Sugestão de leitura: O Outro Lado – noveleta pueblera

10-Livro-Aldyr-Schlee-Regina-Unigaretti-Maior

Sugestão de leitura:

O Outro Lado – noveleta pueblera

de Aldyr Garcia Schlee

10-Livro-Aldyr-Schlee-Regina-Unigaretti-livroFICHA DO LIVRO:
Título: O outro lado, noveleta pueblera
Autor: Aldyr Garcia Schlee
Editora: Edições Ardotempo
Ano de publicação: 2018
144 páginas

Aldyr Garcia Schlee, escritor gaúcho falecido em dezembro de 2018, tinha como ambientação de sua criação literária a região fronteiriça de Brasil e Uruguai, mais especificamente Jaguarão-Rio Branco que ele insistia em dizer que era sua pátria que ele chamava de Uma Terra Só. Apesar de escrever sobre o universo do homem do pampa, Schlee não trabalha com as questões do gauchismo folclórico. Suas histórias ultrapassam o regional fronteiriço, são de temática universal. Há no descampado da geografia regional uma solidão imensa de homens, mulheres e crianças que entendem (mesmo que inconscientemente) que a vida é de cada um. O ambiente interiorano cantado pelo autor não está apenas na geografia física, cada uma das histórias, cada tragédia pessoal, cada aventura reflete, sem pieguice, o drama particular de se estar vivo.

Minha sugestão de leitura, entre os tantos livros de Schlee, é a noveleta pueblera – O outro lado, lançada em 8 de dezembro de 2018 uma semana antes de sua morte. A narrativa de O outro lado conta a história de José Jacinto e Marita, carentes de tudo, carentes de nada, absolutamente inteiros, compartilhando a vida. Cada um, na sua solidão e aspereza, busca salvação no amor e na interferência divina que os levam ao destino.

José Jacinto, enquanto espera o carro-motor para mais uma de suas tantas andanças, encontra um pacote de papel pardo cheio de dinheiro abandonado num banco da estação de trem. As experiências e vivências das personagens definem os rumos da história, compondo o espaço social de uma época, colorido pelos hábitos, superstições e sonhos que formam um mosaico mítico. O narrador, intencionalmente, avança e recua a narrativa, questionando de forma ambivalente valores e crenças das personagens, cujo silêncio comunica mais que a própria fala.

Schlee, mais uma vez, disfarça o universal na melodia pampeira da fronteira Brasil-Uruguai, onde o aqui e o se confundem pelo nomadismo em que as personagens circulam na segurança de pertencerem a uma terra só. Este é apenas um dos pontos de atualidade do texto. No momento em que as fronteiras terrestres estão tão delimitadas, quando os homens deixaram de pertencer à Terra, mas a Terra passou a ter porteiras, esta novela também nos lembra de nosso direito de ir e vir. No diálogo com o texto, na busca de preencher lacunas – tarefa que só cabe ao leitor – somos capazes ainda de perceber as carências e necessidades dos dias atuais tão cheios e tão vazios. Na pobreza e rusticidade, Marita e José Jacinto vivem “horas, dias, noites de risadas largas, assovio solto e passadas fortes; eram horas, dias, noites de ter tudo, de dizer tudo – sem precisar ter nada, sem precisar dizer nada, sem precisar fazer nada” (p.47).

Regina Leitão Ungaretti

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *