Se você não conhece a história, então você não sabe de nada.
Michael Crichton
Maria Emília Lubian
Professora de Língua Portuguesa e Literatura
Iniciar o estudo da Literatura, ou trazê-la para perto dos estudantes, é sempre um desafio, para nós, professores de 1ª série. Alguns estudantes que chegam à escola podem não ter o hábito ou estímulo necessários para apreciar a leitura. Assim, encontrar uma obra que cause um impacto inicial e que se torne a “isca” necessária para a introdução da disciplina no Ensino Médio é a causa de muita reflexão para professores de Língua Portuguesa e Literatura. É preciso mostrar que o mundo dos livros é interessante e que está ali, disponível aos estudantes, para ser explorado.
A gurizada hoje está muito conectada com as obras audiovisuais, por isso a estratégia adotada foi a sugestão do estudo de história em quadrinhos. Pensando em tema que causasse algum impacto entre os jovens estudantes, foram sugeridas três obras que pudessem remeter aos conflitos mundiais, duas delas autobiográficas: O diário de Anne Frank em quadrinhos (Polonsky e Folman), Maus (Art Spiegelman) e a distopia 1984, adaptada por Nesti. A escolha delas se dá pela questão histórica, no sentido de se trazer a visão de quem vivenciou um dos períodos mais complicados da humanidade, por meio da literatura que presentifica o passado sem deixar de comparar com as ações destrutivas da humanidade no presente.
Ao pensar na linguagem e metalinguagem presentes nas obras, é possível mencionar Maus, em que Spielgeman lança mão de sua experiência como ilustrador e apresenta o processo de produção da sua HQ, considerada como o gênero grafic novel, na qual ele conta como foi gravar o relato de seu pai e juntar os fatos em uma narrativa mais cronológica e organizada, uma vez que muito do que era dito vinha em um fluxo de consciência, comprometido pelos traumas que impactaram Vladek como sobrevivente do holocausto.
Já no Diário de Anne Frank em quadrinhos, lindamente ilustrado por David Polonsky e Ari Folman, os estudantes puderam refletir, a partir do registro de simultâneo de uma adolescente, durante a segunda guerra, sobre a perseguição dos judeus, sobre as perdas de direitos civis e sobre o medo constante da morte.
1984 é uma distopia escrita por George Orwell, transformada em HQ pelo brasileiro Fido Nesti, que retrata um futuro nem tão distante à contemporaneidade de Orwell e que pode deixar de ser ficção. É mais uma obra que grita pela tomada de consciência da humanidade.
As HQ´s foram acolhidas pelos estudantes, que demonstraram interesse na leitura, o que traz maior conforto para quem precisa estimular o gosto pela leitura. Como exemplificação do resultado das leituras, das pesquisas e das discussões sobre as obras, trazemos alguns relatos dos estudantes:
1984 é um exemplo da importância da busca da verdade: a manipulação através da história é de fazer qualquer pessoa do passado se surpreender, mas totalmente plausível para nós, contemporâneos. O quão distorcida e retorcida ela se torna para conceder às vontades daqueles que apenas querem ter o poder de controlar – que estão no topo da hierarquia social. Não dê tolerância a quem não tolera.
Kauã Marcelino Dalbão – 4124
1984: é preciso aprender a ter consciência e defender suas crenças ao perceber quando algo está errado.
Heitor Gomes Fogliatto e Pedro Henrique Manquevich – 2111
Maus: a real empatia é entender o fato de que você não pode realmente se colocar no lugar do outro se você não passou por algo parecido, então é preciso entender os privilégios que temos – como de viver em paz – para reconhecer o sofrimento de quem viveu a guerra.
Vinicius Stoffel e Maria Luiza Dotta Unamuzaga – 4123
A relevância de Maus para a formação da consciência humana é o conhecimento que devemos ter sobre o que acontece dentro dos campos de concentração e como isso ainda afeta as pessoas pelo mundo.
Arthur Colombo e Arthur Garcia – 2112
O diário é uma obra que mostra, a partir dos olhos de uma garotinha, toda a crueldade dos nazistas. Sentimos nojo e tristeza ao vivenciar, pela leitura, tudo o que Anne e sua família passaram. É desumano pensar que existe uma “raça” superior a outra. É cruel demais pensar em discriminar pela cor da pele, sexualidade e religião. Como uma guerra pôde tentar acabar com uma etnia inteira?
Kiefer Willig Mayer e Vinícius Souza dos Santos – 2111