Quando nos preparamos para ser pai, ou mãe, algo inexplicável, nos acontece. Abandonamos nosso egoísmo, nossos sonhos privados, os recantos de individualidade de nossas vidas e passamos a dar prioridade ao novo ser que se apresenta.
A criança nos faz aprender a dividir tudo que possuímos, por isso, crescemos em humanidade. Quando acolhemos um bebê nos braços, lembramos o quanto somos frágeis e como precisamos uns dos outros. Talvez tenha que ser assim.
A paternidade, sobretudo em meu caso, veio em uma fase em que isso já estava em forma de sonho a ser concretizado.
Quando eu era menino, de pouca idade, cerca de nove anos, ficava com meus irmãos em casa, para que meus pais pudessem ir ao culto religioso. Faziam várias recomendações, e como eram muitas, eu tinha dificuldade de lembrá-las. Então, eu ficava olhando muitas vezes o relógio, que parecia inerte, naquelas noites longas. Assim, aprendi a cuidar daqueles pequenos. Depois disso, é como afirma Saint Éxupery em seu livro “O pequeno príncipe”: “Te tornas eternamente responsável, por aquilo que cativas”.
No meu caso, primeiro um menino, nasce o primogênito, onze anos depois, uma menina. Na convivência do pai com sua filha ou do menino com a mãe, há o reconhecimento do gênero oposto. Através dessas experiências de infância, fundamentamos nossos relacionamentos futuros. As namoradas que vamos ter, serão sempre e inconscientemente comparadas, com a maneira de ser de nossa mãe. Acredito que o mesmo ocorra com a menina, que vai encontrar um rapaz que acha interessante. As semelhanças com o que é familiar, atraem-nos, fazem-nos sentir seguros, bem como o contrário, isto é, padrões estranhos de comportamento provocam nosso afastamento.
Hoje, como não moro mais com minha filha, tive muita dificuldade para resolver o problema da distância física. Contudo, o apóstolo cristão Paulo de Tarso nos ensina que “poderemos trabalhar melhor nossos conflitos não os reprimindo nem os intensificando e, sim, desprendendo-nos, colocando-nos a certa distância mental, emocional dos fatos e das pessoas envolvidas”. Com isso, podemos enxergar melhor o horizonte a nossa volta e tomar uma atitude mais sensata. Na verdade, os afastamentos das pessoas fazem parte do fluxo da vida, como não reconhecemos estas verdades, sofremos a mais por apego. Melhor seria aceitar o inevitável e valorizar a convivência enquanto ela existe, mesmo aquela difícil que também pode ensinar-nos algo. Por tanto, tive que mudar minha forma de ver e de sentir. Até quando nos falávamos ao telefone, eu repetia sobre meu amor a ela. Resolvi que todo o tempo que estivesse com ela, deveria ser o melhor possível; então, passei a falar sempre que a amava muito. Descobri que amamos mesmo na distância, e que este sentimento transcende qualquer dificuldade. O amor desinteressado tem uma força enorme, porque ele é incondicional. Sem perceber, recebemos os sinais de reciprocidade e de afeição.
Hoje, quando ela se aproxima e coloca os braços ao redor de meu pescoço, consigo perceber na sua serena maneira de sorrir, que ela já sabe que é amada.
André Tubino
Professor do curso de Eletrotécnica da Fundação Liberato