Com passos suaves, macios, quase imperceptíveis, um casal de namorados passa sobre o tapete de flores que circunda os caminhos no Parcão, em Porto Alegre. Mais parecia flutuar do que caminhar e sentir o caminho. A jovem, após passar a mão no seu cabelo, como se estivesse buscando inspiração, e, sentindo o seu corpo, faz o mesmo em seu namorado. O jovem sente-se acariciado e lhe retribui com um beijo. Neste instante, que bem poderia ser eternizado pela emoção, pelo abraço e pelos olhares de ambos, deixa-se concretizar quando a jovem abre a sua mão e deixa cair um pedaço de papel dobrado.
Distante do colóquio que transforma o sentir em felicidade e vida, um jardineiro do parque, ao cumprir a sua missão, transpassa com a sua “lança” o pequeno pedaço de papel. Diante da cena inusitada e repleta de magia, numa atitude inexplicável, toquei no ombro do catador. Este ficou imóvel. Sem falar uma palavra. Minha mão alcança a ponta da lança, onde está cravado o pequeno papel. Retiro com cuidado. Agradeço. Abro. Encontro uma mensagem: “ESTE É O AMOR DE MINHA VIDA”. Dobrei o bilhete e fiquei a pensar…
Qual a intenção da jovem ao lançar a mensagem? Para quem? O que ela esperava?
Se o papel fosse molhado as letras ficariam disformes e a mensagem seria imperceptível. Se, como os demais papéis, fosse reciclado, o que sobraria? Se fosse queimado, em que se converteria?
A busca da magia. A completude de uma intenção. A promessa de amor ao infinito, talvez, eterniza a busca de sua vida, ficando em outra dimensão. Talvez, pensasse que as letras resplandecentes iluminariam o Universo. Talvez, pensasse que as letras, como correntes, se prenderiam nos umbrais da criação. Talvez, pensasse que as letras poderiam transmutar os sonhos.
E, com passos lentos, abraçados, unidos pelos cabelos, se distanciam no caminho.