Finalmente, em casa. Abro a porta, entro com o pé direito (nunca perco uma superstição). Largo a bolsa e as chaves e arranco o par de tênis All Star amarelos dos meus pés cansados. Vou direto para o banheiro.
Arranco as minhas roupas com a lerdeza de um dia exaustivo e a agilidade de quem não vê a hora de terminar o dia. Deixo que as peças caiam no chão. Ligo o chuveiro; já me sinto mais leve. Coloco o pé para provar a água, arriscando só uma parte do meu corpo. Tudo certo; temperatura boa. Entro.
A água escorre pelo meu corpo e eu paraliso. Começo a perceber o contraste da água doce do chuveiro com a água salgada das minhas lágrimas. Toda a fúria, a ansiedade e a tristeza vão pelo ralo.
Saio do banho, já esquecida da dor. Visto meu roupão mais confortável e começo a minha rotina de todas as noites. Pronta, em casa, e vencedora por mais um dia estar assim.