o rio que passa
todo dia
saio rápido
busco a estrada
acelero
cruzo a ponte
sigo adiante
quero chegar ao meu destino
cumprir o horário
honrar o compromisso
nem me dou conta
na pressa de todo dia
de que embaixo daquela ponte
mora um rio que
silencioso na sua liquidez
também vai
segue em frente
cumpre sua sina
é humilde o rio que passa
nem se dá conta ele também
de que seu curso d’água
enfeita a geografia
da cidade onde moro e
já foi caminho
pra muita gente chegar ou partir e
reserva de alimento
pra quem tinha fome
o rio segue e, como eu, também quer chegar
ao seu destino – de mar?
nada sabe da sua condição de rio
do seu potencial de sustentabilidade
é apenas um rio que
vai acolhendo tudo o que nele colocam:
coisas boas
coisas nem tão boas
coisas nada boas…
quando cruzo a ponte
lanço-lhe um olhar apressado
e o brilho de suas águas
imprime em minhas retinas
uma imagem de cartão postal
o rio que passa pela minha cidade
é só um rio que passa
mas como dói!