Vida sine qua non

Chega uma hora em que cabe um balanço, uma ponderação de erros e acertos ou, não tão simplista assim, uma visualização daquilo que foi e do que ficou. Falo sobre experiências, dessas que se tem na vida e que nos acrescentam algo de uma forma que nos faz ter mais intimidade conosco mesmos, a pensar diferente e, também, nos ensina a ter uma nova lente sobre aquilo que queremos e que prospectamos.

Terminar a vida de aluno do ensino técnico, sim, é o motivo do balanço que faço aqui, hoje, pois foi na Liberato que cresci como pessoa – literalmente, pois eu deveria ser uns 15 centímetros mais baixo, quando entrei em 2008 – e desenvolvi o meu próprio diferencial, por observações, por criticidade, por incentivo, por amizade. Foi onde passei a ter contato com a área técnica, mas mais do que isso, foi onde humanizaram-se as relações, onde as coisas foram tomando rumos, a bagagem foi aumentando e a vida foi se projetando. Sim, se projetando, porque aprendi que é um conjunto de projetos isso que a gente vive: trabalha-se incansavelmente por ideias, por conceitos, seguem-se regras muitas vezes, tudo por um objetivo. E esses tais projetos só são concluídos quando os objetivos são alcançados.

Mas que graça teria simplesmente em alcançar os objetivos se não tivesse essa coisa de observar, de criticar, de inventar, de se estimular? Uma teoria dessas só seria boa se o caso fosse dinheiro, que é sempre bom ter e, se for fácil de ganhar, melhor. Só que ler a vida – sim, ler a vida, ler olhares, ler pessoas – é algo além de ter respostas fáceis, pois, afinal, se o problema fosse pequeno, a solução também seria e não se precisariam de anos para que a missão final fosse cumprida. Além do mais, a gente nem mesmo sabe o porquê de estarmos aqui, os objetivos não são tão claros quanto gostaríamos e o que nos resta é o improviso.

E improvisar também não é fácil, porque a vida em sociedade exige que sejamos parciais. O mundo espera que sejamos corteses, o que nem sempre somos, para nos retribuir, o que nem sempre acontece, pois, mesmo que tudo aparente perfeitamente em ordem, há o fator sorte, que “aleatoriza” os acontecimentos e diferencia as nossas caminhadas de um gráfico matemático. Pois é, não é tão exato assim e não há equação que diga que a colheita vai ser tão boa quanto esperávamos.

Vale dizer, porém, que, se o plantio foi feito e se houve aprendizado, as coisas hão de retornar – um pouco de fé não faz mal –, até porque ninguém precisa aceitar ser gauche na vida. O que eu quero é poder ver com clareza, enfrentar os desafios que virão – sei que serão vários –, tomar o meu rumo – feliz, que é o que importa –, tentar, a cada dia, entender esse mundo que me cerca, fortalecendo as perspectivas, mas, claro, não vivendo só de futuro, pois esse não passa de dois pássaros voando, sendo que o agora já está aqui, na mão. Já dizia Cora Coralina: “O que vale na vida não é o ponto de partida e, sim, a caminhada”.

Filipe Barbosa Cieslak Aluno da Fundação Liberato

Filipe Barbosa Cieslak,
Aluno da Fundação Liberato

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