tento, dia a dia, me dar um tempo para perceber o ambiente, o quão arborizado é em frente à minha sala, como o ar poderia ser mais carregado “sendo que já é“ sem aquela demonstração de magnitude da natureza. Isso faz bem, me faz menos encanado nessas coisas que dão dor de cabeça, nessa sede que o compromisso termine. Sou sincero: o compromisso tem que terminar, ninguém produz nada sem seu tempo de lazer. Sejamos, porém, mais despojados, mais amigos do que é nosso, afinal, o que importa é a caminhada que trilhamos todos os dias e, com a devida licença poética “ porque a vida é poesia “ cito uma dessas máximas populares: tá no inferno, abraça o capeta. No fim das contas, não vai nos cair um dedo se formos mais otimistas.

Muitas vezes, ouvimos o vizinho, o colega da mesa ao lado, o pai ou sei lá quem dizer que o problema todo é stress “aportuguesando, estresse. E é. Estresse, esse estado de cansaço, de indisposição pelo que a banalidade se tornou, quando vemos que a vida mundana, esta de todo dia, companheira, chegou a uma pressão insustentável e o que queremos agora é o divórcio, não tem mais solução. Paradoxo: insustentável deve estar na lista de termos a liberar vaga já para a próxima edição do Aurélio. O mundo quer sustentabilidade, essa, sim, está na moda e divórcio, só de casamento falido, aquele que nem se chama mais de casamento. Mas a vida diária a gente muda, é um móvel que, mesmo quebrado, merece conserto: é quando não pegamos os limões e fazemos uma limonada daquelas.

Filipe Barbosa Cieslak Estagiário do Curso Técnico em Eletrotécnica da Fundação Liberato

Filipe Barbosa Cieslak, Estagiário do Curso Técnico em Eletrotécnica da Fundação Liberato

 

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