A primeira impressão é a de que já vimos ou ouvimos essa história antes: papéis invertidos. A diferença é que, nesse filme, o mundo está invertido. Não há apenas a inversão dos papéis homem/mulher. Não é um homem num corpo de mulher… não é uma mulher no corpo ou no mundo de um homem… Em “Eu não sou um homem fácil”, Damien (Vincent Elbaz) bate a cabeça e acorda num mundo dominado pelas mulheres. A inversão não se restringe a algumas pessoas, mas acontece com a sociedade. A inversão é de gênero… Os homens (no plural) são, agora, objetificados nos costumes, nas roupas, na questão estética, na relação com o corpo… essas “coisas de mulheres”.
O filme provoca boas risadas, é verdade. Dá um gostinho bom imaginar os homens vivenciando o que para nós, mulheres, é o cotidiano, porém, fica um vaziozinho… Afinal, por que um dos gêneros tem de ser dominante? Mas vamos ao enredo!
A história é engraçada, os atores são ótimos e a trama é muito bem construída. As situações que Damien vive no dia a dia são absolutamente plausíveis. Não há exageros. São situações normais de família, trabalho, pressões, amores, desamores, enfim, são situações que acontecem conosco todos os dias.
Damien, um machista metido a conquistador, bate a cabeça e desperta num mundo em que as mulheres agem como ele costuma(va) agir. Elas dominam. Elas assediam. E a questão é que, nesse mundo, isso é o normal. Estão todos adaptados a essa situação, menos Damien, a quem a inversão não atinge… Por exemplo, seu amigo é “dono de casa”, cuida dos filhos, da casa, tenta cuidar do corpo… e sua esposa não lhe dá o devido valor! O pai de Damien é dominado por sua mãe feminista. No trabalho, as mulheres lideram e ocupam os cargos de chefia. Inclusive, sua chefe o assedia e não valoriza seu trabalho. Os homens, agora, são o sexo frágil e Damien não faz parte “desse” mundo.
O corpo masculino passa a ser o objeto. Os homens mostram o corpo e usam roupas curtas, enquanto as mulheres usam terno e andam sem camisa nas ruas. A cena do peito peludo provocando “nojinho” é hilária!
Vale destacar a atuação da atriz Marie-Sophie Ferdane: uma personagem arrogante; aproveitadora; conquistadora barata; insuportável! Uma atuação fantástica!
No início, quando as mulheres mexem com Damien nas ruas, ele se diverte, no entanto, em pouco tempo, passa a se irritar com o assédio.
Damien vivencia a opressão que os homens sofrem, subjugados e/ou traídos por suas mulheres. O humor do filme está tanto nos detalhes quanto na trama em si, apesar dos clichês. Além do mais, instiga-nos a uma reflexão sobre o feminismo. E, obviamente, sobre o machismo.
Daí voltamos ao questionamento proposto no início: por que tem de haver a dominação de gênero, seja ele qual for? Qualquer dominação gera frustração, assédio e, muitas vezes, violência!
Só pela reflexão, pelos questionamentos que o filme provoca, já vale! E o final… é surpreendente!
Filme: Eu não sou um homem fácil (Je ne suis pas um homme facile)
Atores principais: Vincent Elbaz e Marie-Sophie Ferdane
Direção: Eleonore Pourriat