O rio que passa

o rio que passa

todo dia

saio rápido

busco a estrada

acelero

cruzo a ponte

sigo adiante

quero chegar ao meu destino

cumprir o horário

honrar o compromisso

nem me dou conta

na pressa de todo dia

de que embaixo daquela ponte

mora um rio que

silencioso na sua liquidez

também vai

segue em frente

cumpre sua sina

é humilde o rio que passa

nem se dá conta ele também

de que seu curso d’água

enfeita a geografia

da cidade onde moro e

já foi caminho

pra muita gente chegar ou partir e

reserva de alimento

pra quem tinha fome

o rio segue e, como eu, também quer chegar

ao seu destino – de mar?

nada sabe da sua condição de rio

do seu potencial de sustentabilidade

é apenas um rio que

vai acolhendo tudo o que nele colocam:

coisas boas

coisas nem tão boas

coisas nada boas…

quando cruzo a ponte

lanço-lhe um olhar apressado

e o brilho de suas águas

imprime em minhas retinas

uma imagem de cartão postal

o rio que passa pela minha cidade

é só um rio que passa

mas como dói!

Carmem Maria Bica Beltrame Professora da Fundação Liberato

Carmem Maria Bica Beltrame
Professora da Fundação Liberato

 

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