O professor e o resgate do indivíduo no social

Não existe mais lugar para o isolamento de gênios numa redoma de vidro refratária, como acontecia há não tantos anos atrás. A genialidade está cada vez mais desmistificada no sistema social, não se tem mais tempo e o espaço não é mais privado que permita esconder ou amadurecer os descobrimentos, pois estes já nascem rompendo todas as fases que antes cumpriam.

O desafio do atendimento às necessidades e desejos sociais gerou uma revolução fantástica através das inventividades, que superaram expectativas; aceleradas numa aerodinâmica que, por fim, nem surpreende mais, tamanhas as possibilidades criadas, ou seja, ilimitáveis, e que foram provadas em poucas décadas pelas invenções geradas.

Com a comunicação direta, as soluções apresentam-se mais rapidamente ainda, assim como proporcionalmente os problemas. Foi-se o tempo da espionagem mercadológica, feita num clima hermético, enriquecida na imaginação de uma outra época; atualmente, os segredos são divulgados na internet, através de acessos inescrupulosos a informações e dados que seriam, a princípio, eticamente privados.

O ambiente social em geral que comporta o panorama de vidas de uma determinada época seja ela qual for, é formado pela somatória do individual na composição do coletivo. As pessoas influenciam-se profundamente e conformam as tendências, como um córrego que,  penetrando, arrasta um pouco dos que compõem o seu trajeto, reproduzindo-se ciclicamente numa outra identidade, coletiva, consistente de todos e soberana.

As bruxas, perseguidas injustamente em épocas remotas, hoje aparecem criadas além de um imaginário paranoico, realmente soltas numa performance gigantesca e assustadora, impelindo dinamismo maior na criatividade competitiva da conquista dos espaços.

Atualmente, não se consegue assegurar a valorização da ética, já que as fronteiras individuais são usurpadas e divulgadas para o coletivo. A privacidade é quase que impossível nesse novo brinquedo virtual. As cartas, que tínhamos como príncípio básico não abrir, jorram na internet, como calcinhas, abertas a um público sedento de coisas novas, alheias e breves. Não existem limites, e a autorização é coisa do passado só porque se conhece uma forma de burlar o privado. A experimentação na curiosidade, estimulada pelo virtual, não impõe limites geográficos e de alcance. Por outro lado, não se sustentam por tanto tempo as relações mercantis desonestas. Hoje a deflagração acontece na mesma velocidade em que se instalam. Casos de polícia! E esta ainda não oferece uma segurança ideal, mas está cada vez melhor em termos fiscais e de esforços para a caracterização de uma cidadania digna.

Inegável que há um movimento de resgate ou construção da dignidade civil que levará tempo para se subestabelecer, mas que aponta cercas de proteção e direcionamento, oportunizadas pelo caos formado. A solução continua, como sempre, na educação. E a educação se faz através de limites orientadores; não existe forma de educar sem convicções, mas, para que a educação seja sustentada permanentemente, é necessário reavaliar os valores contidos no ser de cada um e que são jogados e firmados numa sociedade em que tudo é possível.

O isolamento social está delimitado pelas agressões e defesas. A ação ofensiva isola os grupos na defensiva, o que complica as relações em geral. Pagar-se-á em moeda e na vida por essa situação narcisística e de interesses capitalistas imediatos. Forma-se um coletivo social carente, enfraquecido e perdido do caminho da segurança civil, da segurança ética e da segurança de um viver digno.

Com a intenção sistemática de minimizar forças, o sistema social atual dissemina a alienação e a desinformação através de meios subliminares de ensinamentos forjados como verdades. Os circuitos de comunicação detêm, sem proporção medida, um poder de influência relevante quando abastecem a população de decisões prontas que deveriam ser processadas individualmente. Em contrapartida, o indivíduo que procura modelos e respostas no público para o que é trajetória privada, como valores, por exemplo, morde a isca. O alheio, atualmente, apresenta grande atrativo oferecendo distração para quem foge da responsabilidade da construção própria de ser e pensar.

A exemplo desse contexto, a docência sofre retaliações em sua valorização profissional, o que impugna uma situação sócio-econômico-financeira ideal, merecida. O que é uma das razões do encolhimento que acontece nessa categoria de profissionais, quando não percebem muitas vezes suas forças, capazes de modificar um futuro, ao lidar com as massas. Não conseguem também enxergar a profissão que exercem como principal formadora de outras profissões e sua influência na formação de pessoas, por causa das opressões sofridas.

Urge um contraponto educacional firme e forte que apresente pontos de vista menos prejudiciais ao coletivo, alternativas de escolhas mais saudáveis. Urge uma educação que faça viva voz a reavaliações individuais, exercícios do pensar para fortalecimento da propriedade individual e igual agilidade e proporção do que se apresenta como modernidade: o encabeçamento massivo de opiniões. Urge o professor enxergar seu valor para criar barreiras de contenção a esse córrego já tão poluído. A educação é silenciosa e age na contemplação; por isso, urge uma convicção e estima própria do ser professor, independente das forças opostas. Seja o professor um condutor de estimas e bom senso.

O professor é um suscitador de autonomias, ele não poderá ensinar permanentemente se não preparar seu aluno para analisar, criticar pensar e discernir. Essa propriedade, adquirida e estimulada na escola, torna o indivíduo menos manipulável e mais responsável pelas suas escolhas.

O professor não conseguirá modificar o caráter das pessoas, mas ele conseguirá auxiliar no alerta dos indivíduos para suas próprias forças quando despertar a sua!

eva sabbado

Eva Sabbado
Funcionária da Fundação Liberato

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *