Quando estudante de Física, uma das atividades de que mais gostava era a de monitor do Laboratório de Estrutura da Matéria. Lá eu preparava as práticas de Física Nuclear. Uma delas se ocupava da Lei do Decaimento Radiativo. Normalmente, os elementos radiativos levam muitos anos para terem sua atividade reduzida à metade, tempo que chamamos de meia-vida. Para o aprendizado dessa lei, é necessário que esse tempo seja pequeno, preferencialmente, de alguns minutos, pois acontecendo isso, poderemos medir, com um contador Geiger-Müller, a emissão de partículas alfa (α – núcleos de hélio) ou beta(β – elétrons e e+ – pósitrons, o elétron positivo) e a radiação gama (γ – radiação eletromagnética).
Há uma maneira de se fazer isso: bombardeando um pedaço de prata com nêutrons (partícula sem carga elétrica) lentos. A prata absorve um desses nêutrons e se torna instável, emitindo elétrons (β), pósitrons (e+) e radiação gama (γ), que são detectados pelo contador Geiger-Müller. A meia-vida desse novo isótopo (prata) é de cerca de dois minutos e meio, tempo suficiente para descrever, com os dados coletados das contagens, a Lei do decaimento Radiativo. Durante muito tempo trabalhei com isso, inclusive montando novos experimentos.
Em 1999, contraí uma leucemia e quase morri. O laboratório de Estrutura da Matéria voltou imediatamente à minha mente: será que tem a ver uma coisa com a outra? A resposta para essa pergunta, eu não tenho, uma resposta seria apenas especulação, o que não ocorre com relação à pergunta do título do texto. Me sinto habilitado mais do que a maioria das pessoas que escrevem sobre o tema, pois tenho um mínimo de experiência e conhecimento do assunto.
A energia nuclear é, sim, uma boa opção, principalmente para aqueles países onde os rios são escassos ou sem grandes possibilidades de gerar grandes quedas d’água, para movimentar turbinas. Além disso, não é viável utilizar a principal fonte de receita de um país para gerar energia, como é o caso do Irã, podendo a mesma ser gerada através de energia nuclear.
A agressão ao meio ambiente na geração de energia utilizando-se a fissão nuclear se dá, quase que exclusivamente, devido aos resíduos (lixo nuclear) oriundos do núcleo do reator. Esse lixo é empacotado e armazenado em subterrâneos e deve ficar ali por séculos, até que a atividade da radiação diminua. O impacto ambiental, portanto, de uma usina nuclear em atividade normal, não ultrapassará o raio de uns 3km em torno da usina.
A geração através da fissão não depende das condições do tempo, portanto, é extremamente estável. A relação custo/benefício é alta. Para exemplificar: se compararmos a usina Angra II com o parque eólico de Osório, verificaremos que, enquanto Angra II gera 1.300 MW (potência nominal),todo o parque eólico de Osório gera 150 MW (potência nominal, supondo que haja vento para isso e que todos os geradores estejam em funcionamento, considerando que cada gerador tem potência nominal de 2.000 KW ou 2 MW),isto é, teríamos que ter no local cerca de 650 turbinas eólicas a pleno vento para que as potências nominais se igualassem. Convém lembrar, ainda, que cada gerador eólico tem um tempo de vida útil de 11 anos contra 60 de uma usina nuclear.
Ao compararmos uma usina nuclear a uma usina térmica, cujo combustível é fóssil (óleo ou carvão mineral), veremos que, ao longo dos anos, a poluição, tanto térmica como do ambiente, tendo em vista a emissão contínua de gases, é muito maior nesta modalidade do que na geração por fissão. Soma-se a isso o fato de que o combustível fóssil pode ter uso mais interessante do que simplesmente ser queimado para gerar eletricidade.
A geração através de hidroelétricas apresenta, também, sérios problemas. As grandes usinas modificam o clima na região dos lagos, alterando o comportamento da fauna e da flora. Descobre-se agora que, em alguns casos, a emissão de gás metano é acima do normal, tendo em vista o apodrecimento de material orgânico no fundo dos lagos.
Quando fazia a prática da Lei do Decaimento Radiativo, era necessário antes, um treinamento. Tudo era muito precário. O Contador era eletromecânico. Era necessário “acertar” a prata, pendurada em um barbante no tubo Geiger Muller. A prática continua sendo feita nos Institutos de Física de forma automática e segura. O aluno e o professor não têm mais o contato direto com o material. A técnica e a Ciência evoluíram, configurando uma segurança muito melhor atualmente.
Hoje é inconcebível um acidente como o que ocorreu em Chernobyl. A tecnologia e o conceito na construção das usinas nucleares se alteraram enormemente, e é por isso que muitos países como a Alemanha, que deixariam de construir novas usinas e desativariam as já existentes no final de suas vidas úteis, reveem seus planos.
Finalmente, se me perguntassem se deveria haver investimento em usinas nucleares no Brasil, hesitaria em dar uma resposta, pois aqui temos à disposição várias outras fontes de energia. Antes mesmo de se investir em qualquer que seja essa fonte, seria necessário estudar e tomar consciência em usar as já existentes de forma mais racional. No entanto, se fosse um iraniano, minha resposta seria imediata e firme: sim!
Prof. Irineu Alfredo Ronconi Junior
Prof. da Fundação Liberato, Licenciado em Física