Considero-me um “técnico em eletrônica” com formação pelo ensino “remoto”.
Minha formação básica foi o chamado Primário; depois, meu primeiro “vestibular”, a seleção para o Ginásio; e, então, o Ginásio. Depois disso, mais uma seleção, seleção para o Científico (havia outras opções: o Técnico, que poderia ser da área do comércio ou da indústria; e o Magistério, que na época era predominantemente feminino). Fiz o curso Científico (equivalente ao Ensino Médio de hoje). Nesse período, tive poucas aulas de laboratório. Algumas aulas práticas de Química, Biologia e Física. Nada de mais. Foi então que ganhei o Kit Engenheiro Eletrônico da Philips (Figura 1). Meu primeiro laboratório e o início do gosto pela eletricidade.
Figura 1- Eng. Eletrônico da Philips
O kit era composto por um livreto explicativo: várias “folhas de circuitos” de montagem (parte branca), colocadas sobre um compensado (marrom). Os componentes vinham junto, e as ligações eram indicadas como mostradas na Figura. Tudo o que era necessário estava ali. Tudo funcionava! Montei rádios receptores, transmissores, medidores de umidade, interfones etc. E o professor? Não tinha, ou era o livreto! Muito simples, sem nenhuma matemática. Mas eu queria aprender mais. Foi então que me matriculei no ensino (“técnico”) remoto da época: Curso de Eletrônica, Rádio e TV do Instituto Universal Brasileiro. As aulas (lições) vinham pelo correio. Eram fascículos em papel jornal (Figura 2).
Figura 2 – Curso de eletrônica por correspondência
Era necessário ler com atenção, fazer as práticas solicitadas e responder aos questionários, que, após respondidos, eram enviados a São Paulo para correção! As dúvidas também. Quando as coisas estavam rápidas, levava umas duas semanas para a resposta da avaliação dos exercícios (ou das dúvidas). Havia práticas, que eram realizadas em casa, para as quais era fornecido um kit de ferramentas (Figura 3).
Figura 3 – Kit de ferramentas
Nessa época, comprei, em uma viagem que fiz à capital (Porto Alegre), meu primeiro multímetro, que tenho (funcionando) até hoje! Lembro que fiz muitas práticas interessantes, aprendi de montão. Uma delas foi um transmissor de AM (Amplitude Modulada), tipo “rabo quente”, com duas válvulas (35W4 e 50C5), semelhante ao mostrado no esquema da Figura 4.
Figura 4 – Transmissor AM valvulado
Havia também um projeto final de curso, que fazia parte do programa do Instituto Universal Brasileiro: montagem de um rádio receptor transistorizado super-heteródino. Com sete transistores!
Todos os componentes e peças da caixa (o gabinete do aparelho era de madeira) que iriam compor o rádio foram enviados pelo correio. Isso foi no final da década de 1960!
Voltei a ser um estudante do ensino “remoto” enquanto fazia o Curso de Engenharia Elétrica. Decidi melhorar meus conhecimentos práticos em eletrônica digital e microprocessadores e, então, novamente fiz um curso por correspondência pela CEDM (Figura 5), uma vez que as práticas da área eram muito ruins na faculdade.
Figura 5 – Curso de eletrônica digital e microprocessadores
O microprocessador era o Z80. Já havia protoboard e placas mais específicas.
Fui professor de microprocessadores na Liberato. Orientei um trabalho na área. Fomos para Fort Worth Texas (ali, do lado de Dallas) na Intel ISEF. Cheguei, até, a desenvolver uma apostila para os alunos sobre esse tema (Figura 6).
Figura 6 – Capa do manual
Figura 7 – Simulador do Z80 com o antigo sistema DOS
Para aprender, é preciso ter curiosidade e prazer em descobrir. É isso. Rainha do Mar, 28.06.2021