ENTREVISTAS: Felipe Menezes E Mariana Ritter Rau

14-entrevistas

 

Felipe menezes

O Professor e Mestre Felipe Morais Menezes é Fundador da WTF! School, uma escola livre com foco em experiências transformadoras. Engenheiro, empreendedor, entusiasta de futurismo tem graduação em Engenharia de Produção Mecânica e Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas. Nesta entrevista, Felipe nos conta um pouco sobre a sua visão em relação ao formato de aprendizado e o modelo de escola ideal. Felipe acredita que pode mudar o mundo através da educação e pensa que o aprendizado baseado na experimentação poderá ser o caminho para essa mudança.

José de Souza
Professor do Curso de Mecânica
Fundação Liberato

Aprender não é somente responsabilidade do ensino formal. Deve-se dar em vários contextos ao longo da vida, e as escolas livres são uma dessas formas de estimular o aprendizado.

entrevistas-03

1) No seu entendimento, qual é a contribuição de experimentos e práticas em relação ao aprendizado de crianças e jovens? Qual é a importância da metodologia e da experimentação científica na formação para a vida?

Penso que há, pelo menos, três formas de aprender. Pode ser através do ensino, recebendo conhecimento de quem já o detém. Pode ser através de estudo em livros, vídeos, e outros materiais. E pode ser através da experiência, que, no meu ponto de vista, é o mais efetivo. Experimentar gera emoção e significado, o que faz com que possamos fixar mais as aprendizagens para a vida.

2) O que é uma escola livre e quais são as experiências que podem transformar os jovens nos dias atuais?

Uma escola livre não segue os critérios estabelecidos por lei que regem as instituições de ensino formais. Creio que as escolas livres podem complementar os conhecimentos e potencializá-los. Aprender não é somente responsabilidade do ensino formal. Deve-se dar em vários contextos ao longo da vida, e as escolas livres são uma dessas formas de estimular o aprendizado. No caso da WTF! School, nosso foco é gerar aprendizagem para desenvolver protagonistas da transformação. Queremos mostrar que todos temos capacidade de mudar aquilo que está errado, que não precisamos depositar nossa expectativa em uma única pessoa, nem aguardar que alguém inicie aquilo que desejamos fazer.

3) Na sua opinião, qual é o modelo adequado, considerando a realidade brasileira de estrutura física e recursos humanos, para escolas públicas adotarem com o intuito de estimular nos jovens o gosto e a paixão pela ciência?

Penso que o importante é ter significado. Penso que é indispensável identificar os interesses dos jovens e direcionar a pesquisa a partir desses interesses. Processo de pesquisa é interdisciplinar, e eles, iniciando nesse universo, o aprofundamento na prática da pesquisa será consequência.


Mariana Ritter Rau

Mariana Ritter Rau tem muito a nos dizer sobre a participação das mulheres na ciência, principalmente quando falamos de um público jovem. Sonhadora e dedicada, empenha-se em ações que buscam a mudança do mundo pela ciência. Mariana luta pela popularização e humanização da ciência através da educação. Biotecnologista, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tem em seu currículo destaque por pesquisas desenvolvidas como bolsista do CNPq. Também recebeu e integrou o top 100 jovens líderes em Biotecnologia da América Latina, conforme o Allbiotech (2018). É Coordenadora do Programa de Iniciação Científica Decola Beta, supervisionando e coordenando jovens cientistas, mentores e estagiários para o desenvolvimento de pesquisas por alunos de ensino fundamental, médio e profissional. Nesta entrevista, Mariana nos fala um pouco sobre o seu ponto de vista e nos estimula a reflexão sobre esse importante tema.

José de Souza
Professor do Curso de Mecânica
Fundação Liberato

Fazer um projeto de ciência ainda na escola pode ser profundamente transformador, para qualquer jovem, especialmente para meninas.

entrevistas-02

 

1) No seu entendimento, qual é a importância dos projetos que estimulam e apoiam a participação de meninas em projetos de ciência e como isso transforma a vida delas?

Projetos que trabalham com o estímulo para a participação de meninas em projetos de ciência servem como um ponto de apoio a mais para elas. Quando algo abalar os demais pontos de apoio, ou mesmo se eles não existirem, as meninas podem encontrar em projetos e programas o impulso necessário para continuar. É o caso do Programa de Iniciação Científica Decola Beta, organizado pelo Cientista Beta e, atualmente, sob minha coordenação: as meninas foram 65% dos jovens cientistas mentorados na turma de 2018.

Fazer um projeto de ciência ainda na escola pode ser profundamente transformador, para qualquer jovem, especialmente para meninas. Desenvolver um projeto pode abrir o seu olhar para possibilidades profissionais que antes não eram consideradas. Por exemplo, experimentar atuar em áreas predominantemente masculinas (como engenharias, ciências da computação, etc). Mas, mais importante do que isso, acredito que a experiência de fazer um projeto é uma forma de reforçar como a jovem percebe os seus talentos, as suas capacidades e a sua vontade de ir além e querer realizar mais. Isso transforma o futuro de meninas.

Algumas meninas, inclusive, se sentem tão conectadas com o assunto, que desenvolvem pesquisas a respeito. Um exemplo que posso citar é o da Laura Souza, jovem cientista mentorada pelo Programa Decola Beta em 2017, que, com o apoio da mentora Natalia Melo, desenvolveu uma pesquisa sobre a percepção de meninas e meninos sobre meninas em STEM – ciências, tecnologia, engenharia e matemática (do inglês science, technology, engineering and mathematics). Laura participou da MOSTRATEC e, no ano seguinte, foi aprovada para concluir o ensino médio em uma escola internacional chamada United World Colleges – UWC, na Noruega.

2) O que pode ser feito para estimular a participação de meninas em projetos de ciência?

As pessoas escolhem carreiras com as quais se identificam, seja pela área de atuação ou por se conectar a exemplos de outras pessoas. Vejo que ainda é pequena a quantidade de meninas cientistas que ganha destaque nos veículos de mídia, e que o aparecimento delas nesses canais serviria como uma possibilidade para que outras meninas possam se identificar com a área científica. É como se, ter um exemplo, servisse como um convite para um caminho mais possível de ser atingido.

A participação das meninas em projetos de ciência também passa pelo apoio de pessoas próximas a ela. Professores, colegas, amigos e família: há um trabalho a ser feito de conscientização da sociedade a respeito da importância de oferecer um ambiente fértil para que essas meninas possam desenvolver as pesquisas que quiserem, conforme o seu interesse. Porque capacidade para desenvolver projetos em ciência todas já tem.

3) Conte-nos um pouquinho sobre a sua experiência como jovem pesquisadora. Como e quando aconteceu a paixão pela ciência?

Na escola, eu sempre gostei muito de Biologia, o que me fez ingressar na faculdade de Biotecnologia na UFRGS. Na faculdade, desenvolvi pesquisa em laboratórios desde o segundo semestre, passando por quatro laboratórios diferentes (na UFRGS e na EMBRAPA). Os temas que mais me atraíam eram aqueles relacionados a bioprocessos. Desenvolvi projetos com bioetanol, com o estudo do potencial de uma molécula produzida por uma planta nativa do sul do Brasil, criei um projeto de produção de biodiesel a partir de resíduos industriais e, por fim, fiz a caracterização de leveduras de parreirais de Santa Catarina. Passava mais tempo em laboratório do que em aula, tinha um sentimento grande de que aquilo que eu estava fazendo era importante para o mundo ou para alguém. Tive dois artigos publicados e quatro prêmios de destaque acadêmico no Salão de Iniciação Científica da UFRGS.

Me formei querendo fazer algo diferente, algo que possibilitasse uma ciência mais universal, acessível e mais parte do dia a dia das pessoas. Hoje trabalho com educação em ciência para possibilitar que jovens tenham suporte ao desenvolver pesquisas ainda na escola. Como coordenadora de projetos no Instituto Cientista Beta, uma das minhas funções é organizar o Programa Decola Beta, em que apoiamos diretamente dezenas de jovens no país todo. Hoje percebo que o que estou fazendo é, sim, tornar a ciência mais acessível para quem quiser desenvolver projetos ainda bem jovem. E me alegro muito em poder transformar histórias de estudantes, entre eles, muitas meninas cientistas no Brasil todo.

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *